O iFood (Android, iOS) apresentou nesta semana uma assistente com inteligência artificial generativa para o consumidor final fazer suas compras e o seu próprio grande modelo de linguagem (LLM) em parceria com a sua controladora, a Prosus. Com essa estratégia, coloca a IA proprietária e baseada nos brasileiros como um dos diferenciais do seu negócio de delivery.
Ailo
Inicialmente, a assistente do iFood foi batizada como Ailo e tem como principal atrativo aceitar pedidos por meio de conversa. Ou seja, o usuário pode falar “quero um prato para um jantar romântico” ou “quero um lanche de até R$ 30” e a IA dá as informações contextualizadas e personalizadas com base no seu histórico de compra.
De acordo com Isabella Piratininga, diretora de transformação disruptiva da plataforma, Ailo se diferencia por estar onde o cliente quer, e que, apesar de começar via app do iFood e WhatsApp, pode ir para outros canais, como a Alexa da Amazon.
Em fase beta, a assistente contabilizou 70 mil consumidores que geraram mais de 100 mil interações em teste controlado. Desses usuários, a chance de converter uma venda com ajuda da assistente é 48% maior que sem Ailo. Por sua vez, os pedidos do app foram concluídos 33% mais rápidos que aqueles fechados no app de mensageria.
Vale lembrar que esta solução foi apresentada previamente pelo CEO Diego Barreto durante o iFood Moove no meio do ano, mas não tinha um nome comercial na época e estava em uso interno.
LLM do iFood

Thiago Cardoso, diretor de tecnologia e IA do iFood (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)
Por sua vez, o grande modelo de linguagem do iFood com Prosus ganhou o nome de Large Commerce Model (LCM). E este LLM voltado ao e-commerce que dá robustez a Ailo, assim como melhora a qualidade de ofertas no app. Segundo Thiago Cardoso, diretor de tecnologia e IA da companhia, o LCM é proprietário e foi treinado a partir de bilhões de interações reais com consumidores brasileiros para entender contextos longos.
Em outras palavras, o LCM funciona como um personal shopper e aprende a cada contato. Entende como e o porquê das compras antecipando as necessidades do cliente e vai além da busca e recomendação genérica.
Cardoso afirmou que como resultado positivo, a taxa de conversão com as sugestões “você também pode gostar” cresceu 66% e as notificações personalizadas resultaram em quatro vezes mais pedidos. Baseado no modelo open-source da Qwen (QwQ3), com 32 bilhões de parâmetros, o LCM é 60 vezes mais barato que outros modelos de IA generativa.
Estratégia
Em conversa exclusiva com Mobile Time, Thiago Viana, diretor de inovação e parcerias do iFood, afirmou que o LCM será exportado pela Prosus para outras empresas do seu ecossistema, em especial por usar seu banco de dados construído com transações comerciais com 500 milhões de usuários e 10 trilhões de tokens de dados.
Apesar de ter toda essa capacidade, Viana afirmou que neste momento não deve disponibilizar ao mercado o seu LCM e deve ficar apenas com empresas controladas pela Prosus, como Sympla, Decolar e OLX, pela questão da segurança de dados.
O diretor também descartou disponibilizar de colocar na prateleira outras de suas soluções de IA, como o construtor de bots Toqan, mas acredita que poderá oferecer para o seu ecossistema, como a possibilidade de bares e restaurantes terem acesso a um prompt para construírem seus robôs.
Mas Viana reforçou que a IA é um diferencial para o iFood, inclusive com a chegada de Keeta e 99Food neste ano, em um mercado que tem ainda Rappi e AiQFome do Magalu: “Sim, acredito que IA seja um dos nossos diferenciais porque conseguimos construir modelos extremamente adaptados à realidade brasileira e conseguimos operar cidade a cidade”, disse.
“No Brasil temos muitas cidades diferentes umas das outras, então você tem que conseguir ter modelos que se adaptem a essa realidade. Esse é um diferencial em um cenário competitivo. Mas acho que o iFood construiu muitas coisas no Brasil que são diferenciais, então não consigo falar que é só a IA. Mas, sim, a IA é um dos pontos centrais disso”, completou.
IA como diferencial estratégico

Thiago Viana, diretor de inovação e parcerias do iFood (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)
Ainda em inteligência artificial como parte da estratégia, Viana também desconsidera a possibilidade de o iFood fazer reduções em seu quadro, em especial com a meta de cada um dos 8 mil funcionários ter seu agente até março de 2026 e que todos eles serão avaliados pelo uso de IA.
“Obviamente, as pessoas que não se adaptarem a esse novo mundo com o tempo vão produzir menos que as outras e isso é o natural. Mas você fala assim: ‘Nós vamos fazer um corte porque eu aumentei muito a produtividade das pessoas’? Jamais”, rechaçou, ao dizer que precisa da equipe para alcançar grandes metas, como chegar a 200 milhões de pedidos por mês.
“Construímos uma empresa de pessoas que querem fazer isso (200 milhões de pedidos/mês) acontecer. E essa é a mentalidade. Então, quando você tem isso, aumento de produtividade não é para redução de custo, que é o que faz uma empresa que está no momento de aproveitar o excelente resultado. Nossa cabeça não é essa, nossa cabeça é dá para eu continuar investindo para crescer? Vou investir para crescer? Vou tomar o risco e vou investir para crescer. E vou investir para crescer”, reforçou.
Imagem principal: Isabella Piratininga, diretora de transformação disruptiva do iFood (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)