Por cerca de dez anos, o mercado brasileiro de telefonia móvel se acostumou a chamar de “SVA” os mais variados serviços de entretenimento no celular. A sigla para “serviços de valor adicionado” é uma tradução livre de “VAS” (value added services), sua versão norte-americana.  Dentro dela cabia tudo o que não fosse voz. Ou seja: música, vídeos, jogos, mensagens de texto, mensagens multimídia, navegação na Internet etc. O termo foi cunhado pelas operadoras móveis internacionais e servia para classificar todos os novos serviços que fossem agregados à sua rede, que superassem as fronteiras originais do que se imaginava ser o papel de uma empresa de telefonia celular, ou que simplesmente lhe agregasse uma nova fonte de receita. Eram tempos em que 99% do faturamento das operadoras era proveniente de voz. E era uma época em que as operadoras controlavam totalmente a experiência dos assinantes em seus telefones celulares.

O cenário mudou. Hoje, a receita com SVA (incluindo aí a receita de tráfego de dados puro e simples) já representa cerca de 20% do faturamento das operadoras brasileiras e até 50% em países como o Japão. Ou seja, do ponto de vista das próprias teles, os SVAs estão deixando de ser coadjuvantes, ou meros serviços “adicionados”, para se tornarem protagonistas.

Outra mudança drástica é que as operadoras não reinam mais sozinhas quando o assunto é entretenimento no celular. Empresas como Apple e Google, que controlam os sistemas operacionais e suas respectivas lojas de aplicativos móveis, exercem agora esse papel com igual ou maior preponderância que as teles, dependendo do país e do segmento de mercado.

Por essas razões, a sigla SVA está fadada ao desaparecimento lento e gradual, o mesmo destino de tantas palavras ou expressões que caem em desuso. Isso porque ela está perdendo o sentido. O valor desses serviços não é mais um valor adicionado, principalmente quando olhamos para fora das operadoras e analisamos o enorme ecossistema de desenvolvedores de apps móveis no mundo. Para eles, esses serviços são o motivo principal de sua existência.

Novos tempos cunham novos termos. Há quem chame a fase atual de “SVA 2.0”. Mas talvez o mais adequado seja chamar esses serviços simplesmente de “conteúdo móvel”. Pelo menos até o dia em que não fizer mais sentido agregar ali a palavra “móvel”, porque tudo será móvel. E aí restará apenas o conteúdo. Este nunca desaparecerá.

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Nota do autor: Não será fácil, especialmente para mim, abandonar o uso do termo “serviços de valor adicionado”. A Converge Comunicações, que publica este site, foi uma das maiores responsáveis pela popularização da sigla “SVA” no Brasil, através da revista Teletime e do seminário Tela Viva Móvel. Há até quem diga que fomos os responsáveis pela sua tradução, o que não posso afirmar com segurança. Uma coisa é certa: devo ser um dos jornalistas que mais vezes escreveu “serviços de valor adicionado (SVA)” em matérias publicadas na imprensa brasileira.