A tecnologia é algo fantástico. Ela acaba sendo criada para favorecer e facilitar a vida do homem, em geral. Traz muitos benefícios, porém também lados negativos.

O problema, na verdade, não é a tecnologia. A questão está no mau uso da tecnologia ou na falta de conhecimento para utilizá-la de um modo saudável.

Os avanços no que chamamos de quarta revolução industrial, totalmente acelerados e que nos introduziram a uma nova dimensão de mundo (o digital), têm causado consequências sociais e emocionais nas pessoas. Muitos se tornaram dependentes dos aparelhos de uma forma pouco saudável.

O pior cenário, contudo, se direciona aos nossos pequenos. As crianças provavelmente serão as mais afetadas, e no mundo inteiro há pesquisas para determinar os problemas e amenizá-los.

Um adulto que se torna dependente já teve sua aprendizagem formada antes do contato digital. Uma criança é nativa no mundo digital, para ela não há separação. Cabe, portanto, ao adulto limitar e ensinar a criança a utilizar os aparelhos. A questão é que por conta da velocidade de mudanças, um enorme número de adultos nem saberia dizer por onde começar.

Smartphones e tablets são ótimos para distrair crianças. Prova disso são as cenas que vemos de adultos absortos em seus aparelhos, durante uma refeição num restaurante, mal mastigando sua comida, acompanhados de seus filhos, com seus tablets fazendo o papel de hipnotizadores e evitando que os pais tenham o trabalho de cuidar das crianças durante a refeição ou mesmo que tenham que desviar a atenção de seus próprios aparelhos.

Descrição bizarra, mas necessária, porque é exatamente isso que acontece aos milhões atualmente, às vezes em maior ou menor escala ou intensidade.

Não é uma cena familiar, onde há troca de experiências e os pais demonstram exemplos de convívio. Não é uma cena educativa, na qual os familiares ensinam a criança sobre como se alimentar e se comportar no local. O que se vê são pessoas que abrem mão do convívio analógico social e que deixam de ter experiências emocionais com outras pessoas. O que se vê são crianças que desde muito cedo escolhem o que fazer, sem supervisão, porque podem escolher, inclusive, se vão ou não jogar num app ou se vão ou não terminar de assistir a um desenho no YouTube.

A distração para as crianças é enorme e o pior é que elas têm o poder de controlar o quanto querem ser distraídas. Elas acham que dominam o aparelho, mas é simplesmente o oposto, porque ele, aos poucos, as deixam dependentes. A questão mais expressiva é que o impacto no desenvolvimento pode ter proporções desastrosas.

As crianças não possuem ainda experiências suficientes em suas vidas para lidar com determinadas questões. Desta forma, o uso excessivo ou pouco restringido de aparelhos pode causar a falta desenvolvimento de mecanismos internos que ajudam a ter determinados domínios e controles sobre nossas vidas.

As consequências têm aparecido na dificuldade das crianças. O impacto negativo aparece especialmente durante a alfabetização e ainda em aulas de matemática e ciências. Cada vez mais a aprendizagem é dificultada. Muito mais fácil culpar a escola, mas não se considera o que foi feito em nível de estímulo cerebral com as crianças antes da escola e em outros períodos de seu dia.

Elas não sabem conviver com colegas, porque não têm contato com limites, sendo seu “freio” social o smartphone ou o tablet. Elas não sabem lidar com frustrações e têm dificuldade de serem contrariadas, porque não há como “fechar” ou “pausar” os colegas e os professores. Elas não possuem destreza manual nem para usar objetos escolares.

O cérebro da criança não tem quase experiências que ajudam a memória de longo prazo, ela simplesmente não consegue reter informações, porque a velocidade de mudança e o controle dos aparelhos não lhe permitiu desenvolver esta habilidade no tempo correto.

Reflita bem e pense se a culpa é inteiramente da escola ou do professor, que a criança está com dificuldade em aprender. Qual foi a contribuição dos pais para que ela tivesse um melhor desenvolvimento? Claro que há casos e casos, mas o panorama mais geral está desta forma.

Ao mesmo tempo que os aparelhos são negativos, também são necessários, porque não há como não fazerem parte da vida das crianças em seu futuro, inclusive em suas profissões.

Desta forma, o correto seria o discernimento sobre em que momentos usar e o que liberar, a cada idade. Dar atenção à criança em situações sociais e ensinar a conviver com outras pessoas, inclusive lidando com suas emoções e sentimentos.

A tecnologia que temos atualmente é maravilhosa, mas ainda temos muito a aprender com ela e os adultos têm aí uma grande missão. É preciso saber usar com domínio e não ser dominado por ela, para compreender os limites e funções.

A criança deve, sim, ter o contato, mas deve, como tudo, fazer parte de uma aprendizagem. Como adultos, devemos ser nós a regularmos e orientarmos de uma forma saudável e que possa trazer benefícios em lugar de problemas de desenvolvimento.