O que azeite de oliva e mensagens de texto têm em comum? A resposta é a pequena cidade croata de Vodnjan. Com apenas 3,5 mil habitantes e a duas horas de carro da capital Zagreb, a economia de Vodnjan é marcada por esses dois produtos. A fabricação de azeite de oliva tem séculos de história e aproveita o clima mediterrâneo da região, que contribuiu para que alguns produtores locais ganhassem prêmios internacionais. A atuação em mensagens de texto é mais recente, tem pouco mais de uma década, mas vem conquistando importância a cada ano. A responsável por colocar Vodnjan no mapa mundial do mercado de mensagens de texto é a Infobip: a empresa fatura US$ 430 milhões por ano, tem 1,2 mil funcionários espalhados por 44 países, e mantém sua sede na referida cidade, onde mora seu CEO e cofundador, Silvio Kutic. Aliás, ele instalou recentemente um campus de pesquisa e desenvolvimento em Vodnjan, batizado como Pangea, a apenas 200 metros da sua casa. O executivo esteve no Brasil esta semana para conhecer o novo escritório da Infobip em São Paulo e concedeu entrevista exclusiva para Mobile Time, junto com Yuri Fiaschi, diretor de vendas para a América Latina da companhia.

Mobile Time – Qual é o tamanho da Infobip hoje?

Silvio Kutic – Temos uma receita anual de US$ 430 milhões e um volume de 80 bilhões de transações por ano, ou cerca de 7 bilhões por mês, somando SMS, voz, email etc. 87% da nossa receita ainda vêm do SMS, mas estamos expandindo para outros canais. Hoje temos 270 mil clientes e estamos conectados a 450 operadoras. É um pouco mais da metade do total de teles no mundo. Temos 1,2 mil funcionários espalhados por 56 escritórios em 44 países.

Em quais outros canais estão investindo?

Estamos conectados ao Viber, que é o principal mensageiro nas Filipinas e em outros países. E também estamos no Telegram e no WeChat. E vamos estar com WhatsApp, que deve abrir nos próximos meses e será um “game changer” para as operadoras. Para os nossos clientes, quanto mais canais tivermos, melhor. Nossa proposta é oferecer uma interação sem amarras entre companhias e pessoas, independentemente do canal.

Como espera que seja o modelo de negócios para mensagens A2P dentro desses apps de mensageria? Continuará sendo de cobrança por mensagem, como acontece hoje no SMS?

Bom, as mensagens não podem ser de graça. Senão, spams e o envio de informações pouco relevantes ganharão força. Mas o preço tem que ser baixo. No RCS se discute se a cobrança será por mensagem, ou por usuário, ou por sessão.

Mas qual modelo seria melhor para vocês?

O melhor seria haver flexibilidade, dependendo do caso de uso. Cobrar por mensagem pode não ser comercialmente viável para alguns clientes. Para muitos, talvez seja melhor cobrar por usuário ativo mensal (MAUs) ou por sessão.

Há muito tempo se fala que o SMS vai morrer, mas ele segue vivo. Você acha que o SMS vai morrer?

Claro que o SMS vai morrer um dia, como tudo na vida. Começamos a nos preparar para isso cinco anos atrás. Mas agora vemos que o SMS continuará sendo usado por pelo menos mais uns 10 anos. Aliás, estima-se que o mercado de SMS A2P (Application to Peer) seguirá crescendo 10% ao ano ao longo dos próximos cinco anos no mundo, mesmo em países desenvolvidos, como EUA e Reino Unido. Enquanto o tráfego P2P está caindo, o A2P cresce muito. É uma forma de as operadoras recuperarem a receita que perderam no P2P.

Qual aplicação está puxando a demanda do SMS A2P no mundo?

A autenticação em dois fatores para aplicações digitais. A demanda por parte do mundo online está bombando. O SMS é uma forma de garantir a autenticação através de um segundo canal não IP. Hoje, essa aplicação responde por 30% da nossa receita.

Além disso, também estamos apostando em soluções de voz, como a anonimização da comunicação dentro de aplicativos, para evitar a desintermediação em marketplaces.

Silvio Kutic e Yuri Fiaschi, com o mapa mundi dos escritórios da Infobip ao fundo

Qual é hoje o maior mercado da Infobip em tráfego de SMS?

É a Índia, com 3,5 bilhões de mensagens de texto por mês, cerca de metade do nosso total.

E a China?

WeChat e Xiaomi usam a Infobip no exterior, mas ainda não operamos dentro da China. Estamos esperando a licença do governo local para podermos operar lá. Há algumas restrições, como ter um sócio local com 51% de participação acionária. A China é um mercado de aproximadamente 50 bilhões de mensagens de texto por mês.

Qual a importância estratégica do Brasil para a Infobip?

Somos novos no Brasil. Concorremos com players locais, como Zenvia e Movile. Estamos ganhando market share gradativamente.

Qual é o volume mensal de mensagens da Infobip no Brasil?

Yuri Fiaschi – Cerca de 250 milhões de SMS por mês. Esperamos crescer 50% este ano no Brasil. Procuramos criar novos casos de uso para crescer o bolo. Um exemplo: no ano passado criamos para um banco uma solução de negociação de crédito via SMS, do começo ao fim, sem precisar de telefonista. É um produto criado no Brasil e que será levado para outros mercados.

Muitos dos seus concorrentes estão investindo em chatbots para se diferenciarem. Quais os planos da Infobip para bots?

Silvio Kutic – Queremos ver como isso vai evoluir. Por enquanto vamos atuar por meio de parcerias. Também estamos acompanhando a evolução de inteligência artificial e Internet das coisas.