“Traga Seu Próprio Dispositivo”: essa foi a máxima utilizada por muitas empresas que se juntaram nesta semana na conferência "CTIA Enterprise & Applications", em San Diego, nos EUA. Em um claro trocadilho com o termo BYOB (Bring your Own Beer), o principal tema tratado na conferência foi “Bring your Own Device” (Traga Seu Próprio Dispositivo), e se refere à tendência de empresas passarem a aceitar que seus empregados utilizem seus próprios dispositivos móveis – entre eles celulares, smartphones, tablets e laptops – dentro do ambiente corporativo.

Executivos e funcionários têm cada vez mais pressionado seus departamentos de TI para que possam utilizar seus novos gadgets a fim acessar informações corporativas, sendo a mais comum delas o próprio e-mail. Há certamente benefícios para empresas em possibilitar que sua comunidade utilize seu próprio dispositivo. O principal deles talvez seja custo: em sendo o dispositivo de propriedade do funcionário, a empresa precisa investir menos na aquisição e planos desses novos aparelhos, que, diga-se de passagem, não são nada baratos. Isso traz um nível de conforto maior para o usuário, que não precisa engolir “goela abaixo” o aparelho que seu gerente de TI entendeu que era o mais apropriado para ele.

Mas certamente há uma série de riscos envolvidos em adotar esse grau de “liberdade” tecnológica. Os departamentos de TI têm como funções primárias o controle e a segurança dos ativos digitais que a empresa possui, e aqui inclui-se informação, sistemas, aplicações, dados e comunicações, entre muitos outros, e certamente terão muito trabalho para lidar com essa nova avalanche de padrões tecnológicos, protocolos de segurança, aplicações, e sistemas operacionais. A aplicação do controle necessário simplesmente não conseguirá manter o mesmo ritmo da evolução do mercado mobile o que significa que um novo paradigma precisa ser estabelecido caso as empresas persigam o objetivo de ter sua comunidade 100% conectada.

Há também uma grande dúvida em como lidar com essa segmentação de utilização “pessoal versus profissional” dentro de um mesmo ambiente móvel. O fato é que portar dois ou três dispositivos que performam exatamente a mesma função para o usuário não pode ser a melhor solução.

Mesmo com todas as barreiras e com o cenário nebuloso, muitas empresas estão seguindo a tendência "Traga seu Próprio Dispositivo". Uma pesquisa realizada pela 451 Group mostrou que, nos EUA, 71,2% das empresas pesquisadas estão permitindo utilização de dispositivos pessoais para o trabalho.

Este é de fato um grande problema para o ambiente corporativo e abre ao mesmo tempo uma excelente janela de oportunidade para a indústria mobile. Fabricantes de dispositivos, sistemas operacionais e desenvolvedores podem certamente se beneficiar deste momentum, e isso ficou muito claro a partir de novos lançamentos dessa indústria na CTIA. Motorola, Samsung e LG anunciaram novas iniciativas para empresas que aumentarão o controle e segurança de dados nos seus aparelhos.Mas isso não resolve todo o problema, uma vez que as companhias têm de lidar com todos os fabricantes e não será possível utilizar um sistema de controle para cada fabricante.

O anúncio mais interessante nessa área partiu da gigante AT&T, que lançou um novo serviço que permite que smartphones (inicialmente apenas Androids) troquem de modo entre “Profissional” e “Pessoal”. Dessa forma, quando operando em um dos modos, todos os dados, contatos, agenda e aplicativos ficarão isolados, permitindo ao smartphone ter duas personalidades. Isso possibilita criar um ambiente exclusivo para que o departamento de TI possa controlar apenas o que for necessário, sem inferir em qualquer problema com a privacidade do conteúdo pessoal do smartphone.

No Brasil certamente essa é uma tendência ainda nascente, uma vez que a penetração de smartphones é muito inferior ao mercado norte-americano, mas aqueles que souberem se preparar para esse desafio que está por vir serão os maiores beneficiados.

E você, utiliza seu smartphone pessoal para trabalhar?