Uma nova tecnologia de conexão à Internet está chegando ao Rio de Janeiro em 2026. Trata-se da Lightbridge, criada pela startup norte-americana Taara, que firmou parceria com a prefeitura carioca para conectar escolas, postos de saúde e outros locais em comunidades carentes da cidade. A Lightbridge consiste na transmissão de dados através de feixes de luz, com alcance de até 20 Km, capacidade de 20 Gbps para download e upload, e um terço da latência da fibra óptica. Em entrevista para Mobile Time, o criador da tecnologia e CEO da Taara, Mahesh Krishnaswamy, explica como ela funciona e como pode competir ou complementar outras redes fixas e móveis.
Mobile Time – Como foi inventada a Taara Lightbridge?
Mahesh Krishnaswamy – Deixe-me começar dizendo que comunicação óptica em espaço livre não é algo novo. Já existe há bastante tempo. O que é novo é a forma como nós a usamos e como evoluímos essa tecnologia — essa é realmente a história aqui.
Tudo começou porque o Google vinha trabalhando em várias maneiras diferentes de conectar o mundo. Isso incluía o Google Fiber, o Google Access e o Project Loon, que era Internet com balões, tentando colocar “torres de celular” no céu. E em todos esses esforços havia um tema comum: será que existe uma forma rápida e simples de colocar as pessoas online?
Eu estava trabalhando em um desses projetos, o Project Loon, que é o projeto dos balões: levar as torres de celular para 20 km de altura, na estratosfera, e transmitir sinal celular para os usuários finais. Era um problema tecnologicamente muito difícil. A gente se perguntava: conseguimos fabricar esses balões? Eles conseguem ficar tempo suficiente no ar para circunavegar a Terra? Conseguimos mantê-los estacionários para fornecer cobertura? A conta fecha? Conseguimos recuperar os balões? A eletrônica resistir? Conseguimos estabelecer comunicação entre os balões? Enquanto eu trabalhava nesse projeto, me perguntava se não haveria uma solução mais simples.
Eu venho da Índia, de lugares muito parecidos com o Rio de Janeiro, onde vi de perto o poder transformador da Internet. Foi por isso que eu me empolguei com a Taara, com a ideia de conectar o mundo. E eu tive essa ideia meio “boba”: e se a tecnologia que usávamos entre os balões fosse trazida para o chão? Literalmente colocar isso em cima de um poste e começar a conectar pessoas, oferecendo velocidades de fibra, só que pelo ar?
Eu achei que era uma das ideias mais bobas do mundo, mas acabou que não era. Não só estávamos trabalhando nessa tecnologia para uso entre balões, como também havia um time usando algo parecido em terra, dentro do Google Access, em lugares em que você não quer cavar valas, ou não tem permissão para passar fibra de um lado da rua para o outro.
Então, no Google Access, tínhamos um conceito para curtas distâncias, em alta velocidade. E, nos balões, tínhamos um conceito que podia cobrir longas distâncias, mas com velocidades menores. O que eu fiz, essencialmente, foi encontrar uma forma de casar essas duas tecnologias, trazê-las para o solo e ver se havia um mercado para isso. E, de fato, havia um mercado enorme, começando pelo sétimo maior estado da Índia, onde tivemos a oportunidade de conectar pessoas.
O único problema é que a gente tinha construído só uma unidade desse equipamento — e ela literalmente estava num museu, porque era muito difícil produzir e fabricar essas unidades.
Foi aí que minha experiência de trabalhar na Apple entrou em cena. Basicamente, pegamos essa tecnologia e aplicamos os avanços em eletrônica, fotônica e manufatura para reduzir custo, aumentar o rendimento, tornar o produto fabricável em escala, e aplicar todos os avanços possíveis, de hardware a software, para tornar essa visão real: começar a conectar pessoas usando apenas feixes de luz.
É isso que temos feito nos últimos oito anos, e assim nasceu a Taara. Hoje temos esse produto implantado em mais de 20 países e, por trás de cada um desses enlaces, há dezenas, centenas ou milhares de pessoas que passam a ter acesso à Internet de forma abundante e acessível.
Aonde e quando foi implementada a primeira rede com a tecnologia da Taara?
Tive uma oportunidade de falar diretamente com o Chief Minister do sétimo maior estado da Índia, o estado de Andhra Pradesh, com 50 milhões de habitantes. Eu fazia parte de uma mesa-redonda com cerca de 35 executivos do Vale do Silício — de NASA, Intel, Ericsson e outros. Todos estavam falando sobre as inovações tecnológicas em que trabalhavam.
