Com a previsão de investimento de R$ 23 bilhões até 2029, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) foi debatido durante o Fórum da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) nesta quarta-feira, 17, em Brasília. De acordo com Hugo Valadares, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o principal objetivo do PBIA é expandir o acesso e possibilidades de uso da IA, visando a democratização do acesso à tecnologia.
“Se a gente for investir em uma tecnologia que sirva exclusivamente aos interesses de uma pequena casta e que sirva para algumas empresas com poucas pessoas ganharem dinheiro, então esse plano não nos serve”, declarou Valadares.
O diretor explicou que as diretrizes buscam formar, capacitar e requalificar pessoas em grande escala; equipar o país com infraestrutura com alta capacidade de processamento; promover ações de desenvolvimento tecnológico e ações de cooperação internacional em IA; e desenvolver modelos de linguagem em português com dados nacionais que abarcam a diversidade cultural, social e linguística.
Valadares explicou que o tema é “geopolítico” e cercado de interesses. “IA não é só chatGPT e afins. Muito pelo contrário, é muito maior que isso. Porém, o mundo está passando por uma transformação tecnológica que está tendo raízes e problemas de ordem geopolítica, de uma corrida tecnológica”, comentou.
O PBIA se estrutura em 54 ações em infraestrutura, capacitação, uso da tecnologia no serviço público, na inovação empresarial e apoio ao processo regulatório e de governança. O governo estima que o plano tenha impactos imediatos, de curto prazo, nas áreas da saúde; agricultura; meio ambiente; indústria, comércio e serviços; educação; desenvolvimento social; e gestão do serviço público.
“A previsão de recurso é mais ou menos de R$ 23 bilhões. É um recurso que já está sendo usado, embora o plano tenha uma duração prevista de cinco anos, a gente percebeu que boa parte desses recursos já estão aplicados e resultados estão sendo entregues”, explicou.
Silvio Bulhões Azevedo, secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação de Alagoas (Secti) e presidente do Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CONSECTI), defendeu que o investimento em IA, a nível estadual, deve ser “coordenado”.
“Isso é para que não haja sobreposição de investimento e carência em outras áreas, para que não haja investimentos onde já há uma disponibilidade de recursos muito alta, nos grandes centros especialmente, como São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, enquanto faltam em estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste”, argumentou.
O secretário acredita ser necessário a instituição de um comitê gestor do PBIA para centralizar o debate e a gestão de recursos dos “ecossistemas estaduais de inovação, não só as Secretarias Estaduais”.
PBIA com educação e capacitação
O investimento em mão de obra preparada para um futuro envolto pela IA é um tema de interesse para o MCTI. Valadares avaliou que a formação acadêmica superior no país é “muito boa”, mas ponderou que a pasta “fez muito pouco de ação direta”. “Porém, isso está surgindo por si só. Mapeei 15 cursos de IA que estavam surgindo, por exemplo o da UnB (Universidade de Brasília).”
“O próprio ecossistema, com a pungência do tema, e as próprias instituições de ensino já estão correndo atrás disso sem que a gente diretamente induza. Mas é preciso fazer mais e mais rápido”, opinou, indicando que o Ministério tem atuado em diversas frentes para ampliar a educação e o ensino em IA.
Valadares relembrou que o ritmo de avanços não é o desejável, inclusive pelo tempo imposto pela máquina pública. Ele relembrou que o Orçamento deste ano foi votado em março. Além disso, defendeu que o centro de pesquisa e conhecimento em IA não fique restrito às universidades públicas, apesar de estas serem um importante pólo de conhecimento para o setor.