É chover no molhado afirmar que o celular foi a mídia que democratizou a Internet. O fenômeno dos smartphones conectados às redes móveis de alta velocidade abriu uma nova dimensão, em termos de intimidade cognitiva e imersão de uso, para um dispositivo de mídia.

Livros, aparelhos de rádio, televisores, revistas e jornais. Nenhum desses “devices” chegaram perto da penetração e da ubiquidade do celular, em nível individual, em todas as camadas sociais e econômicas da população. 

Sobretudo no Brasil, país altamente conectado e “heavy user” de aplicações como redes sociais, marketplaces e, claro, conteúdo. Principalmente conteúdo noticioso em alta frequência, com informações distribuídas em WhatsApp, Telegram, Twitter e outras redes.

Isso gerou oportunidades para agentes oportunistas ocuparem espaços de forma ilegítima, causando danos profundos na sociedade com as fakes news e campanhas de desinformação.

Por isso é fundamental falar de responsabilidade midiática. Conversando há algumas semanas com o Fernando Paiva, publisher da MobileTime, estávamos estupefatos por conta do comportamento da mídia em relação à espetacularização de um brutal ataque a uma escola infantil. Promoção do nome do assassino, cobertura sensacionalista, midiatização insensível, que chegou ao ponto do ataque perder a referência da tragédia e do sofrimento humano. Tudo isso vindo da mídia dita “profissional”, que replica sem consciência, nem zelo, os métodos de “clickbait” dos oportunistas.

Por isso, já passou da hora de pautarmos o tema “responsabilidade midiática”, com seriedade. E não apenas dos grupos tradicionais de mídia, mas de todas as marcas relevantes na sociedade. Sejam varejistas, sejam empresas B2B, não importa. 

Todas as marcas de impacto na economia, inclusive as setoriais, precisam colocar a mão na consciência. Tanto para campanha de anúncios, que devem parar de poluir a mente e as telas das pessoas com venda a todo custo, bem como informação editorial em si.

Afinal, toda marca que se propõe a liderar seu segmento tem a oportunidade e o dever de atuar em seu setor como um publisher editorial especializado, com conteúdos informativos, tutoriais e curadoria sobre seus campos semânticos, baseado em um planejamento em nível profissional. Não só produzir conteúdo, mas torná-lo acessível em forma, linguagem e distribuição: integrá-lo com buscadores, com as redes sociais e com as campanhas publicitárias, com qualidade editorial e integridade das informações.

Isso é responsabilidade midiática. É usar bem o celular nas mãos de mais de uma centena de milhões de brasileiros para ajudar a resgatar as boas práticas de consumo de conteúdo editorial e publicitário. Inclusive para mitigar o espaço de oportunistas em seu setor de atuação, em paralelo com o necessário reforço de autoridade, reputação e de renovação dos repertórios de comunicação, agora em linha com o espírito e a ética do presente século.  

Por isso as organizações notáveis precisam dar um basta, urgentemente, no sensacionalismo, na cultura do imediatismo, nas campanhas predatórias de vendas ou naqueles informes publicitários artificiais e ultraproduzidos, que não interessam a ninguém.

Devem começar a refletir, de fato, sobre o conceito de “responsabilidade midiática” para atuar com programas editoriais verdadeiros e responsáveis, que vão ajudar tanto nas vendas, quanto na construção de uma sociedade mais bem informada.

Tanto marcas quanto grupos de mídia têm que entender de vez que saímos da Sociedade do Espetáculo do século XX. Aquele mundo de reclames e sensacionalismo ficou para trás. Agora estamos em plena Sociedade da Informação, o século XXI, quando a sociedade demanda por informação e não por persuasão. E que o celular, mídia com maior capilaridade na história, foi o grande catalisador dessa transformação. 

Líderes de organizações de grande visibilidade precisam desenvolver em suas equipes de comunicação e marketing, de forma clara e prática, responsabilidade midiática para lidar com essa plataforma de mídia móvel. Afinal, as pessoas precisam ser informadas e não convencidas. A mudança já aconteceu e o cenário está claro. Mas é preciso ter consciência das mudanças, responsabilidade na comunicação e atitude profissional para ser uma organização realmente construtiva e transformadora nesses tempos de transição midiática.