No meio da apresentação, alguém da NASA entrou na chamada por videoconferência — e a Internet da sala caiu. Eu estava lá e já tinha montado meu link da Taara como backup, para fins de demonstração. Eu disse: “acho que talvez tenhamos uma solução para o corte de fibra que vocês acabaram de sofrer”.
E, do outro lado do rio Godavari, conseguimos transmitir Internet pelo ar e levar conectividade até aquela sala. Esse foi praticamente o primeiro “deployment” em que mostramos o poder da tecnologia. Conseguimos demonstrar não só que podíamos trazer conectividade em caso de rompimento de fibra, mas, o mais importante, que podíamos oferecer uma Internet de alta qualidade e retomar a chamada. Isso desencadeou uma série de conversas com o Chief Minister, que imediatamente me deu 500 vilarejos para conectar da mesma forma, porque eles não conseguiam levar fibra até lá.
Foi assim que começamos. Há oportunidade em toda crise. Nós aproveitamos essa oportunidade, resolvemos o problema e ainda mostramos o poder da tecnologia.
No mundo existem muitas tecnologias de conectividade diferentes: 5G, fibra, agora satélites LEO como o Starlink. Qual será o papel da Lightbridge da Taara? Em que situações ela é melhor que as outras tecnologias, com ou sem fio?
Uma das melhores coisas da Taara é que ela é rápida de implantar. Ela usa a frequência da luz, que tem capacidade praticamente infinita. Tem baixa latência porque você transmite na velocidade da luz e não precisa cavar nem abrir valas. E o consumo de energia é equivalente ao de uma lâmpada comum.
Vou comparar com três tecnologias: fibra, radiofrequência e satélite.
Começando pela fibra, que é considerada o “padrão ouro”. Ela oferece altíssima capacidade. Mas, para fazer do jeito certo, é preciso cavar, abrir valas e enterrar a fibra. Isso é caro, demorado e ambientalmente disruptivo. E, mesmo assim, a fibra não chega a todos os lugares: não atravessa qualquer rio, não passa por qualquer área montanhosa, não vai de uma ilha para outra facilmente. Há muitos desafios.

Mahesh Krishnaswamy, CEO da Taara (Crédito: divulgação)
Você pode fazer fibras aéreas, presas em postes, mas no momento em que vem uma tempestade e derruba um poste, toda a fibra cai. Ou um deslizamento de terra. Ela sofre cortes com frequência, e o custo real de operação de uma rede de fibra é muito maior do que as pessoas imaginam. Por isso é que se cria redundância: todo prédio acaba tendo múltiplos caminhos de fibra entrando, para garantir backup.
A Taara é como uma fibra, só que pelo ar. Não é preciso cavar, nem abrir valas, nem tirar licenças. Você implanta rapidamente, entra em operação rápido, e ainda tem latência menor que a fibra, porque, na fibra, a luz sofre reflexões internas no vidro, enquanto no nosso caso ela segue direto pelo ar. Temos cerca de um terço da latência de um cabo de fibra óptica — algo muito importante nessa era de data centers de IA e tudo mais.
Se a fibra já existe, mas é pouco confiável, você pode usar a Taara como redundância. Se não há fibra nenhuma, você pode começar com a Taara e, depois, usar fibra como subcamada para criar uma rede resiliente. Mas, em geral, nossa recomendação é que a Taara seja a primária e a fibra, a secundária.
Outro ponto: se você não sabe se existe demanda ou não, e quer conectar uma vila remota ou uma comunidade, você pode gastar milhões cavando e lançando fibra, e depois descobrir que a demanda não existe. Em vez disso, você começa com a Taara e testa a demanda. Se não houver demanda ou se não funcionar bem, você desloca o equipamento para outro lugar. Já o investimento em fibra é perdido.
É uma infraestrutura portátil então.
Exato. É um Capex móvel, não fixo. É rápida de implantar e de realocar, se necessário. Essa é a beleza da solução.
E a comparação com a tecnologia celular?
Historicamente, vimos a evolução de 2G para 3G, 4G e agora 5G, a cada década, tentando colocar mais usuários, mais velocidade, comprimir mais bits no mesmo espectro, e subindo na faixa eletromagnética em busca de mais capacidade.
