Empréstimos consignados são aqueles descontados diretamente do salário do consumidor, a partir de uma integração entre a instituição financeira e a folha de pagamento do empregador. Uma das maiores companhias desse mercado no Brasil é a Zetra, que se posiciona como uma integradora, fazendo a ponte entre instituições financeiras e os sistemas de folha de pagamento de grandes empresas. A Zetra está conectada hoje a 330 empresas no País, que somam 3,5 milhões de funcionários, e a 51 bancos e 80 instituições financeiras. Ao todo, contabiliza atualmente R$ 80 bilhões a serem pagos em empréstimos consignados, montante que cresce entre 5% e 8% ao ano. Do total de empréstimos, aproximadamente 30% são contratados por meio de dispositivos móveis através de apps integrados aos sistemas da Zetra.

Em geral, os bancos brasileiros praticam juros altos para empréstimos a pessoas que não são seus clientes, por causa do custo de traçar um score de crédito confiável e do risco implicado em não tê-lo. Há uma proporção significativa da população brasileira que não tem conta em banco ou que é mal servida de serviços financeiros, mesmo estando empregada. O empréstimo consignado, porém, garante um risco menor para a instituição financeira, já que o consumidor tem um emprego e as parcelas serão descontadas diretamente do salário.

“A maioria das pessoas que não têm acesso a uma conta bancária ou que é ‘underbanked’ pode até não ser um cliente ‘prime’ mas tem um emprego. Resolvemos nos apoiar na relação que a pessoa tem com seu empregador para que ela possa ter acesso a produtos financeiros melhores”, explica Delber Lage, CEO da SalaryFits, marca que a Zetra adota em sua operação no exterior, sobre a qual esta matéria tratará mais adiante.

Modelo de negócios

Para as grandes empresas que se integram ao sistema da Zetra, o benefício consiste em disponibilizar para seus funcionários o acesso a serviços financeiros com condições melhores que a média do mercado. Para os bancos, por sua vez, a vantagem está em não ter custos de integração com os sistemas de folha de pagamento, trabalho executado pela Zetra. É o empregador quem escolha quais serviços financeiros e de quais instituições serão disponibilizados a seus funcionários, o que pode ser feito por meio de um site na web ou um app próprio da empresa que inclua essa funcionalidade, desenvolvida pela Zetra. Ao banco cabe definir as taxas e condições para os produtos ofertadas aos funcionários de cada empresa. Os juros praticados nos empréstimos consignados feitos pelos bancos parceiros da Zetra ficam entre 1,8% e 2,2% ao mês, dependendo do perfil do consumidor, o que está abaixo da média do mercado de consignados, que gira em torno de 3,5%. A Zetra fica com um pequeno percentual sobre o que é pago de juros. “O empregado nem sabe da gente (Zetra). Somos como o ‘Intel inside’ dos computadores. Ficamos só no backend”, compara Lage.

Internacional

A Zetra também está presente no exterior, onde atua com a marca SalaryFits. A empresa opera no México, no Reino Unido, em Portugal e está começando agora na Itália e na Índia.

O México é seu segundo maior mercado: a empresa está conectada a oito grandes empregadores que somam 700 mil funcionários e US$ 3 bilhões de empréstimos a serem pagos.

Mas a menina dos olhos da empresa no momento é a Itália. Lá, há grande potencial de crescimento com a transformação digital do mercado de empréstimos consignados, cujos processos atualmente são feitos em papel, podendo levar de quatro a seis semanas para serem concluídos. Na Itália, a SalaryFits se aliou a uma empresa chamada Fabrick, que aproveitou a legislação europeia de open banking para construir uma espécie de hub com APIs conectados a vários bancos. Assim, a SalaryFits consegue fazer mais facilmente a ponte entre instituições financeiras e empresas italianas para a concessão de empréstimos consignados. “Estamos testando agora na Itália. O serviço deve estar maduro dentro 18 a 24 meses”, prevê. A ideia é baixar o prazo de concessão do consignado na Itália para algo entre dois a três dias.