Queda - Imagem Shutterstock

O mercado brasileiro de frete está sofrendo com a falta de caminhões e de empresas do ramo para realizar o transporte de carga e pode afetar envio de produtos para as festas de fim de ano. De acordo com Federico Vega, CEO da Cargo X (Android), empresa de frete voltada para o mercado B2B, os dados de sua companhia mostram uma queda de até 20% de veículos para transporte de logística puxada por efeitos da pandemia do novo coronavírus.

“A falta de caminhões começou em maio deste ano. Teve o efeito que ninguém sabia o que aconteceria na pandemia. Governo fechou paradas, mecânicos, borracharias. O caminhoneiro (inclusive empresas menores de frete e frota) começou a ficar com fome, pois não tinha carga para o caminhão. E quando o País começou a sair do lockdown, nós percebemos que faltavam caminhões”, explicou Vega.

Em termos mais práticos, o executivo disse que “se o caminhão quebra e não tem capital, acabou o negócio para esses empresários”. Afirmou que muitos do setor ficaram sem trabalhar por três meses e que o resultado foi a quebra de muitos.

“Isso ficou mais óbvio na safra, mas o efeito foi pouco observado, pois os tipos de caminhões são diferentes para o agronegócio. Os caminhões ‘normais’ são aqueles que estão sofrendo com a pandemia. São os que levam bebidas, brinquedos, eletrodomésticos”, disse. “Houve um aumento da demanda pelo e-commerce, o mercado começou a pedir mais caminhões. Neste momento vimos que faltavam de 10% a 20% dos veículos. E começa a afetar o preço do frete e o empresário começará a pagar mais”, completou.

Vega explicou também que não houve aumento do preço médio dos fretes durante as entregas da Black Friday, porque elas ocorrem em outubro. Mas acredita que pode haver aumento neste final do ano e começo de 2021. E, em relação à demanda, o executivo explicou que sofreu impacto no primeiro mês de pandemia, com um recuo de 95% nos fretes comparados a abril de 2019. Contudo, por ser uma plataforma online, a Cargo X chegou a crescer em alguns meses próximo de 300%. Essa demanda está alta por grande parte de seu portfólio estar em fase de migração para o e-commerce.

Preocupação na ponta

Vega percebe preocupação por parte de seus clientes. Disse que muitos estão começando a estocar produtos pela falta de caminhões. E reconhece que no Natal e nas festas de fim de ano, há produtos que podem ficar sem abastecimento, como bebidas e comidas.

O CEO da Cargo X acredita que essa falta de produtos pode ocorrer pela alta demanda das empresas, como ocorreu na Black Friday: “A demanda está aumentando se comparado a 2019. Tem alguns produtos de construção civil e matérias-primas que estão parados. E o mercado de bebidas alcoólicas não aumentou, os pedidos estão baixos ainda. As pessoas não estão em restaurantes e bares. As pessoas que estão em casa investem em entretenimento e têxtil. Mas no final do ano, a bebida alcoólica deve começar a voltar”, disse o executivo.

Linha de crédito

Pelo lado da plataforma de frete, Vega afirmou que está tentando ajudar os clientes a encontrar caminhões para seus clientes fazerem transportes. Além disso, a companhia oferece linha de crédito para os caminhoneiros, embarcadores e frotistas, mas essa vertical foi afetada por calotes durante a pandemia e não pôde chegar ao objetivo que a empresa tinha traçado para 2020.

“Temos investido dinheiro em capital de giro. Neste ano, a inadimplência ficou alta e não conseguimos colocar R$ 300 milhões de capital de giro para frotistas. Ano passado emprestamos R$ 200 milhões. Mas começamos a dar capital de giro para frotista e cobrir calote. Além disso, estamos desenvolvendo um produto escalável: se a avaliação do caminhoneiro é boa, dá correlação nível 1 positiva no empréstimo, mas o caminhoneiro que tem reclamação recebe avaliação negativa”, disse. “Como acontece no Mercado Livre, nós vamos separar o caminhoneiro bom do ruim, que terá acesso ao capital mais barato. E o mesmo acontece com o embarcador pequeno”.