As vendas de fechaduras inteligentes configuráveis via aplicativo móvel vão superar 1 milhão de unidades no Brasil este ano. Em 2024, o volume total ficou um pouco acima de 800 mil. Os dados são estimativas feitas pela Elsys, um dos principais players desse mercado e que informa ter registrado um crescimento de 120% em suas vendas de fechaduras inteligentes no ano passado. Sua projeção para 2025 é de um aumento de 70%.

Michel Marcelino, CEO da Elsys (Crédito: divulgação)
“Está acontecendo um boom no mercado. Muitas famílias migram para fechadura digital quando os filhos crescem e começam a ganhar liberdade, a ter mais mobilidade. Com essa fechadura, você é a chave”, diz em entrevista para Mobile Time o CEO da Elsys, Michel Marcelino, se referindo ao fato de que muitos modelos aceitam autenticação por biometria, com leitura de digital.
Intelbras e Positivo, outros dois grandes atores que disputam esse segmento, confirmam o rápido crescimento do mercado de fechaduras inteligentes.
Paralelamente, o perfil do consumidor também está mudando. Se no começo eram jovens urbanos early adopters de tecnologia, agora são pais de família, entre 40 e 55 anos, interessados com segurança e conveniência.
“A persona foi evoluindo ao longo do tempo. Em 2019 era um jovem techie. Agora são pessoas mais velhas, com família, cujos filhos saem para brincar e os pais não querem que percam a chave”, descreve Rafael de Morais, gerente de negócios da Positivo Casa Inteligente.
Variedade de modelos
Os primeiros modelos de fechaduras inteligentes foram lançados no Brasil cerca de sete anos atrás. Eram do tipo “de sobrepor”, de fácil instalação por cima da fechadura original, sem precisar removê-la. Em geral, são destrancados via Bluetooth, com o celular do morador.

Rafael de Morais, da Positivo (crédito: Divulgação)
Depois vieram os modelos “de embutir”, em que a fechadura antiga precisa ser trocada. Para esses é recomendada a instalação feita por um profissional, serviço que costuma ser oferecido pelas grandes redes varejistas que vendem as fechaduras inteligentes.
A variedade de modelos é cada vez maior, com preços que vão de R$ 300 a R$ 2 mil, dependendo das funcionalidades contidas. A Intelbras trabalha com 29 modelos – tem até um para porta de vidro. O portfólio da Elsys conta com oito, incluindo uma novidade no mercado: uma fechadura com câmera que tira foto do visitante e envia por aplicativo para o morador, substituindo o olho mágico. O sucesso foi tanto que o estoque esgotou em apenas um mês. A empresa aguarda a chegada de novos lotes.
As novas chaves
Com as fechaduras inteligentes, há diferentes formas de abrir a porta sem uma chave, variando de acordo com o modelo. Entre as opções mais comuns estão: digitação de senha numérica; leitor de digital; cartão NFC; e abertura remota via app.
Muitas fechaduras inteligentes permitem a geração de senhas temporárias, com duração pré-definida no app, o que facilita a entrada de prestadores de serviço ou hóspedes em aluguel de temporada, por exemplo.
Vale lembrar que boa parte da configuração das fechaduras acontece dentro de apps. Neles ficam registradas todas as aberturas da porta, indicando quem entrou, de acordo com a senha ou digital utilizada. Também são registradas as tentativas frustradas de abertura. As fechaduras podem bloquear a porta após uma certa quantidade de tentativas não reconhecidas.
Muitas fechaduras se conectam à Interne via Wi-Fi para serem acessadas remotamente por um app. Sua energia é alimentada por pilha. A duração é da ordem de seis meses e o nível de bateria pode ser acompanhado pelo celular. Se a pilha acabar quando se está fora de casa, algumas fechaduras oferecem as seguintes soluções: 1) dar uma carga de energia através de uma entrada USB; 2) usar uma boa e velha chave de verdade – sim, ela acompanha alguns modelos, para ser usada em caso de emergência.
Uma novidade que chegará em breve é o uso de biometria facial para a abertura da porta. “A abertura facial, embora seja uma novidade no mercado, ainda enfrenta desafios relacionados à diversidade dos usuários, como diferentes biotipos, uso de barba ou cílios postiços, que podem impactar a usabilidade. Estamos há dois anos desenvolvendo um módulo facial adaptado à realidade brasileira, sem essas limitações. O lançamento está previsto ainda para este ano”, relata Juliano Pavlak, gerente de fechaduras digitais da Intelbras.
Fechaduras inteligentes e as casas conectadas
Os principais fabricantes estão integrando as fechaduras inteligentes a ecossistemas de casas conectadas. Na Intelbras e na Positivo, as fechaduras podem ser gerenciadas através do mesmo aplicativo que reúne outros dispositivos de Internet das Coisas, compondo um hub de automação residencial. No caso da Intelbras, o modelo top de linha tem também integração com Alexa e Google Assistente.
A Elsys hoje conta com um app só para suas fechaduras, mas está desenvolvendo outro que funcionará para vários outros dispositivos de casa conectada da marca. Uma das apostas é no segmento de câmeras de segurança com visão computacional, gerando alertas a partir da análise de imagens com inteligência artificial.
“A fechadura está se tornando o primeiro device das casas conectadas”, resume Marcelino, da Elsys.

Fechadura da Elsys com câmera que envia foto do visitante
Ampliação de mercado
Tudo indica que esse mercado está dando apenas os seus primeiros passos: estima-se que apenas 4% das residências das classes A e B disponham hoje de fechaduras inteligentes. Ou seja, há espaço grande para ser explorado, especialmente se associado a plataformas de Internet das Coisas (IoT) para casas conectadas.
E há oportunidades para além do mercado residencial. No B2B, algumas construtoras estão planejando prédios novos já com a possibilidade de incluir fechadura inteligente como parte de um kit de automação residencial vendido ainda na planta. “Já participamos de alguns projetos assim. O kit é um opcional na venda do apartamento”, relata Morais, da Positivo.
Armários e guarda-roupas também podem receber fechaduras inteligentes, especialmente aquelas mais simples, de sobrepor. “As aplicações vão além das portas das casas”, sugere Marcelino, da Elsys.
Pelo andar da carruagem, perder as chaves vai ser um problema do passado. O novo problema de hoje em dia é perder o smartphone. Mas, com uma fechadura inteligente, ainda será possível entrar em casa com uma senha ou o dedo.
A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA