O isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus também deixou em evidência outra pandemia, a da violência doméstica. Nos 12 meses anteriores à Covid-19, 243 milhões de mulheres e meninas (de 15 a 49 anos) em todo o mundo foram submetidas à violência sexual ou física por um parceiro íntimo. Com a pandemia, é provável que esse número cresça com múltiplos impactos no bem-estar das mulheres, em sua saúde, diz em seu site o ONU Mulheres.

Ainda antes da pandemia, sempre houve a subnotificação de casos de violência contra a mulher, com menos de 40% das vítimas de violência buscando qualquer tipo de ajuda ou fazendo a denúncia do crime. Menos de 10% das mulheres que procuravam ajuda iam à polícia.

Em pleno isolamento social, o Ligue 180, canal que recebe denúncias de violência contra a mulher no Brasil, teve um aumento de 9% de ligações. Segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), a média diária entre os dias 1 e 16 de março foi de 3.045 ligações recebidas e 829 denúncias registradas, contra 3.303 ligações recebidas e 978 denúncias registradas entre 17 e 25 deste mês.

Pensando em como melhorar a forma de denúncia para a mulher, empresas, governos e organizações desenvolveram diferentes formas de estimular a mulher a fazer a denúncia.

Chatbot

É o caso, por exemplo, a iniciativa resultada da união de Instituto Avon, Uber e Wieden+Kennedy, que lançaram na última terça-feira, 28, uma assistente virtual que oferece uma forma silenciosa para as mulheres pedirem ajuda e receberem a orientação necessária confinadas em suas casas.

Para acessar a robô, a pessoa deve colocar em seus contatos o número (11) 94494-2415. A chatbot simula uma pessoa na rede de contatos da vítima, sem despertar a atenção do agressor. A mulher deverá responder algumas perguntas para que a assistente virtual possa identificar o grau de risco que ela corre e receber o suporte mais adequado. Caso seja necessário buscar uma unidade de saúde, delegacia ou um centro de atendimento que presta serviço e assistência social e psicológica e orientação jurídica às mulheres em situação de violência, a mulher receberá um código promocional para solicitar uma viagem, de graça, no aplicativo da Uber (Android, iOS) e se deslocar com independência.

A Uber anunciou que a iniciativa faz parte de um compromisso global em fornecer auxílio de 10 milhões de viagens.

Minas Gerais

O Governo Estadual de Minas Gerais, através da Polícia Civil do estado, lançou em março um aplicativo que presta suporte às vítimas de violência doméstica. O MG Mulher (Android, iOS) faz parte de um programa para prestar auxílio às vítimas e o monitoramento 24 horas por dia dos agressores já investigados pela Lei Maria da Penha que utilizam tornozeleira eletrônica.

O app permite criar uma rede de contatos da vítima para que ela possa, em apenas um clique, acionar, via SMS, as pessoas cadastradas em sua rede de proteção.

No app é possível encontrar uma lista com endereços de serviços voltados à proteção da mulher, além de conteúdos informativos sobre violência doméstica.

São Paulo

A Polícia Militar do Estado de São Paulo também possui um aplicativo para denunciar a violência doméstica. O SOS Mulher (Android, iOS) permite que pessoas que estejam em Medida Preventiva concedida pela justiça possam acionar o serviço do 190.

Para acessar o aplicativo é preciso ter na justiça a medida preventiva contra o agressor. Com o documento, será possível requisitar o acesso ao app. Caso a pessoa agressora descumpra a determinação judicial, a vítima deve acionar o serviço de emergência 190 pelo aplicativo no dispositivo móvel. Dessa forma, é feita a localização aproximada de quem solicitou e a informação é enviada ao serviço de emergência. No entanto, o app funciona apenas com o serviço de GPS habilitado e disponibilidade de rede no local.

Amapá

Também com o nome de SOS Mulher (Android, iOS), esse aplicativo foi desenvolvido por uma equipe do Ministério Público do Amapá para apoiar vítimas de violência doméstica. Nele, é possível cadastras cinro pessoas de confiança e, quando solicitado, o app envia uma mensagem de socorro com a localização atual da vítima. Mas, assim como o de São Paulo, é preciso ter crédito e rede no local.

O app também permite que a pessoa compartilhe sua história de forma anônima.

Facebook

No fim do ano passado, a ONG Think Olga apresentou sua robô para dar informação, segurança e acolhimento às mulheres. Ao acessar a ISA.bot (Facebook e Google Assistente), a usuária recebe informações sobre as formas pelas quais o agressor pode atuar, como por meio de vazamento de fotos íntimas, ameaças, discurso de ódio, invasão da conta de e-mail, e quem faz parte do seu grupo-alvo (além das mulheres brancas, negras, indígenas, lésbicas, mulheres trans ou bissexuais, estão ainda mais vulneráveis a ataques). A outra opção da usuária é clicar no botão “Ajuda agora!”, onde será orientada para se proteger caso esteja sofrendo violência doméstica ou virtual.

Atualmente, em decorrência da pandemia, a ISA.bot também tem um Modo Ativista, para jornalistas, militantes, lideranças comunitárias, líderes empresariais e equipes de campanhas políticas. Para acionar o modo, é preciso chamar a robô inbox, no Facebook, ou no Google Assistente, e digitar uma palavra-chave que é secreta e está sendo divulgada no boca a boca ou pelo e-mail [email protected].

A bot foi pensada pelo Conexões que Salvam, da Organização Não-Governamental Think Olga, pelo Mapa do Acolhimento, do Nossas.org, desenvolvida pela Cosmobots e contou com o apoio do Facebook, Google e do ONU Mulheres.

Disque 100

No início do ano, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) disse que embarcaria os serviços do Disque 100 no aplicativo Proteja Brasil (Android, iOS) e aceitaria denúncias de violência contra criança, abuso sexual, exploração sexual, violência contra a pessoa com deficiência, contra povos tradicionais e comunidade LGBTI.

No início do mês, o MMFDH informou que estava desenvolvendo um app que seria uma versão do Ligue 180 e do Disque 100. Porém, até o momento, tanto esse aplicativo recém-divulgado quanto o Proteja Brasil não se encontram nas lojas de aplicativos