Digamos que você queira ou precise de um celular novo. Leitor do Mobile Time, é provável que tenha um notebook próprio e/ou da empresa, arranjo que diminui a importância do celular, que pode ser reduzido às tarefas… móveis, como trocar mensagens em trânsito, fazer ligações, pagamentos, chamar um Uber ou te guiar pelo mapa.

Assistir a filmes? Ler um textão? Responder e-mails? O notebook está logo ali, com sua tela grande e teclado confortável.

Que tal um celular pequeno, do tipo que cabe no bolso e pode ser usado com apenas uma mão sem contorcionismo?

Se essa ideia lhe agrada, sinto informar que não existe celular pequeno no mercado brasileiro E que, mesmo lá fora, o cenário é desolador.

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Eu sabia que celulares modernos são grandes. Ainda assim, assustei-me com o tamanho do Galaxy A55, que comprei pela internet sem nunca tê-lo segurado (erro terrível) numa tentativa de ver o mundo móvel de outro ângulo, do lado de fora do cercadinho da Apple onde sou cativo há uma década, preso (e satisfeito) no momento a um iPhone SE de terceira geração.

O Galaxy A55 não é grande. É enorme! Fala-se das dimensões de aparelhos pelo tamanho da tela, uma medida que não reflete bem a realidade neste mundo de telas que ocupam toda a superfície frontal dos celulares. Por isso, quero tratar do assunto em duas dimensões, pegando altura e largura.

Começando pela comparação que me é mais óbvia, entre o iPhone SE e o Galaxy A55:

rodrigo ghedin

O celular da Samsung é quase um tablet perto do acanhado iPhone SE, que poderia ser ainda menor não fossem seu queixo e testa avantajados, indícios explícitos de um projeto quase tão antigo quanto a minha relação com a Apple. (Tive três iPhones desde 2015, todos com o mesmo corpo: iPhone 6S, iPhone 8 e este iPhone SE.)

A opção pelo Galaxy A55 deu-se pelos mesmos motivos que, acredito, guiam boa parte dos consumidores que não estão com dinheiro sobrando. É um projeto moderno, com especificações razoáveis, a promessa de atualizações do software por vários anos e a chancela de uma grande fabricante.

No papel, é difícil encontrar defeitos. Na prática, usar o Galaxy A55 causava-me dor física. Seu peso e tamanho exigem muito das minhas mãos já maltratadas por anos de digitação e arrastando o mouse. Outro problema foram os bolsos das minhas calças, alguns curtos para acomodar o celular gigante. Talvez a indústria têxtil esteja em conluio com as fabricantes de celulares?

No fim, voltou o cão arrependido ao seu bom e velho iPhone de botão. Chega um momento em que é preciso admitir a derrota.

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Se eu pudesse voltar no tempo e priorizar o conforto no manuseio, quais opções de celulares eu teria?

Poucas.

O site GSMArena tem um “descobridor de celulares” com diversos filtros, um ótimo ponto de partida na busca pelo celular perfeito ou o mais próximo disso.

Tomando por base o familiar iPhone SE (138,4×67,3 mm), fiz uma pesquisa por aparelhos lançados nos últimos dois anos com dimensões máximas de 140×70 mm.

A pesquisa retornou cinco resultados de marcas de que nunca ouvi falar, como Ulefone e Doogee, e que não operam no Brasil.

Não esperava resultado diferente. Decidi, então, alargar a definição de “pequeno” em se tratando de celulares.

“Celulares lançados nos últimos dois anos com dimensões máximas de 150×75 mm”.

Agora são 12 resultados, quatro deles lançados no mercado nacional: o Zenfone 10, da Asus, e o Galaxy S25 e seus dois antecessores. E todos os iPhones “padrões” desde sempre, que omiti da pesquisa porque, afinal, é uma busca por alternativas à Apple.

rodrigo ghedin

Alguns anos atrás, a Asus emplacou uma bem-sucedida campanha de marketing para posicionar o Zenfone como um celular pequeno. O que sempre achei estranho, visto que tinha o mesmo tamanho de um iPhone e de um Galaxy S comum, celulares que não são tidos como “pequenos” por… bem, ninguém?

O que o marketing da Asus talvez não soubesse é que, na real, pouca gente quer um celular pequeno, embora esse grupo, no qual me incluo, não perca a chance de lamentar a escassez de celulares pequenos.

O Zenfone enquanto último bastião dos celulares “pequenos” durou três gerações. No Zenfone 11, a Asus abraçou os celulares gigantes e apresentou um aparelho avantajado.

Antes dela, a toda-poderosa Apple ouviu o chororô de gente como eu e lançou uma versão mini do iPhone. Durou duas gerações, e creio que o iPhone 13 mini só existiu porque essas coisas são decididas com muita antecedência e quando o iPhone 12 mini se revelou um fracasso de vendas, era tarde demais para abortar os planos do seu sucessor.

Dito isso, alguém que queira um celular pequeno hoje, no Brasil, precisa de duas coisas: fazer uma generosa concessão no conceito de celular “pequeno” e ter dinheiro, porque só sobraram os topos de linha de Apple e Samsung em tamanho “pequeno”.

Não aguentei duas semanas com o Galaxy A55, mesmo tendo gostado de voltar ao Android em um celular pessoal após tantos anos. Voltei ao iPhone SE, já de olho numa troca de bateria (detonada após três anos de uso) e com um cuidado redobrado daqui em diante para preservá-lo o maior tempo possível.

 

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