A entrada de empresas chinesas no Brasil tem muitos desafios culturais, como a diferença de idiomas e do relacionamento entre profissionais. Contudo, as grandes empresas da China que aportam em terras brasileiras veem outras barreiras mais difíceis de serem ultrapassadas, como a burocracia, a logística e a falta de investimento no Brasil.

“Tivemos problemas com logística. O frete do Brasil para a Argentina ficou mais caro do que da China para a Argentina. Além disso, tivemos R$ 20 mil de prejuízo com o dano em uma entrega”, disse Rafael Wang, VP da ZTT do Brasil. “Fora isso tem a falta de eficiência de serviços públicos. Demoramos três anos para o licenciamento de terreno e o mesmo tempo para conseguir o financiamento do banco”.

Pelo lado do governo brasileiro, José Gontijo, diretor do departamento de ciência, tecnologia, inovação digital do MCTIC, ressaltou que as portas do Ministério estão abertas para ajudar as empresas estrangeiras que estão entrando no País. Gontijo enfatizou que o DNA do MCTIC é a formação de parcerias e cita as empresas chinesas que estão há mais tempo no Brasil, como Huawei e ZTE.

“O grande desafio que coloco é de as empresas chinesas alcançarem outros mercados através do brasileiro. Eu peço que vocês tragam sugestões para nós, de modo que consigamos pensar no mercado latino-americano”, disse o diretor do MCTIC. “Acho fundamental termos uma parceria mais profunda entre Brasil e China. Os desafios tecnológicos são muito parecidos entre os dois países, com uma grande parcela da população morando em regiões distantes dos grandes centros e sem acesso à Internet”.

Potenciais de investimento

Falando para a plateia formada por executivos chineses e brasileiros no Fórum China-Brasil nesta segunda-feira, 2, o diretor da área de conectividade do CPqD, Leonardo Mariote, enfatizou que o País tem espaço para investimento chinês em projetos de smart cities, agrobusiness e saúde, porém focado em pequenas companhias.

“O potencial de setores como agro, smart cities e saúde, precisa ser avaliado do ponto de vista de como viabilizar o negócio com pouco dinheiro, para crescer. Nossos estudos mostram que o crescimento será em sua maioria com empresas de nicho (software). Temos 4,9 mil empresas de desenvolvimento de software”, afirmou Mariote. “Cada vez mais nós vemos investimentos em start-ups e a aceleração dessas empresas por grandes empresas. Além disso, começamos uma taxa de crescimento bastante volumosa com modelos de negócios baseados em SaaS ou PaaS”.

Buscando investidores chineses para sua localidade, Sérgio Costa, diretor de desenvolvimento de negócios e relações institucionais da Investe SP, argumentou que o estado de São Paulo consegue liberar licenciamento ambiental em até quatro meses. Por sua vez, Carlos Augusto Romualdo, gerente de prospecção de negócios da Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de MG, apontou que sua unidade federal possui a média de salários mais baixos para profissionais de TI, além do ecossistema de região com a Inatel, Huawei e Algar.