Com a possível venda da Telecom Italia, como ficará a TIM Brasil? Alguns especialistas acreditam que a operadora brasileira permanecerá como está. Outros analisam que o fundo de investimento norte-americano KKR, interessado na aquisição da companhia italiana, caso concretize a compra, dispense os ativos brasileiros. É como imagina Ari Lopes, gerente sênior de pesquisa da Omdia. “É pura especulação minha, mas, em um cenário de aceleração do uso de fibra na Itália, faria mais sentido para eles venderem os ativos no Brasil. Apesar de ser uma operação redonda e que contribui para o grupo de forma consistente. Seria natural que, com o tempo, eles avaliassem e, em uma estratégia, focassem na Europa e procurassem um comprador para a TIM Brasil”, resume o analista.

Uma segunda fonte ouvida por Mobile Time, que preferiu não se identificar, acredita que essa provável venda, que também já foi projetada pelo BTG Pactual, não será possível por alguns motivos. O primeiro deles é uma questão simples: quem compraria a TIM Brasil? Uma empresa em solo nacional teria saúde financeira para isso? Um arranjo à la Oi – com Vivo e Claro adquirindo-a – seria, em termos regulatórios, inviável.

Ou uma empresa de fora compraria a TIM Brasil? Neste caso, quem se aventuraria entrar em um mercado novo, com regras diferentes e com bastante concorrência – ainda mais com as regionais se aventurando em oferecer fibra casada ao serviço móvel?

“Não vejo um candidato natural para essa transação. Especialmente por causa da questão regulatória. Não vejo um deal onde a competição no segmento de telecomunicações caísse de três empresas para duas (caso as duas maiores do mercado, Claro e Vivo, adquirissem a TIM). Anatel e Cade não deixarão isso acontecer. Teria que buscar um terceiro (player) para entrar num mercado já bastante competitivo, e que voltará a ser um mercado de quatro players”, diz a fonte.

“O que sempre afastou os investidores de fora para entrar no Brasil é entender quais são as sinergias. Se não tem uma outra operação, como gerar valor a partir dessa transação? Neste caso, vou tirar toda a questão de capital de baixo custo que os fundos (como o KKR) têm acesso. E tem a operação em si: como gerar valor com a TIM? Existem alavancas com as quais se pode atuar, mas talvez precise buscar alguém de fora. Os ISPs? Muito difícil de se materializar. Não têm punch para isso”, completa a fonte.

Virgilio Lage, especialista da Valor Investimento, corrobora com essa opinião  –de que não deve haver venda da TIM Brasil – porque a empresa é sólida e a tecnologia móvel é peça fundamental para a indústria 5.0.

“Os fundos como um todo, não só o KKR, entendem que a dominância no mercado global de tecnologia de comunicações móveis é que vai mover a próxima tecnologia em relação à revolução industrial 5.0. Ou seja, quem tem o controle das telecomunicações tem um acesso maior de Internet e acesso ao público. Então, por isso, o grande interesse na TIM Brasil. Não só KKR, como também Elon Musk. Inclusive, teve até uma visita dele recentemente ao Brasil na região da Amazônia para tentar levar Internet à região. A tecnologia móvel será a próxima peça de ouro para se ter acesso a um grande número de leads e grande número de consumidores”, resume Lage.

O especialista estima que o acordo entre KKR e Telecom Italia poderá ser finalizado entre três e seis meses, caso não haja questões regulatórias e burocráticas a serem resolvidas. “Mas, caso tenha muita burocracia na questão de regulamentação, aí demora bastante e o mercado pode entender como algo negativo. O que será o vetor da situação será a questão de regulamentação e a parte referente ao valor de venda. Mas, com burocracia, pode levar de um a dois anos”, acredita.

Bolsa

As ações da Telecom Italia amanheceram em alta nesta segunda-feira, 22, por conta do anúncio. Se, na sexta-feira 19, eles encerraram o dia a 0,35 euros, hoje, começaram a valer 0,43 euros e estão sendo vendidos a 0,45 euros. No fim, houve um aumento de 28,6% das ações.

No Brasil, a TIM, que é controlada pela Telecom Italia, também amanheceu com seus papéis em alta. Na sexta, o valor encerrado foi de R$ 13,48 e, no início do dia chegou a R$ 14,78. Mas, no fim do dia, o valor caiu para R$ 13,71, mantendo a tendência em alta, mas de 1,70% na comparação com o início do pregão.