O Museu Móvel volta aos dispositivos com um episódio que ocorreu em 1992, quando o CEO da Apple à época, John Sculley, apresentava um protótipo do Apple Newton, um aparelho desenvolvido como um computador portátil, se referindo a ele como um tipo de PDA (sigla em inglês para assistente pessoal digital). O termo – que hoje define toda uma classificação de aparelhos móveis pré-IA – surgiu, “literalmente, dois minutos antes do discurso”, de acordo com o que James Joaquin, responsável pelo marketing do Newton contou em documentário sobre o aparelho.
“Gosto de ‘assistente digital pessoal’ [personal digital assistant]. Vamos com PDA”, teria dito Sculley a um dos desenvolvedores antes de entrar no palco. Naquele momento, a equipe ainda tentava traduzir o que era o Apple Newton, porque não havia nada semelhante até então.
O aparelho prometia, basicamente, reconhecer a caligrafia a partir de rabiscos feitos em sua tela sensível (de, aproximadamente, 17cm por 10cm) com uma caneta digital, e o rabisco virava texto. Sem teclado, seria possível mandar uma mensagem de fax.
A ideia era disruptiva e já vinha sendo trabalhada nos anos anteriores por uma equipe que testava tecnologias ainda não implementadas. Relatos do time da época apontam que a abertura das experimentações partiu de uma carta branca dada pela Apple a Steve Sakoman, ex-HP que estaria “entediado” em fazer computadores que pareciam “caixas retangulares de plástico”.
Os depoimentos da equipe também destacam que houve uma pressão comercial para o lançamento quando o aparelho ainda não estava pronto o suficiente, o que acabou comprometendo as vendas. O pedido era por algo que coubesse em um bolso.
O Apple Newton aparece no Computer History Museum como um dos marcos do desenvolvimento dos computadores em 1993, quando “a Apple entrou no mercado de computadores portáteis” mas “o software de reconhecimento de escrita foi muito criticado por sua imprecisão”.
A precisão era essencial, pois o reconhecimento da caligrafia era a partida para todas as possibilidades dentro do aparelho. Ele ficou conhecido comercialmente como “Apple Newton MessagePad”, que contou com vídeo publicitário que mostrava o uso pessoal e corporativo.
A linha foi descontinuada em 1998. O comunicado, que até hoje pode ser encontrado no site da Apple, traz uma aspa de Steve Jobs, então CEO interino da empresa, dizendo que aquela decisão era a mais “coerente com a estratégia de concentrar todos os recursos de desenvolvimento de software na evolução do sistema operacional Macintosh”.
Apesar da descontinuidade, as tecnologias utilizadas no aparelho fizeram parte da inspiração para o iPad. Ao comparar os dispositivos, os técnicos do Newton sintetizam que o aparelho dos anos 1990 fazia com uma tela sensível ao toque e uma caneta o que os tablets passaram a fazer com o comando de voz que a IA tornou possível (claro que, dentro das limitações). Além disso, o aparelho não deixou de ser usado. Foi justamente a paixão de alguns fãs que motivou o documentário “Notas de amor ao Newton”, que mostra pessoas que continuaram utilizando o aparelho e, inclusive, garantem que se tornou um sucesso entre os filhos. “É bem limitado — o que é bom, porque não tem a distração da internet”, concluiu um pai.
Imagem principal: Apple Newton. Crédito: Reprodução/Love Notes to Newton/Grant Hutchingson