Entre os inúmeros setores da economia afetados pela crise mundial, decorrente da pandemia, um em especial – o da produção cultural – foi atingido duramente, pois promover encontros entre pessoas sempre esteve no seu cerne, ao mesmo tempo em que, muito dificilmente, caberiam outras alternativas, como o serviço de delivery abraçado por alguns segmentos, como varejo e alimentação. Cultura foi um dos primeiros setores a parar e, provavelmente, será um dos últimos a retomar plenamente suas atividades. A luz no fim do túnel tem sido absolutamente tecnológica.

A chamada indústria cultural, que, segundo o IBGE, emprega mais de 5 milhões de brasileiros e, segundo a Firjan, é responsável por 2,67% do PIB no Brasil, foi ameaçada duramente, deixando muitos de seus talentos sem trabalho e, consequentemente, sem renda. Milhares de profissionais, principalmente os autônomos, perderam seus empregos ou tiveram seus contratos paralisados, com o fechamento, mesmo que temporário, de teatros, galerias, museus, festivais e casas de espetáculos.

Felizmente, uma parte do setor viu na tecnologia uma possibilidade de continuar atuante e produtiva e, até mesmo, de ampliar seu público e o alcance da sua produção. As lives se multiplicaram, levando a um público curioso shows, performances, entrevistas e diversos tipos de encontros online. Tudo isso possível graças ao fato de que grande parte dos brasileiros está conectada, com a possibilidade de consumir produtos culturais na palma da mão. O celular é o principal meio de acesso à Internet no Brasil, pois está nas mãos de 79,3% dos brasileiros com mais de 10 anos, 88,5% dos quais com acesso à Internet (segundo a PNAD Contínua TIC / IBGE, 2018).

Diante da possibilidade de deixar dezenas de profissionais sem emprego, optamos por mantê-los trabalhando, produzindo teatro online e gratuito, sem abrir mão de todos os requisitos de segurança e alta qualidade. Convidamos o ator Luis Miranda e a diretora Monique Gardenberg que prontamente toparam o desafio: o de levar teatro até as pessoas, uma vez que elas não poderiam vir ao teatro. Elementos da linguagem cinematográfica trouxeram ainda mais possibilidades à montagem teatral. Os resultados foram absolutamente surpreendentes, indo muito além do que qualquer um de nós havia imaginado.

Mais de 80 mil pessoas, em 40 países ao redor do mundo, assistiram ao espetáculo Madame Sheila durante sua temporada, disponível online gratuitamente de 1o de outubro a 26 de novembro de 2020. Graças à tecnologia, o alcance da produção cultural foi dramaticamente ampliado, extrapolando os limites de São Paulo e indo a todos os estados do Brasil e a todos os continentes, a países como Vietnã, Quênia, Qatar, Romênia, Sérvia, Marrocos, Namíbia, Estados Unidos, Alemanha, França, Austrália, Angola, Argentina, Israel e Japão.

Uma conquista para cada um de nós, profissionais da cultura, que só foi possível graças ao acesso à Internet e a proliferação dos smartphones, pois 85,15% dos acessos foram feitos por celular, 13,5% por desktop ou notebook e 1,34% por tablet. Resultados que nos enchem de confiança e disposição para continuar e repetir esta iniciativa e, sobretudo, revelam o surgimento de novos produtos culturais pensados também para o consumo online e que, ao que tudo indica, chegaram pra ficar, passando a fazer parte daqui em diante das rotinas de produção.