As antenas celulares, que tanto poluem a paisagem das grandes cidades brasileiras, vão aos poucos desaparecer de vista. Não quer dizer que ficaremos sem sinal. Na verdade, os equipamentos serão camuflados na forma de lixeiras públicas, aparelhos de ar-condicionado, calhas de prédios, luminárias e até placas de trânsito. Não se trata de um sonho: esses modelos híbridos, que mesclam a função de uma antena com outra de utilidade pública, são fabricados pela chinesa Comba em uma quantidade de aproximadamente 10 mil unidades por ano (veja foto acima). A empresa é especialista em projetos especiais de cobertura celular em locais de grande concentração de pessoas, tendo participado da instalação dos equipamentos em quatro arenas da Copa das Confederações no Brasil. MOBILE TIME conversou com o diretor geral da empresa no País, Johnny Brito: a Comba projeta ultrapassar R$ 100 milhões de faturamento no Brasil este ano e estuda montar uma fábrica própria em território nacional.

MOBILE TIME – A Comba se considera concorrente dos fabricantes tradicionais de infraestrutura de telefonia celular ou complementar a eles?

Johnny Brito – Ericsson, Huawei e Nokia Siemens são nossos clientes, para quem fornecemos antenas. Mas hoje o nosso core business está em coberturas especiais, como soluções para grandes arenas, centros comerciais, locais onde há número significativo de pessoas se comunicando simultaneamente.

Quais foram os principais projetos especiais da Comba no Brasil recentemente?

Participamos dos projetos para a cobertura das arenas de Brasília, Salvador e Fortaleza na Copa das Confederações e na do Recife, em parceria com a Nokia Siemens. Além disso, estamos trabalhando na extensão da linha verde do metrô de São Paulo, que compreende três estações, no metrô do Rio de Janeiro para a Vivo, na ponte Rio-Niterói, no Senado Federal e em vários shoppings no Brasil. No Rio de Janeiro, atuamos também na cobertura  do túnel Rebouças, do elevado do Joá e nos aeroportos Santos Dumont e Galeão.

Esses projetos especiais são sempre multioperadora?

No passado, era comum cada operadora desenvolver seus projetos particulares, de acordo com suas necessidades e orçamentos. Agora, o foco está em prestar um serviço de melhor qualidade e de valor agregado, como triple play. Assim, a infraestrutura passou a ser compartilhada. O grande caso são as arenas esportivas: toda a estrutura de antenas, os cabeamentos, os projetos de engenharia, de energia, de alarmes de incêndio e as salas de equipamentos são compartilhados. O que é individualizado é apenas o core, a parte estratégica. Cada tele vem com as suas ERBs (estações rádio-base), define quantas são necessárias e o número de canais, mas, depois, todo o sistema irradiante é compartilhado.

As antenas indoor nos estádios são compartilhadas?

Sim, são antenas especiais que suportam múltiplas frequências e múltiplas tecnologias. O sinal depois vai pelos cabos até amplificadores bidirecionais, que são conectados por fibra óptica até as ERBs das operadoras. Em cada um desses estádios, a Comba providenciou salas de 200 m2, com refrigeração especial e segurança, quase como um grande data center, onde cada operadora tem um subespaço para seus equipamentos.

Quanto foi investido nos projetos das quatro arenas dos quais a Comba participou?

Até agora, na primeira fase, que compreende a cobertura das arquibancadas, camarotes e áreas VIP, US$ 15 milhões, somando as quatro arenas. Na segunda fase, que vai abranger áreas de circulação, como restaurantes, lojas, garagens e acessos, serão gastos algo entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões.

A atuação da Comba na cobertura das arenas das Olimpíadas de Pequim serviu de vitrine para a empresa?

Sim. Fomos os responsáveis pela arena Ninho do Pássaro e pelo Cubo D'Água, em Pequim. Agora estamos de olho nos projetos das Olimpíadas do Rio em 2016, Já apresentamos pré-projetos para a Cidade Olímpica e para as arenas.

