"Nunca houve um momento melhor para ser MVNO". A frase, proferida pelo gerente da consultoria Actel, Claude Achcar, durante sessão na Mobile World Congress nesta quarta-feira, 24, em Barcelona, mostra que o mercado das operadoras móveis virtuais começa a se diversificar e ganhar espaço para inovação, pelo menos no mercado internacional. As empresas investem não apenas em serviço semelhante ao das operadoras tradicionais, mas também em soluções dedicadas a nichos, serviços de conectividade global e plataforma para Internet das Coisas.

Um exemplo de inovação é o da MVNO NewNet, que atua na Holanda e na Polônia. A empresa oferece serviço de voz por Wi-Fi para o consumidor final, mas a aposta está na oferta para comunicação máquina-a-máquina (M2M). "As comunicações pessoais em SMS estão caindo, mas a aplicação em infraestrutura está crescendo com a comunicação M2M, e fazemos tudo isso com SMS", explica o vice-presidente de negócios da operadora virtual, Brent Newsome. O motivo é simples: as mensagens instantâneas são o suficiente para os dados das máquinas, pois podem trafegar em rede 2G e acabam saindo mais baratas.  "Ainda há vida no SMS", declara.

Há também a possibilidade de explorar modelos de negócio não convencionais para teles, mas conhecidos no mundo digital. A FreedomPop International, que atua nos Estados Unidos (onde está o centro de sua operação) e no Reino Unido, oferece conexão no modelo freemium – ou seja, o acesso é gratuito, mas com possibilidade de adicionar mais capacidade comprando pacotes extras de gigabits, por exemplo. O presidente da MVNO, Nicholas Constantinopolous, garante que o modelo é sustentável. "Nossa taxa de conversão é de 48%, e o ARPU é de US$ 15,80 nos Estados Unidos, onde temos um terço da base total no gratuito e o restante com algum produto", declara. No Reino Unido, a taxa de conversão é de cerca de 40%.

MVNO global

Há ambição de tornar as MVNOs globais. É o que planeja o vice-presidente sênior de serviços de cloud e conectividade da Sierra Wireless, Emmanuel Walckenaer. A empresa adquiriu no ano passado três outras operadoras virtuais na França, Suécia e nos EUA, e agora oferece o que chama de "smartSIM", que escolhe dinamicamente a melhor rede disponível. "Isso significa que estamos disponíveis em 129 países, e em muitas redes (de 11 operadoras), é questão de qualidade de serviço: se você não tem conectividade em 12 segundos, o consumidor começa a fugir", explica. Walckenaer diz que o foco da empresa é no mundo da Internet das Coisas, com parcerias com indústria automotiva e de transporte.

Sem surpresa, a abordagem de MVNOs globais não é bem vista pelas MNOs, ou seja, as operadoras tradicionais. O presidente e CEO da área de mobilidade da AT&T, Glenn Lurie, reagiu à ideia em outro painel na conferência no mesmo dia. "Temos operadoras investindo bilhões para atender a demanda (de conectividade), e nós queremos um retorno justo. Se você tem a habilidade de mudar (de operadora) a cada chamada, vai mudar a dinâmica e vai atingir a indústria com um efeito dominó", afirmou. Lurie enxerga o discurso das virtuais como pretensioso. "Nos EUA, quantas MVNOs têm sido bem sucedidas? Uma ou duas, e estão no mercado pré-pago", argumentou. "Se quiser fazer MVNO global, seria muito difícil fazer dinheiro." O executivo acredita em um diálogo para chegar a soluções conjuntas que sejam "boas para todo mundo".

* O jornalista viajou a convite da FS.