O maior prejudicado com a versão final do edital de 5G é o consórcio Iniciativa 5G Brasil, composto por centenas de provedores de Internet do interior do País. Nenhum dos seus três principais pleitos foi atendido pelo conselho diretor da Anatel. O consórcio demandava: 1) a aglutinação das faixas de 700 MHz e 3,5 GHz, para garantir alcance e velocidade para as redes dos provedores, por entenderem que uma faixa sem a outra reduziria a competitividade de sua rede 5G; 2) a possibilidade de atender primeiro metas de cobertura em cidades do interior, onde se encontram suas redes fixas, e depois as grandes cidades, onde os provedores não estão presentes ainda; 3) a garantia do roaming nacional, para que seus assinantes consigam acessar o serviço quando fora de sua área de cobertura. Agora a Iniciativa 5G Brasil aguarda a publicação definitiva do edital para decidir se vai ou não participar do certame.

Sobre a impossibilidade de inverter a ordem de cobertura do 5G, começando pelas cidades do interior, o consórcio comenta, em comunicado enviado à imprensa, que seus estudos indicam que “ao contrário do que pensam os conselheiros desfavoráveis à medida, a decisão praticamente exclui essas empresas (os ISPs) do certame, já que não existe possibilidade de que eles consigam iniciar a implantação a partir das capitais, visto que suas redes estão instaladas justamente no interior do país.”

No seu entender, o edital favorece as grandes operadoras: “A iniciativa entende que o texto aprovado hoje acaba, em suas entrelinhas técnicas, por colocar em vantagem as operadoras de grande porte pois estas já têm operação em pleno funcionamento –, abrindo assim um horizonte de equívocos semelhantes aos já vistos no Brasil quando da chegada das redes 3G e 4G, às quais o interior do país teve acesso tardiamente (ou ainda não teve) em comparação com as capitais”.

Por fim, critica a pressa do governo federal em realizar o leilão: “A Iniciativa 5G Brasil considera que a pressa para aprovação do edital – apesar de todo o esforço de técnicos e conselheiros da agência para a sua célere aprovação – impediu o acerto de detalhes importantes, que serviriam como garantia para a democratização da tecnologia no país. Um fato inédito frente ao 3G e 4G. O documento chegou a ser questionado publicamente por parlamentares, ministros e empresários do setor de telecomunicações, mas, ao que parece, o Ministério das Comunicações está mais preocupado em colocar o leilão na rua o mais rápido possível do que em viabilizar a acessibilidade real, cálculo político que pode custar caro aos empresários brasileiros e também aos usuários, sobretudo ao agronegócio brasileiro.”

Leia abaixo o comunicado da Iniciativa 5G Brasil na íntegra:

A Iniciativa 5G Brasil, consórcio de provedores regionais de internet, lamenta a aprovação pelo Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), nesta sexta (24), do edital para licitação da rede móvel de quinta geração (5G) no Brasil.A versão — repleta de inconsistências técnicas e sem os ajustes significativos e necessários para a democratização da implantação da rede em todo o país e a participação de empresas provedoras de internet brasileiras.

A iniciativa entende que o texto aprovado hoje acaba, em suas entrelinhas técnicas, por colocar em vantagem as operadoras de grande porte – pois estas já têm operação em pleno funcionamento -, abrindo assim um horizonte de equívocos semelhantes aos já vistos no Brasil quando da chegada das redes 3G e 4G, às quais o interior do país teve acesso tardiamente (ou ainda não teve) em comparação com as capitais.

É sabido, conforme inúmeros estudos encomendados por esta Iniciativa junto a empresas e especialistas conceituados do setor e já apresentados e detalhados aos técnicos, conselheiros, e ministros envolvidos no processo, que a opção por não ajustar o texto de forma a viabilizar a participação justa de novos entrantes comprometerá não apenas os provedores regionais, mas também o agronegócio e moradores de mais de 5,5 mil municípios brasileiros – 95% do total.

Lamentavelmente, podemos afirmar que o Governo Federal está, de fato, trazendo um 5G “para inglês ver”, nas palavras do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz.

Desde o início das discussões sobre a implementação do 5G no país, os provedores regionais alertam para equívocos no edital. O primeiro pleito da Iniciativa diz respeito à aglutinação das faixas de 700 MHz e de 3,5 GHz, garantindo assim tanto largura de banda quanto alcance aos possíveis vencedores novos entrantes – pré-requisito para a viabilidade comercial do negócio. O apelo, infelizmente, sequer foi colocado em pauta pelo Conselho Diretor na reunião desta sexta.

O segundo pedido, a garantia do roll out (permissão para implementação da rede também no sentido do interior para as capitais, e não somente o oposto) também foi vetado sem unanimidade, por 3 votos a 2. A alegação dos ministros que votaram contra o roll out, contraditoriamente, foi de que a alteração prejudicaria o acesso dos provedores e provocaria licitação deserta nos lotes regionais. Os estudos da Iniciativa 5G Brasil, no entanto, indicam que – ao contrário do que pensam os conselheiros desfavoráveis à medida – a decisão praticamente exclui essas empresas do certame, já que não existe possibilidade de que eles consigam iniciar a implantação a partir das capitais, visto que suas redes estão instaladas justamente no interior do país.

O terceiro e último pleito diz respeito ao roaming nacional obrigatório, ou exploração comercial das redes. O tema, que também ficou de fora das discussões entre os ministros, poderá, segundo a Anatel, ser regulado por medidas posteriores.

Os três pontos são essenciais e inegociáveis para a competição justa das empresas brasileiras frente às multinacionais e para a garantia de acessibilidade nos quatro cantos do país.

Vale ressaltar que, segundo dados da própria Anatel, os provedores regionais de internet hoje somam mais de 14 mil empresas e estão presentes em 100% dos municípios do Brasil que possuem estrutura de fibra óptica, sendo protagonistas neste modelo de negócios frente às operadoras (responsáveis por 60% desse tipo de acesso no Brasil). Os ajustes, no entanto, foram negados pela agência, sob o argumento de que não haveria tempo hábil para as correções, o que entendemos não ser verdade. Como já dito publicamente por diversos parlamentares e ministros, este edital é uma árvore que já nasce torta, um projeto condenado e excludente.

A Iniciativa 5G Brasil considera que a pressa para aprovação do edital – apesar de todo o esforço de técnicos e conselheiros da agência para a sua célere aprovação – impediu o acerto de detalhes importantes, que serviriam como garantia para a democratização da tecnologia no país. Um fato inédito frente ao 3G e 4G.

O documento chegou a ser questionado publicamente por parlamentares, ministros e empresários do setor de telecomunicações, mas, ao que parece, o Ministério das Comunicações está mais preocupado em colocar o leilão na rua o mais rápido possível do que em viabilizar a acessibilidade real, cálculo político que pode custar caro aos empresários brasileiros e também aos usuários, sobretudo ao agronegócio brasileiro.

Diante deste cenário, a Iniciativa 5G Brasil aguarda a publicação do edital para avaliar possibilidades e estudar os próximos passos desta jornada. Nossa luta continua.

Esquecer da acessibilidade é se desconectar da realidade.