As operadoras se queixaram do tempo curto que tiveram para instalar seus equipamentos nos estádios da Copa das Confederações. Isso foi mesmo um problema?

Sim. O cronograma foi curto. A previsão para projetos desse porte é de 210 dias e fizemos entre 45 a 60 dias. Reduzimos para um quarto aquilo que estava previsto. Para minimizar o impacto, nossos prestadores de serviços e colaboradores trabalharam sete dias por semana, 24 horas por dia. A obra só parava quando havia algum evento esportivo na arena. Tivemos 250 a 300 funcionários somando os quatro estádios.

O problema vai se repetir nos demais estádios da Copa do Mundo?

Não creio. Com a experiência da Copa das Confederações, definimos alguns procedimentos em conjunto com administradores das arenas. A instalação de cabos pode ser feita durante a construção do estádio, por exemplo. Na Copa das Confederações só pudemos entrar depois que os estádios foram oficialmente entregues. Havia pressão sobre as construtoras para entregar logo e estas não quiseram receber mais centenas de funcionários de telecom, até por questão de segurança e para não afetar o cronograma deles.

Qual é a maior dificuldade na realização desses projetos especiais de cobertura?

Para cada projeto fazemos primeiro uma análise em que consideramos a mobilidade do usuário. Na ponte Rio-Niterói, tivemos um período bem definido de trabalho, fechando uma pista no sentido Rio de Janeiro e outra no sentido Niteroi. Instalamos equipamentos no pórtico da ponte. Tentamos impactar o mínimo possível. Na ponte, tínhamos apenas três horas por dia para trabalhar. Tem que estar bem preparado e ensaiado. No metrô, há uma programação de corte de energia nos trilhos. Começa meia-noite e vai até as quatro da manhã, quando volta a energizar. Isso é automático. Portanto, o sincronismo das operações é essencial. Nos estádios tínhamos gente trabalhando em alta tensão.

No exterior, a Comba é uma das principais fornecedores de antenas camufladas. Como está a demanda por esse equipamento no Brasil?

No Brasil isso está começando. Fizemos alguns testes com algumas teles. Cada uma está definindo a melhor maneira de usar o mobiliário urbano de forma a não impactar visualmente as pessoas que estão circulando. As operadoras estão trabalhando para botar antenas camufladas em bancas de jornal, pontos de ônibus etc. Buscamos camuflagem seguindo a arquitetura do prédio, das ruas etc. Temos antenas com formato de ar-condicionado, porque é mais simples conseguir autorização. Temos antenas que imitam tubo de água, árvores, quadros, luminária de jardim, refletores… Há vários modelos. E fazemos de forma customizada. Somos líderes mundiais nesse tipo de solução. A ideia é provocar o menor impacto visual possível. Em São Paulo, nem propaganda pode mais nas ruas. É preciso pensar em uma antena que possa servir como lixeira, ou placa para o turista, enfim, que seja útil para a rede e para quem circula na cidade.

Quantas antenas camufladas a Comba vende por ano no mundo?

Cerca de 10 mil antenas. Ainda é pouco em relação ao potencial.

A Comba pretende ter fábrica própria no Brasil?

Começamos um piloto de produção nacional em Santa Rita de Sapucaí/MG com uma empresa local, trazendo peças de antenas de microondas para montagem aqui. É um primeiro passo. Pretendemos, sim, ter uma operação fabril própria no Brasil a médio ou longo prazo. Estamos estudando e devemos tomar uma decisão até meados do ano que vem sobre o assunto.

Qual é a receita projetada da Comba para o Brasil em 2013?

Esperamos superar R$ 100 milhões de faturamento no Brasil este ano. No primeiro semestre ficamos dentro do previsto. Em 2012 foram R$ 80 milhões. Brasil ainda representa pouco quando se olha o grupo Comba como um todo. O maior mercado é o asiático. Em breve a região do Caribe e América Latina representará entre 10% e 12% do total. A Comba fatura cerca de US$ 1 bilhão por ano no mundo.