2022 foi um ano difícil para a indústria de games, e ainda mais para o setor mobile. Depois de um início fabuloso com várias fusões e aquisições (Microsoft com Activision/King, Take2 com a Zynga), e muito hype em cima dos blockchain games, o que se viu ao longo do ano foi uma série de demissões e fechamento de estúdios.

Os grandes determinantes para esse cenário foram o abrandamento da pandemia, que fez as pessoas voltarem às ruas, deixando de jogar tanto, e consequentemente a gastar menos, e as novas políticas de privacidade em relação a anúncios, que tornaram muito mais caro impactar jogadores e fazê-los baixar os games.

Um outro fator é que durante os anos de lockdown muitas empresas revisaram seus business plans contemplando o aumento de usuários e não consideraram o eventual retrocesso. Analisando forecasts pré-pandemia, a receita em 2022 em muitos casos foi maior do que a projetada, mas comparando com um forecast feito em 2020 (pós-pandemia) a receita foi menor, e as empresas não quiseram esperar para ver e ajustaram seus quadros de funcionários focando em maximizar o lucro.

O que esperar para 2023 então? 

Free2play: o final de 2022 trouxe uma grande novidade com o Brawl Stars abandonando a monetização pro loot boxes (onde o jogador não sabe o que vai ganhar ao comprar uma caixa surpresa) e focando no modelo de Battle Pass (passe por temporada, quase como uma assinatura) e venda de cosméticos. Levando em conta que jogos top grossing como Fortnite monetizam apenas com esse modelo é de se esperar que mais jogos passem a adotar essa monetização ao longo de 2023.

Também é esperado que as fusões e aquisições continuem, e também que haja mais demissões, com os estúdios otimizando seus quadros e buscando mais eficiência, já que o custo de aquisição de usuário não dá sinais que vai baixar, com leis de proteção de dados cada vez mais rígidas no mundo todo.

Metaversos: as grandes apostas de 2022 foram exatamente os metaversos fora do mobile, e que ainda não mostraram números relevantes, mas olhando o cenário mobile, metaversos (ou jogos sociais) como Zepeto, IMVU e incluindo até mesmo o Roblox (já que a maior parte dos jogadores usa plataformas mobile para acessar o game) vão muito bem e continuam a crescer, numa taxa menor, mas com cada vez mais conteúdo sendo gerado pelos próprios jogadores.

Para 2023 esperamos ver mais plataformas de user generated content sendo lançadas e mais ferramentas para facilitar a criação de fases e assets nos metaversos mobile atuais. 

Os metaversos passam cada vez mais a ser mais uma plataforma aberta onde os jogadores e marcas podem criar seus conteúdos, ganhando um percentual em cima das vendas geradas. É a “Creator Economy”.

Blockchain: o conceito de NFT de “ser dono do que se joga” é muito poderoso, mas foi mal explorado ao longo de 2022 com jogos que ou tem comportamento de pirâmide ou que apenas incluem NFT sem pensar num gameplay coerente. Uma grande revelação veio do Brasil, com a WildLife lançando NFTs dentro do Castle Crush. O jogo ganhou um prêmio de jogo do ano de um site especializado (link). 

2023 promete ser o ano em que veremos mais jogos de qualidade sendo lançados. Publishers como a própria Wildlife e Tilting Point já anunciaram que vão lançar mais jogos ao longo ano, e a Apple já aceita compra de NFTs por dentro da AppStore (ficando com seus 30% de praxe), num movimento que vai tornar possível ao jogador comprar NTFs sem precisar passar por todo o processo complicado de abrir uma carteira crypto.

E para os estúdios brasileiros? Muito oportunidade, principalmente em co-produção com publishers de fora do Brasil em Blockchain e Metaverso, e de Fusão/Aquisição para criar um player brasileiro maior, capaz de disputar de igual para igual com estúdios estrangeiros.