O uso do 5G Broadcast para a transmissão do sinal da TV 3.0 é visto ainda como “uma poesia”, pois não há chipset apto para recepção de sinal em smartphones. Conforme explicou Josemar Cruz, membro da ATSC (associação que define os padrões de TV digital e broadcast de dados) há uma falta de interesse do ecossistema móvel para integrar as tecnologias.
Em especial, Cruz credita à Apple a falta de interesse por não querer avançar com a tecnologia. Com isso, a tecnologia não está pronta em sua visão, ao contrário do ATSC.
Durante o Streaming Academy, evento organizado pela Associação Brasileira de OTTs (Abotts) nesta quarta-feira, 12, Paulo Henrique Castro, presidente da SET, lembrou que o 5G Broadcast está apenas em estágio de “demonstração” com protótipos e pilotos, mas não há uma ação comercial.
Índia como fiador da TV 3.0
Castro acredita que o mercado indiano pode ser um “divisor de águas” para ajudar a definir o papel do mobile na TV 3.0, algo que é puxado pela cultura de consumo de mídia dos indianos em celulares (dentro e fora de casa), a escala de mais de 1 bilhão de pessoas e a possibilidade de testar sua viabilidade neste mercado para posteriormente se tornar um padrão global.
Ainda assim, o presidente da SET reforçou que o que deve trazer ou não a demanda é o mercado. Ou seja, o setor de radiodifusão precisa resolver primeiro os problemas técnicos e operacionais da TV 3.0 (transmissão, recepção, implementação, sistema) e depois avançar para outras tecnologias que possam transmitir a próxima geração da TV Digital, algo que tem uma esteira de investimento e adoção plurianual.
Mais adiante, Castro prevê que o 6G também terá sinergia com a TV, devido “à abstração total de onde está vindo” aquela rede.
Modelo de negócios
Cruz, da ATSC, acredita ainda que o mobile pode trazer vantagem para a construção de modelos de negócios na TV 3.0, como em um e-commerce com o handset sendo a conexão e dando o poder de compra ao consumidor. Um formato que é desenhado da seguinte forma:
- As radiodifusoras detêm e transmitem o conteúdo de venda em TV aberta;
- Os fabricantes de TVs transformam esses aparelhos em pontos de venda;
- E as operadoras de telefonia e fabricantes de smartphones entram com a conexão para ser o botão de compra com o e-commerce.
A relação de compra acontece com o consumidor assistindo a um comercial, sincronizando o celular com a TV, baixa um voucher/cupom e realiza a compra, o que pode ajudar o comércio eletrônico a:
- Diminuir fricções de consumo;
- Reduzir o abandono no carrinho;
- Aumentar a conversão de vendas.
Porém, o representante da ATSC acredita que falta diálogo e alinhamento entre os players importantes que podem se beneficiar do mobile. Em especial, Cruz afirmou que é preciso “despertar” as operadoras e os fabricantes de celulares para este tipo de modelo de negócio.
Histórico
Vale lembrar, a TV 3.0 (ou DTV+) teve seu decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto deste ano. A ideia é que a tecnologia que traz a experiência dos streamings e dos apps para a TV aberta esteja pronta para uso durante a Copa do Mundo de 2026 em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Como principal chamariz, o novo padrão permitirá uma experiência de transmissão em 8K e 22 canais de som imersivos. Assim como, a tecnologia poderá trazer novos modelos de negócios e integrar a tela grande das TVs com as pequenas dos celulares.
A Globo vem realizando testes. Record e SBT também estão se preparando, como revelou o presidente da SET.
Em abril deste ano, o secretário de Comunicação Social Eletrônica do Ministério das Comunicações, Wilson Diniz Wellisch, afirmou que a tecnologia permite que a TV 3.0 venha para o celular, mas precisam avaliar qual a melhor solução para isso – vide o 5G Broadcast ou outro padrão.
Foto principal: Da esq. para dir. Samuel Possebon, do Teletime; Josemar Cruz, ATSC; Paulo Henrique Castro, SET; Ricardo Miranda, Only TV; Yvan Cabral, Vivensis (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)
