Em fevereiro passado, a GSMA, o governo brasileiro e as quatro grandes operadoras em atuação no País anunciaram durante o Mobile World Congress (MWC) a adoção de uma ferramenta de combate ao spam por SMS. A solução é composta por um número curto (7726), para que os usuários encaminhem os spams que receberem, e por uma plataforma de análise das denúncias, que são categorizadas e avaliadas automaticamente, gerando relatórios que podem auxiliar as teles no bloqueio das linhas que estão enviando as mensagens indesejadas. Passados cinco meses, o uso desse canal ainda não decolou: apenas 3 mil denúncias são feitas por mês via 7726 no Brasil. Em outros países que adotaram a mesma solução, como os EUA, são recebidas dezenas de milhares de denúncias por mês.

Para fontes do mercado, a explicação para o 7726 ainda não ter decolado no Brasil é o desconhecimento por parte do grande público. Não foi feita nenhuma campanha de divulgação em mídia de massa. E a única operadora que promove o canal em seu site é a Vivo, ainda assim de maneira tímida. A Oi informa que divulgou a solução internamente, junto a seus funcionários, e que planeja promovê-lo aos assinantes através de seus canais próprios no futuro. A TIM aguarda um alinhamento com o SindiTelebrasil para a divulgação. E a Claro afirma que a plataforma ainda está em testes. O SindiTelebrasil, entidade que representa as operadoras, diz que o projeto está em fase de coleta de dados e que ainda não está decidido que tratamento estes receberão.

Outro caminho para a população denunciar o spam por SMS é através do site SMS Pirata, criado e mantido por integradores de SMS homologados pelas teles, junto com o MEF-LatAm, associação que os representa. Através desse site são recebidas cerca de 4 mil denúncias por mês. Desse total, 80% dizem respeito a tentativas de fraude por SMS e 20% são de campanhas de mobile marketing que não pediram autorização dos consumidores para o envio de mensagens.

Faltam números para dimensionar o tamanho do problema no Brasil. Nos EUA, o spam responde por uma fatia entre 2% e 5% do total de mensagens de texto enviadas. Há quem estime que esse volume seria bem maior no Brasil, na casa de 20%. Rafael Pellon, diretor geral do MEF-LatAm, estima que seja perto de 50%, considerando todo o mercado de SMS pirata (mensagens enviadas através de chipeiras por integradores não homologados). "Com as eleições deste ano, existe o risco de essa proporção aumentar ainda mais", alerta Pellon. Vale lembrar que as operadoras têm se movimentado para regularizar o SMS eleitoral, estabelecendo regras que evitem o spam. O 7726 poderia ser um canal útil para que sejam identificados os candidatos que desobedecerem a legislação eleitoral.

7726 no exterior

Austrália, EUA, Inglaterra e Brasil são os únicos mercados em que todas as operadoras aderiram à mesma solução antispam por SMS com o número curto comum, o 7726. A ferramenta foi adotada também por operadoras isoladas em outros países. Nos EUA, a primeira a aderir foi a AT&T, três anos atrás. A operadora chegou a bloquear sozinha uma média de 2 mil números telefônicos por dia. Seu combate fez com que os spammers migrassem para as outras teles. Então, estas também adotaram o 7726 e passaram a trocar informações sobre o problema com a AT&T. Depois disso, o volume de spam caiu drasticamente nos EUA.

Enquanto isso, em outros mercados onde as operadoras não adotaram mecanismos comuns para enfrentar a questão, o spam por SMS avança. A China é o exemplo mais emblemático. "Lá está acontecendo uma explosão de spam por SMS. Cada pessoa recebe em média 30 mensagens por dia de spam. É terrível", relata Ronaldo Venci, vice-presidente de vendas para América Latina da Cloudmark, fornecedora da solução do 7726.

É preciso tomar cuidado para que não aconteça com o SMS o que houve com o email. "98% dos emails que chegam nas caixas postais são bloqueados por serem spams. A gente recebe apenas entre 1% ou 2% do que deveria receber. E quando passa um email suspeito, a pessoa nem abre. Mas no SMS nós abrimos, porque geralmente vem de pessoas que conhecemos" comenta Venci.

A solução de análise de denúncias de spam usada no Brasil, EUA, Austrália e Inglaterra foi criada pela Cloudmark. A iniciativa com o uso do número curto 7726 (que escreve a palavra "spam" no teclado do celular) é apoiada internacionalmente pela GSMA. No Brasil, a integradora de SMS escolhida pela Cloudmark para gerenciar o serviço é a TWW. A ABR Telecom recebe os dados consolidados das denúncias, enquanto cada operadora recebe individualmente relatórios referentes às denúncias realizadas pelos seus assinantes.