O vice-presidente e analista emérito do Gartner, Hung LeHong, alertou que as empresas que buscam por aumento de produtividade e de retorno sobre o investimento (ROI) a partir da redução de tempo de trabalho com automações feitas por inteligência artificial podem se frustrar: “Tempo salvo com IA não significa dinheiro economizado”, disse, durante a Conferência Gartner CIO & IT Executive nesta segunda-feira, 22.

A sua avaliação é baseada em um estudo recente feito por sua empresa que revela: dos 74% chefes financeiros (CFOs) que participaram da pesquisa e perceberam redução de tempo com o uso de IA em tarefas nas suas companhias, apenas 6% notaram aumento no lucro ou receita e 5% que economizaram dinheiro.

“A produtividade (com IA) é um benefício, mas é um benefício de qualidade inferior porque precisa de todo um trabalho extra para transformá-lo em valor, como no exemplo do Goldman Sachs. Eles precisaram mudar a estrutura da equipe e os processos”, disse LeHong.

Explicando o caso do Goldman Sachs, o executivo disse que o Gartner foi chamado pelo banco para avaliar se a redução de tempo de trabalho com IA trouxe retorno à companhia. Apesar de ter diminuído, LeHong afirmou que a mudança veio apenas após reavaliar processos.

“Até o Goldman Sachs dizer: ‘Bem, vamos aproveitar essa economia de 20 minutos e reduzir o tamanho da equipe, reestruturar o processo’. É somente até esse ponto que você realmente tem um ganho financeiro nessa situação e reduz custos”, afirmou o VP, antes de exemplificar como pode ser aplicada essa teoria em outros cenários.

Jornada da IA produtiva pelo Gartner

Na visão do Gartner, se a empresa ganha 10% de redução de tempo com tarefas automatizadas por IA, não há necessidade de cortes de funcionários. Se ocorre entre 15% e 30%, a companhia já pode restringir novas contratações. Entre 30% e 40% de redução de tempo nas tarefas, a empresa já pode se movimentar e cortar o pessoal. Acima de 70%, a firma pode passar por um total reposicionamento e reestruturar o seu time por completo.

Contudo, o VP do Gartner explicou que há uma jornada a ser trilhada pelas empresas no uso da IA para trazer resultados práticos. Esse caminho pode ser dividido em três partes:

  • Modo defensivo, que é o uso de aplicações (como Copilot) para melhorar o trabalho do funcionário com melhoria de tempo, mas sem retorno financeiro, o que gera o ‘Retorno Sobre o Empregado’ (ROE);
  • Modo extensivo que gera ‘Retorno sobre o Investimento’ (ROI) a partir de melhoria de processos com automação e redesenho das áreas produtivas nas empresas;
  • Modo virar de cabeça para baixo, ou seja, a disrupção de uma empresa que passa a inovar com o uso da IA e gera ‘Retorno sobre o Futuro (ROF)’.

“O nosso ponto de vista é que, se uma empresa tem o luxo de dedicar seu tempo a uma jornada de IA, ela deve começar com o retorno do funcionário (ROE), aprender a economizar tempo e, em seguida, passar para o retorno do investimento (ROI) e, então para o retorno no futuro (ROF). Acreditamos que essa é uma maneira muito robusta e que isso leva aos funcionários uma jornada que faz muito sentido e não muda tudo de uma vez”, disse.

A realidade

A VP e analista do Gartner, Gabriela Vogel, afirmou que para saber qual caminho trilhar, as empresas precisam aprender a separar suas ações entre ROE, ROI e ROF. Mas reconhece que o problema é que muitos líderes não têm essa visibilidade, em especial aqueles que estão começando na jornada da IA.

Contudo, LeHong afirmou que essa avaliação dos três modelos é um luxo que a maioria das empresas não têm: “Muitas empresas seguem esse caminho, do ROE até o retorno no futuro. Mas vejo que algumas empresas não têm esse luxo de tempo. Eu moro no Canadá, por exemplo, no setor público, eles precisam obter imediatamente o ROI em determinados departamentos. Se você puder dedicar seu tempo, essa é a melhor maneira, mas nem todas as nossas empresas estão lá”, disse o VP.

Cenários

Gabriela Vogel Gartner 2

Gabriela Voger, VP e analista do Gartner (divulgação)

Uma outra pesquisa do Gartner feita no terceiro trimestre com 431 CIOs de grandes empresas revelou que 45% deles estão alocando parte do orçamento de suas empresas no ROE, como melhoria para empregados e consumidores. Outros 36% dizem que estão focando em ROI, a partir da melhoria de processos. E 19% em ROF, como melhoria de modelos de negócios.

Mas quando perguntados qual o cenário desejado para os próximos dois anos, 37% querem ROI, 35% o ROE e 29% RoF. E sobre o atual cenário, qual a probabilidade de atenderem às expectativas dos CEOs nas três etapas da jornada, um em três CIOs dizem que conseguem entregar ROE, um em cinco dizem que conseguem entregar ROI e um em 50 entregam ROF.

“Vou ser bem direto: essas são probabilidades terríveis. É muito difícil. Se nós, como empresas, continuarmos avançando com esse tipo de probabilidade, não vamos nos sair muito bem com a IA”, disse LeHong.

Modelo de negócios

Questionado por Mobile Time se as empresas sabem distinguir seus portfólios, casos de uso e se estão preparadas para o modelo de outcome (pagamento por resultado) e mudanças nas entregas do retorno sobre o investimento, LeHong afirmou que a fórmula do ROI (ROI é receita obtida, menos investimento, dividido pelo investimento) não muda mesmo na era da IA.

O VP explicou que acompanham “em cada setor, em cada departamento, os casos de uso que produzem maior valor na forma de redução de custos ou ganho de receita”. Citou o corte de gastos com serviços externos de tradução e em especial criação de materiais de marketing com seus clientes diminuindo os gastos com agências de marketing ao dispor ferramentas de IA para a gerar materiais.

“A redução de gastos onde a IA está fazendo as coisas é imediatamente uma das áreas onde estamos vendo resultado mais rápido. Também acrescentarei que em ambos os casos, tradução e produção de custos de marketing, não exigem muitos dados da empresa”, disse. “Portanto, as vitórias mais rápidas são aquelas em que você pode usar a IA para reduzir os gastos que a empresa não precisa”, concluiu.

Imagem principal: Hung LeHong, VP e analista emérito do Gartner (divulgação)

 

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