O desafio para a popularização dos dispositivos vestíveis (ou, na expressão em inglês, "wearable devices") não é apenas de fabricar um produto que atenda às demandas do consumidor, mas de torná-lo interoperável com outros dispositivos, abrindo um ecossistema de aplicações. Iniciativas como a da AllJoyn, da Qualcomm, tentam tratar desse problema. "É um protocolo de comunicação entre wearables, que fazem parte da gama de dispositivos da Internet de tudo" , explicou o diretor de desenvolvimento de negócios para o ecossistema na América Latina da empresa, Dário Dal Piaz, durante o o painel de encerramento no 13º Tela Viva Móvel nesta quinta, 22.

Ele justifica que é necessário promover essa conversa entre produtos de diferentes marcas, já que o interesse do consumidor pode ser difuso. "O próprio usuário vai pressionar por uma compatibilidade de apps e protocolos", prevê. A Qualcomm vende um smartwatch, o Toq, com a finalidade de servir como modelo para a indústria, com características como bateria durável, visualização da tela à luz do dia e capacidade de ficar sempre ligado.

Na visão do gerente de produto da Sony, Joe Takata, a questão também envolve o Big Data. "Temos excesso de informação, e o desafio será criar algoritmos para fazer com que esses dados fiquem úteis, além de ter uma interface para usuário para que ele possa ter uma leitura correta, de maneira fácil e que traga benefício", conclui. "A oportunidade para as empresas é desenvolver esse tipo de algoritmo."

Futuro

O fundador do Iaí?, Lucas Longo,  também chama atenção para a necessidade de facilitar criação de um ecossistema de aplicativos. "Desenvolver para um sensor específico é complicado porque você sabe que o fabricante de hardware vai fazer app  próprio com um budget muito maior", diz. Ele acredita que um fator para ajudar a popularização seria o fim da dependência do smartphone. "Quando o Fuelband (pulseira da Nike) não precisar mais de sincronização, ele vai usar o Cloud sem depender de smartphone e talvez a coisa massifique mais ainda", prevê Longo.

O vice-presidente de tecnologia do Banco do Brasil, Geraldo Dezena, acha que o brasileiro se mostra cada vez mais disposto a adotar novas tecnologias. "Acho que o tempo (de adaptação) vem diminuindo. Se analisar a adoção aos primeiros terminais de atendimento (ATM) desde o início, hoje a velocidade de absorção é muito maior", declara. A visão do banco é que os dispositivos vestíveis precisarão ter acesso onipresente, estarem em ambientes inteligentes e possuírem conectividade semântica, isto é, consciente do contexto de uso. "Ainda temos uma grande evolução pela frente para trazer a tecnologia de forma transparente, para usar de forma mais intuitiva", diz, exemplificando com o relato de desconforto ao usar o óculos inteligente Google Glass.

Saúde

Entre futuras aplicações para wearables, Dezena cita o uso de APIs de sensores de saúde para reunir dados para precificar seguro de vida baseado no comportamento do cliente. Para Dário Dal Paz, da Qualcomm, a oportunidade é de usar esses mesmos dados para melhorar o diagnóstico médico. "O exame de laboratório é um dado seco, a medição que você faz tem variações muito pequenas e tem toda capacidade estatística que você acaba não pegando. Com o wearable você consegue", diz.

Sócio-fundador da Takenet e Minutrade, além de entusiasta da tecnologia vestível, Marcelo Costa lembra que há rumores sobre a entrada da Apple nesse mercado com o suposto aplicativo Healthbook, que reuniria informações de saúde no futuro iPhone 6. "Tem cachorro grande chegando e novas empresas estão surgindo para ter comunicação na parte de software, estabelecendo um padrão que vai facilitar a criação de novos apps", diz. Costa torce para que isso se concretize: ele usa diariamente, apenas para atividades corriqueiras, seis pulseiras com sensores, sem contar os wearables específicos para atividades físicas.