Ana Maiques, CEO e cofundadora da Neuroelectrics, vestindo seu capacete com 32 eletrodos

O cérebro é um supercomputador que se comunica eletricamente e quimicamente através de conexões estabelecidas entre seus 100 bilhões de neurônios, como uma rede de impulsos elétricos. Doenças como epilepsia, depressão e Alzheimer podem ser identificadas a partir da observação da atividade cerebral, e também podem ser tratadas a partir de estímulos elétricos no cérebro. Essa é a proposta da Neutrolectrics, uma startup espanhola que desenvolveu um capacete com 32 eletrodos que ajudam a monitorar a atividade cerebral e que podem também estimulá-la ou inibi-la, dependendo da necessidade do paciente. A ideia é que o equipamento seja dotado de conectividade 5G no futuro, para transmitir uma grande massa de dados para análise em tempo real. A novidade foi apresentada em painel no MWC 2021, nesta quarta-feira, 30, em Barcelona.

“Uma em cada cinco pessoas sofre de alguma doença mental. Os medicamentos nem sempre funcionam para todos. Precisamos buscar novas soluções com tecnologia”, justificou Ana Maiques, CEO e cofundadora da Neuroelectrics.

O equipamento foi testado com sucesso nos EUA com pacientes com epilepsia. No caso deles, o capacete injeta correntes elétricas negativas para inibir a atividade cerebral nas áreas que provocam o problema. Em 10 dias, com apenas uma sessão diária de 20 minutos cada, o capacete conseguiu reduzir em 47% o número de convulsões. Trata-se de um desempenho considerado bastante satisfatório se levado em conta que um terço dos epiléticos não respondem bem a medicamentos e precisariam passar por cirurgia para conter as convulsões.

Para pacientes com Alzheimer, o capacete será usado para injetar correntes elétricas positivas, pois o objetivo neste caso é estimular a atividade cerebral, ou seja, o oposto do que é feito na epilepsia. E a Neuroelectrics recebeu autorização da FDA, órgão regulador norte-americano, para testar também em pessoas com depressão.

Maiques destaca que os tratamentos são personalizados. É feito primeiramente um modelo em 3D do cérebro do paciente e exames identificam as áreas mais afetadas pela doença. A partir desse mapeamento, é definido o tratamento localizado com as correntes elétricas geradas pelos eletrodos. Com 5G no capacete, os dados com a reação do cérebro poderão ser enviados e analisados em tempo real por médicos e especialistas da empresa.

No futuro, a executiva prevê que será possível gravar na nuvem uma cópia digital do cérebro de um paciente. Junto com o desenvolvimento dessa tecnologia, surgirão diversas questões de cunho ético. “Quem vai proteger os dados do meu cérebro? Essa é uma nova pergunta que precisaremos debater”, destacou.