Não é fácil mudar os hábitos de uma sociedade. Mesmo quando são maus hábitos. Requer grandes campanhas de educação combinadas, às vezes, com penalidades. E mesmo assim nem sempre dá certo.

Lembro de alguns maus hábitos da sociedade brasileira que foram reduzidos nas últimas décadas graças a um grande esforço de governos e, em alguns casos, com o apoio da iniciativa privada. O primeiro deles foi o uso do cinto de segurança dentro dos carros. Quando eu era pequeno, na década de 1980, era muito comum motoristas e caronas no banco da frente não usarem o cinto de segurança por acharem desconfortável. Foram necessárias diversas campanhas e reportagens mostrando como a letalidade aumenta em acidentes nos quais as pessoas não usam o cinto para que os brasileiros se convencessem da sua necessidade. Ao mesmo tempo, os guardas começaram a multar os carros com gente sem cinto.

Outra campanha que surtiu efeito foi a antitabagista. Eu sou um bom exemplo. Cresci vendo campanhas na TV e em outros meios alertando para os riscos do cigarro. Atribuo a elas a ojeriza que sinto ao fumo: nunca tive vontade nem sequer de experimentar. Mais tarde, quando eu era um jovem adulto, veio a proibição de fumar em locais públicos fechados.

Mais recentemente merece destaque a Operação Lei Seca e toda a campanha para evitar que motoristas dirijam depois de ingerirem álcool. Neste caso, as blitzes, as multas e a retenção de carteiras de motoristas tiveram o efeito pedagógico necessário. Além disso, houve o apoio da iniciativa privada: várias marcas de cerveja já promoveram campanhas publicitárias apoiando essa mudança de hábito.

Lembro que houve resistência de parte de uma minoria da população nos três casos citados. Havia gente que reclamava que o cinto de segurança amassava sua roupa. Outros se queixaram de não poder mais fumar dentro do restaurante ou boate e acusavam ser um cerceamento de sua liberdade – esquecendo-se, porém, que incomodam todos ao seu redor, inclusive os funcionários do estabelecimento, que não podem escolher trocar de mesa. E até no caso da mistura de álcool e direção houve gente reclamando que o limite era muito baixo e que nem um bombom de licor podiam mais comer antes de pegar o volante.

Com o passar do tempo, levantamentos e pesquisas demonstraram os benefícios para a sociedade dessas três mudanças de hábitos e as resistências foram vencidas.

Hoje em dia há um novo mau hábito que precisamos mudar: o de olhar o celular enquanto dirigimos. Essa distração já é uma das principais causas de acidentes automobilísticos no País. É preciso realizar uma grande campanha educativa, mostrando os perigos dessa prática. E seria bacana se atores desse mercado, como operadoras e fabricantes de smartphones, aderissem à ideia. Para os mais ansiosos em ler ou responder mensagens, vale lembrar que comandos de voz podem ser usados em substituição dos dedos em muitos smartphones e apps. Nem precisa de muita criatividade para pensar no slogan da campanha: se dirigir, não digite.