Só que estamos chegando a um limite. Chega um ponto em que não dá mais para transmitir ou receber dados em frequências mais altas — o chamado “gap de terahertz” no espectro eletromagnético. Estamos literalmente raspando o fundo do barril para oferecer mais capacidade com recursos limitados. A radiofrequência sofre interferência, tem capacidade limitada, e você precisa dividir a banda entre uplink e downlink.
Pense em uma conexão de 1 Gbps: talvez 800 Mbps estejam alocados para downlink, para você ver vídeo, e apenas 200 Mbps fiquem para o uplink. Isso vira um gargalo. É um recurso compartilhado, em contenda, tanto entre subida e descida quanto com todos os vizinhos. Se o seu vizinho entra na rede, sua conexão piora.
É um mundo muito restrito. Na Taara, acreditamos que podemos oferecer abundância: no domínio da luz há tanto espectro disponível que você poderia encaixar todo o espectro de rádio — de centenas de MHz a centenas de GHz — dentro da faixa de luz, e ainda assim mal arranharia a superfície. E não há ninguém usando esse espectro, é livre de interferência e não exige licença.
Essa é uma grande vantagem: estamos, de fato, aproveitando o poder da luz. E, como usamos frequências mais altas, o consumo de energia também é muito baixo.
Hoje, se você olhar o consumo de energia por bit para transmitir 1 GB de dados, temos um dos menores índices do mercado. Nosso consumo é de cerca de 40 watts — menos que uma lâmpada — para transmitir 20 Gbps de uplink e 20 Gbps de downlink, de forma totalmente simétrica. Já a radiofrequência precisa de centenas de watts para transmitir apenas 1 GB. É muito mais faminta em energia.
Nós conseguimos ser mais eficientes energeticamente, transmitir mais bits de forma mais segura, com menor latência. Essa é a vantagem sobre radiofrequência.
E quanto aos satélites?
Nas soluções LEO também se usa radiofrequência, só que vinda do céu. E os mesmos problemas de interferência se aplicam. Um satélite típico pode oferecer, digamos, 20 Gbps, mas precisa cobrir uma cidade inteira, como o Rio de Janeiro. Se uma pessoa entra na rede, depois a segunda, a velocidade cai para ambas. Se entra uma terceira, as três perdem throughput. É um recurso compartilhado e não é ideal para banda larga fixa de alta velocidade, que é onde está 80% do consumo de dados.
O que fazemos na Taara é diferente: conseguimos oferecer algo dedicado, é quase como se você tivesse uma antena Starlink e um satélite LEO só para você.
Podemos entregar 20 Gbps para cada prédio, até para cada casa, se quisermos, sem interferir no vizinho, porque ele terá o próprio feixe. No fim das contas, conseguimos fornecer 100 vezes mais capacidade que um satélite, por uma fração do custo.
E o que acontece se dois feixes de luz se cruzarem?
Primeiro, esses feixes são muito, muito estreitos — têm mais ou menos a espessura de um palito de hashi. Eles miram uma área do tamanho de um grão de arroz. São estreitíssimos. Portanto, é altamente improvável que se cruzem. E, como são tão estreitos, não interferem entre si; normalmente os comprimentos de onda também são diferentes. Então, na prática, você não vai ter feixes se cruzando e, se acontecer, temos como detectar e ajustar a altura um pouco para cima ou para baixo, de forma a evitar interferência.
Mas se houver algum deslocamento do equipamento, por menor que seja, isso não faria o enlace cair? Ele tem que ficar absolutamente fixo, não pode se mover um centímetro, certo?
Sim, e nós aprendemos isso da maneira mais difícil. Vou contar uma história: achávamos que bastaria transmitir feixes de luz, colocar o equipamento em uma torre de celular e pronto. De repente, começamos a ver quedas no link e não entendíamos o motivo. Fomos a um dos sites e vimos macacos pulando na torre, se pendurando nos terminais, balançando tudo. Esses macacos eram territoriais; não deixavam a equipe chegar perto para ajustar o alinhamento.
Conseguimos ajustar aquele enlace específico, mas pensamos: se hoje são macacos, amanhã é o vento, depois a variação de temperatura… Então passamos a incorporar ao produto um mecanismo de compensação para tudo isso: variações de temperatura, balanço, vibração da torre etc. Hoje temos um mecanismo de compensação em dois estágios: um para ajustar mudanças de longo prazo (temperatura, deformações) e outro com um espelho de direcionamento muito rápido. A combinação dos dois garante que os feixes permaneçam alinhados o tempo todo.
