O Brasil é um país com uma população cada vez mais sênior. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, a população com 60 anos ou mais de idade representava 15,3% do total da população brasileira, o que equivale a 32,1 milhões de pessoas que vivem em uma realidade onde o índice de analfabetismo e analfabetismo funcional em todas as faixas etárias é um desafio para os designers de UI/UX. De acordo com o IBGE, em 2019, 10,7% da população brasileira era analfabeta e 29,4% era analfabeta funcional.

O tema eficiência na comunicação tem absorvido a atenção da SeniorLab que atua há 10 anos exclusivamente focada no mercado de consumo 60+. Com dados preliminares do estudo que realizamos identificamos uma realidade que leva o marketing 60+ para o próximo nível de dificuldade: a construção de pontes de relacionamento entre marcas, produtos e serviços e uma população com nenhum ou com nível de escolaridade mais baixo.

O estudo com base em dados de instituições governamentais atualizados mensalmente identificou que 59% da população 60+ no Brasil se enquadra no grupo que se declara como Fundamental Incompleto, Lê e Escreve e Analfabeto. Dentro do grupo que Lê e Escreve e o grupo com Fundamental Incompleto estão o que chamamos de analfabetos funcionais. Eles leem e escrevem, mas não conseguem ou têm grande dificuldade em interpretar e entender o significado de uma frase e não conseguem realizar as quatro equações matemáticas. Pode parecer muito surreal, mas é a realidade e o ambiente de mercado onde marcas, produtos e serviços têm que atuar e ajudar.

Este dado causa desconforto, mas ao mesmo tempo é possível tangibilizar de imediato duas coisas: 1) o tamanho do desafio para a indústria criativa e da comunicação cumprir sua função adequadamente. 2) a imensa capacidade do brasileiro 60+ em se adaptar e a conseguir fazer seu melhor (como eles chegaram antes, tudo o que foi construído e realizado no País tem a mão, o talento, a força e a criatividade deles).

Como desenvolver interfaces digitais e analógicas para esta população? Este é o segredo e a carga de aprendizado que desenvolvemos nesta última década interagindo, aprendendo, experimentando, desenvolvendo e aperfeiçoando relação marca X consumidor 60+. O mais importante é entender seu cliente e acrescentar na equação, ou no algoritmo, a interveniente de como deve ser a comunicação e a linguagem para atingir a todos que possam e queiram se relacionar com sua empresa.    

O envelhecimento da população traz novos desafios para os desenvolvedores de interface e experiência do usuário (UI/UX). Os usuários 60+ têm características de fluidez de comunicação distintas das gerações mais jovens. Com a ampliação da expectativa de vida e o nível de atividade que pessoas de 60, 70, 80 e mais anos estão mantendo, um cruzamento evitável (evitável mesmo) de interfaces inadequadas e mudanças naturais nos sentidos humanos e na cognição ampliam as situações que desperdiçam oportunidades de estabelecer uma comunicação fluida e eficiente com este grupo de consumidores. Grupo bilionário de consumidores, diga-se de passagem.

Para atender às necessidades dos clientes 60+, a UI/UX é preciso levar em consideração os seguintes fatores:

  • Visibilidade: As interfaces devem ser projetadas para serem facilmente visíveis para pessoas com visão reduzida. Isso pode ser feito usando fontes adequadas e claras (já tratamos deste assunto aqui na coluna), contraste alto e cores contrastantes.
  • Audibilidade: As interfaces sonoras devem ser projetadas para serem facilmente audíveis para pessoas com alterações auditivas. Isso pode ser feito usando áudio claro e linguagem coloquial fácil de entender, bem como legendas ou transcrição de áudio.
  • Familiaridade: As interfaces devem ser projetadas para serem entendidas por pessoas com menos familiaridade com as tecnologias digitais. Isso pode ser feito usando linguagem simples e direta, símbolos conhecidos bem como metáforas familiares. Importante: ao utilizar um símbolo em uma interface para o público 60+, use-o com o significado de denotação, não de conotação. O Brasil é imenso e diverso. Ao desenvolver interfaces de abrangência nacional preste atenção aos regionalismos. 
  • Interface de áudio e vídeo: Isso permite que as pessoas entendam as instruções sem ter que ler ou que superem as dificuldades da sua baixa ou nenhuma escolaridade.

A realidade educacional da população 60+ brasileira é tão importante e de tanto impacto que voltaremos a explorar outros aspectos que podem melhorar a comunicação e a vida da população, do consumidor e do usuário 60+. Considerando que segundo a pesquisa TIC 2023, 72% dos 60+ possuem celular e 59% dos 60+ têm baixo ou nenhum nível de escolaridade, o smartphone já chegou aonde a Educação Básica não alcançou. Vejo aí uma oportunidade de transformar vidas.