Se um objeto pudesse dizer algo sobre você, qual seria ele? Talvez algum que esteja por perto boa parte do tempo. A julgar pela proximidade que as pessoas têm hoje em dia com seus smartphones, eles são os melhores candidatos para dizer coisas a seu respeito.

Existe até a chance de deporem a seu favor quando o assunto for o pagamento de um financiamento. Sim, isso é possível graças a uma nova tecnologia de score de crédito. Ela coloca a análise do perfil sob uma perspectiva mais ampla e moderna que somente a do histórico financeiro, por meio de uma abordagem ainda pouco utilizada no Brasil para a composição de scores: a comportamental.

Faz tempo que os estudiosos sabem que o modo como alguém lida com suas finanças acaba sendo um reflexo de sua personalidade como um todo. Daí decorrem os princípios da psicologia financeira, disciplina que relaciona a economia com o comportamento humano em geral. Um exemplo bem básico: uma pessoa mais arrojada nas decisões da vida tem mais chances de se dar bem com ativos de risco mais elevado na bolsa de valores.

A postura do indivíduo enquanto devedor pode ser vista também em atitudes suas do dia a dia que aparentemente nada têm a ver com dívidas. Já existem empresas que perceberam mais claramente essas interseções.

E, valendo-se daquele que atualmente se configura como um dos principais elos das pessoas com o meio que as cerca – o smartphone –, desenvolveram uma metodologia inteligente de interpretação de sinais, transformando ações ao teclado em indicadores de score de crédito.

Número de downloads. Organização de agenda. Tipos de conexão. Acredite, todos esses movimentos num mobile dizem muito sobre cada um de nós. E eles se tornam matéria-prima riquíssima de análise especialmente em cenários em que tanta gente não possui um histórico financeiro consistente para embasar uma decisão de concessão de crédito. É o caso do Brasil.

Isoladamente, uma informação pode não dizer muita coisa sobre o potencial de inadimplência de uma pessoa. No entanto, cruzá-la com outras tantas a partir de parâmetros e objetivos bem definidos constitui uma rede de dados bastante sustentável para caracterizar um perfil.

Análises estatísticas muito bem fundamentadas também entram nessa fórmula. O score integrado compara comportamentos dentro de grupos de indivíduos para identificar tendências. Assim, é possível calcular o quanto determinada ação no uso do smartphone é típica de alguém que paga suas dívidas sem atraso, mesmo que se trate de um indivíduo desbancarizado.

É esse o nicho de atuação das empresas que trabalham com os chamados scores de crédito integrado, aqueles que consideram muito mais que o histórico financeiro de um consumidor na hora de lhe atribuir um valor. E isso sem desrespeitar a privacidade das informações que acessam, uma vez que a análise não se baseia no conteúdo em si, mas nas características anonimizadas que o cercam – como o número de downloads, conforme já citado, e não o que foi baixado pelo usuário do aparelho.

É de fato o que se pode chamar de análise inteligente de dados. E, ao ampliar as possibilidades de concessão de crédito, esse método tem tudo para viabilizar um número crescente de novas transações comerciais em vários segmentos de mercado. E isso a partir do objeto que se mostra como um dos mais íntimos das pessoas nos dias atuais: o smartphone.