O feixe de luz usado pela Taara é invisível?
Sim. É luz no infravermelho médio (mid-IR), lasers totalmente seguros para os olhos.
E se houver um obstáculo na frente? Um pássaro, por exemplo?
Também vivenciamos isso logo no início. Quando fizemos a primeira implantação em São Francisco, tudo funcionava bem, e, de vez em quando, víamos uma queda no enlace. As unidades têm uma câmera, então ligamos a câmera para ver o que acontecia. O enlace era entre duas ilhas, atravessando a Baía de San Francisco — e havia um navio passando exatamente na rota do feixe, cortando o caminho. Às vezes eram pássaros também.
Hoje temos algoritmos de software que detectam essa obstrução e retransmitem o pacote. É o que chamamos de ARQ (Automatic Repeat reQuest). Fazemos isso tão rápido, na velocidade da luz, que o outro lado nem percebe a queda. Há um buffer, repetimos o pacote, e quem está do outro lado não nota. E, só para deixar claro, nada acontece com o pássaro — os feixes são seguros.
Você mencionou que já há implementações em 20 países. A maioria fica na Ásia?
Começamos pela Índia. Temos vários países na África, como Quênia, África do Sul, República Democrática do Congo, Nigéria e muitos outros. Temos implantações nos EUA, em ilhas na região da Ásia-Pacífico, e agora estamos começando a entrar na América Latina.
O Rio de Janeiro vai ser a primeira cidade em que vamos implantar uma rede em malha (“mesh”) em escala urbana. É algo inédito: pense nisso como “fibra apagada” (dark fiber), só que no céu. Você pode cruzar a cidade inteira com feixes de luz, complementando a rede de fibra existente. É a primeira vez que implantamos uma rede em malha desse tipo no mundo.
A tecnologia de vocês está sendo usada mais como backhaul para outras tecnologias, ou como redundância, ou diretamente para atender o usuário final?
Tem sido usada em várias aplicações — essa é a versatilidade da tecnologia. Em lugares como a Índia, trabalhamos com operadoras de telecom para usar a Taara como backhaul de 5G. Cerca de dois terços das torres não têm fibra, e as operadoras querem lançar 5G. Nós fornecemos a velocidade da fibra sem precisar puxar fibra até cada torre, usando a Taara para backhaul móvel.
Trabalhamos também com uma grande operadora na África que tem fibra ótica correndo de Cidade do Cabo a Cairo — é a Liquid Telecom. Eles vêm usando nossa tecnologia para conectar comunidades ao longo dessa “espinha dorsal” de fibra. Tradicionalmente, eles contratavam pessoas das vilas para cavar valas e lançar essa grande fibra de longa distância, mas as comunidades ao lado da rota ficavam desconectadas.
Também ajudamos em muitos casos de recuperação de desastres: desde erupções vulcânicas em Tonga até em zonas de guerra, onde é muito difícil ter conectividade segura e, principalmente, rápida. Conseguimos colocar essas áreas online.
E, por fim, trabalhamos com ISPs e parceiros locais em cada país para estender e ampliar as redes que eles já possuem.

Instalação da Lightbridge, da Taara (crédito: divulgação)
E quanto custa? Qual é o preço do equipamento?
Uma forma simples de pensar é: se você vai cavar e lançar fibra por alguns quilômetros, o custo já começa a se igualar ao da Taara. E, se você comparar com soluções via radiofrequência, para chegar a 10 Gbps — para não falar em 20 Gbps — a Taara sai bem mais barata, especialmente em distâncias maiores.
Nossa precificação funciona basicamente de dois modos. Primeiro, venda de hardware: se você for uma operadora e quiser comprar o equipamento, oferecemos preços baseados em volume. O segundo modelo é “banda como serviço”: você não precisa dos 20 Gbps, talvez só queira 1 Gbps. Então você aluga essa capacidade, como faria com fibra, e nos paga mensalmente. Quando precisar de mais banda, liga para nós — ou simplesmente sobe para 2 Gbps, 5 Gbps etc.
Investimos de forma a crescer junto com as necessidades do cliente. E, como temos muita capacidade, podemos revender o excedente para outras pessoas que precisem.
Onde os equipamentos são fabricados?
Temos fabricantes terceirizados tanto nos EUA quanto na Ásia. Mantemos uma cadeia de suprimentos robusta e distribuída. A maior parte da equipe veio da Apple e tem muita experiência em supply chain, então construímos o produto já pensando em volume de fabricação e qualidade.
Quantos equipamentos já foram comercializados?
Já implantamos centenas dessas unidades nos últimos anos, nesses 20 países, e estamos só começando.
De todas essas implantações, qual foi a mais difícil de instalar, ou a mais interessante?
É difícil responder, é como perguntar qual é o filho favorito Cada implantação foi muito poderosa e impactante, tanto para nós quanto para as comunidades atendidas. Vou citar uma que ressoa bastante em mim, porque combina desafios técnicos e impacto social.
Implantamos um enlace na periferia de Nairóbi, onde havia um parque nacional impedindo a conexão de uma comunidade periférica, de baixa renda, com desafios de acessibilidade e de oferta de banda larga. Ninguém queria atender essa comunidade. Um ISP local nos trouxe esse desafio.
Do data center em Nairóbi, lançamos um feixe atravessando o parque nacional — sem causar impacto ambiental — diretamente até essa comunidade. Instalamos o enlace e pensamos: “há dezenas de milhares de pessoas aqui, todo mundo vai amar nossa Internet”, oferecida a 10 dólares por mês, ilimitada, “all you can eat”. Achávamos que ia ser um sucesso absoluto.
O que vimos foi algo curioso: o número de conexões subiu para 40, 50, e depois estagnou. Achamos que o problema era do marketing. Demitimos a equipe de marketing, contratamos outra — chegamos a 60 conexões. Depois pensamos que talvez a taxa de instalação fosse o problema; reduzimos a taxa e chegamos a 80 conexões, e parou aí. Concluímos: “ninguém quer Internet nessa comunidade, vamos tirar o link e levar para outro lugar; as pessoas são de baixa renda, talvez não queiram ficar online”.
Quando estávamos prestes a retirar o link, vimos algo interessante: normalmente, cada conexão consome, digamos, 100 GB ou alguns centenas de GB. Lá, estávamos vendo terabytes e terabytes de dados atrás de algumas poucas conexões. Pensamos: “espera aí, o que está acontecendo?”.
Quando fomos ver, as pessoas estavam conectando na nossa Internet de 10 dólares e revendendo essa conexão, ganhando 300 ou 400 dólares por mês. Era algo muito interessante de observar. Um ISP tradicional diria: “vamos desligar isso, estão roubando banda, é ilegal”. Mas nós vimos uma oportunidade: ninguém mais queria ir até aquela comunidade, e é muito difícil levar fibra até cada casa. Esses empreendedores locais eram extremamente criativos e famintos por banda; faziam de tudo para levar conectividade com o pouco dinheiro que tinham.
Em vez de desligar, criamos uma solução de software chamada TaaraShare, que permite legitimar esse modelo de revenda. Assim, eles podem revender a banda, virar pequenos empreendedores locais, usar quantos dados forem necessários, sem medo de estar “fazendo algo errado”.
Quando fui até essa comunidade e vi o tipo de oportunidade de renda e de transformação que isso trouxe para a vida das pessoas, fiquei impressionado. Só isso já teria valido todo o trabalho que fizemos na Taara. Ver o poder que as pessoas têm de transformar suas realidades com a Internet é algo incrível. Depois que você experimenta Internet de qualidade, apesar de todos os possíveis efeitos negativos, o lado positivo — educação, saúde, emprego — é extraordinário.
Para terminar, você pode falar mais sobre a parceria com o Rio de Janeiro? Quando será implantada a rede?
Claro. Nós acabamos de anunciar uma parceria com um prefeito visionário, o Eduardo Paes. É preciso muita coragem para apostar em algo tão transformador como isso. E, mais importante, é uma solução ambientalmente amigável.
Logo no dia seguinte à assinatura do acordo, fiz um tour pela cidade para conhecer as comunidades e as pessoas que poderemos conectar nesse processo. O projeto já começou, estamos na fase de definição de escopo. Nosso plano é implantar 22 enlaces ao longo do próximo ano, aproximadamente. Vamos começar por esses pontos iniciais, que vão conectar postos de saúde, escolas, alguns centros administrativos, bairros e comunidades, incluindo favelas.
A ideia é criar uma malha de conectividade em escala urbana a partir do início do ano que vem, e ir expandindo. Vamos contratar um integrador de sistemas local e também montar uma pequena equipe local para executar o projeto.
Foto no topo: equipamento Lightbridge (crédito: divulgação)

