Um estudo realizado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), publicado na revista Sleep Epidemiology em 2022, revelou que mais de 65,5% dos brasileiros consideram o seu sono sem qualidade. É nesse contexto que nasceu a SleepUp (Android, iOS), plataforma de terapia digital. O app serve como um software médico, que reúne protocolos clínicos para ajudar, de forma personalizada, pessoas que sofrem de insônia.

Baseado em evidências com respaldo clínico e regulatório, o app utiliza dados do usuário para auxiliar no tratamento da doença. Essas informações podem ser colocadas manualmente ou são coletadas por wearables, que fazem monitoramento em tempo real. A partir disso, métodos da terapia cognitivo-comportamental e da terapia cognitiva baseada em mindfulness são usados para ajudar a pessoa dormir melhor, integrando diversos recursos.

App monitora o sono do usuário. Imagem: divulgação

Terapia digital

A plataforma possui um diário do sono, que registra hábitos, horários e outros sinais biométricos, como batimentos cardíacos, estagiamento do sono, informações sobre doenças e uso de medicamentos. Os dados também são registrados por meio de testes clínicos, que investigam o sono e a saúde mental do usuário.

Dados sobre saúde mental são agregados à plataforma. Imagem: divulgação

Estes dados são analisados e apresentados em relatórios. É possível saber, por exemplo, por quanto tempo dormiu, os horários de despertar e adormecer, a eficiência do sono e sua latência. Até mesmo os despertares noturnos são quantificados, assim como sua duração.

Segundo Renata Bonaldi, CEO e confundadora, o app considera mais de 200 métricas para dar orientações e dicas ao usuário, com base nos seus dados pessoais. “A gente trabalha com algoritmos proprietários de inteligência artificial e machine learning para a personalização da terapia e, principalmente, para monitoramento do sono”, afirma.

A pessoa pode também, por conta própria, buscar outros recursos, como auxílio para relaxamento e meditação. A plataforma possui telemedicina, disponibilizando consultas com médicos, psicólogos e fisioterapeutas especializados em sono, mediante custo adicional. O profissional tem acesso aos dados clínicos do usuário por meio de um dashboard, no qual pode registrar informações, acompanhando a evolução do paciente.

“Uma curiosidade é que boa parte dos nossos usuários tomam remédios para dormir. A gente viu que a SleepUp traz uma eficácia ainda maior, quando a nossa solução é combinada com tratamento farmacológico”, conta Bonaldi.

Os resultados sobre essa pesquisa serão apresentados no Congresso Europeu do Sono, em setembro de 2022. Nela, 100 pessoas que utilizaram o aplicativo por mais de dois meses e eram usuários recorrentes de medicamento foram monitoradas. Segundo os dados, elas apresentaram uma melhora de 41% no índice de insônia, que mede as queixas de sono; 40% no índice de higiene do sono, que mede comportamentos e hábitos inadequados sobre o sono; e 13% na eficiência do sono, que mede o tempo dormindo em relação ao tempo na cama.

A plataforma disponibiliza relatórios sobre o sono da pessoa. Imagem: divulgação

Condições específicas de sono também são tratadas em módulos separados. Pessoas na menopausa, com depressão, trabalhadores noturnos ou crianças, por exemplo, possuem diferentes características, que necessitam de uma abordagem especial. A plataforma tanto educa os usuários, como intervém para ajudar no tratamento.

“O que uma pessoa faz quando vai no médico e no psicólogo do sono para realizar terapia presencialmente, a gente trouxe para o digital, para poder dar mais acessibilidade às diversas regiões do Brasil e condições de classe social”, conta a CEO.

Fundação

Pouco depois da healthtech ter sido criada, a pandemia teve início. Um momento oportuno para seu desenvolvimento, já que dados de uma pesquisa do InsCer (Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul) mostraram que 70% dos adultos tiveram alterações para iniciar ou manter o sono, após o início da emergência global.

Não à toa, em 2021, a SleepUp participou do programa de aceleração Samsung Creative Startups, ganhando R$ 250 mil para o desenvolvimento de um wearable. No mesmo ano, se incorporou ao portfólio da Eretz.bio, incubadora do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Em novembro daquele ano, recebeu um aporte de R$ 2 milhões dos grupos de investidores GVangels, Aimorés, Poli Angel, Sororité, Jupter e outros quatro executivos.

“A pandemia trouxe cada vez mais a conscientização das pessoas e das empresas da importância do sono de qualidade. Acabou afetando o sono de diferentes formas, por questões de saúde mental, de hábitos e rotina”, explica Bonaldi.

Em agosto de 2021, o app ganhou aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comercializar o tratamento de distúrbios do sono, atendendo os requisitos de segurança e eficácia exigidos pela agência. Assim, novos recursos puderam ser agregados e disponibilizados em planos de assinatura mensal, que variam de R$ 24,99 a R$ 69,99, além da modalidade gratuita,.

Tempo dormindo e as fases do sono são alguns dos dados disponíveis. Imagem: divulgação

Uma parceria anunciada em julho de 2022 com a Claro deve democratizar ainda mais o acesso à terapia digital, um dos objetivos da SleepUp, segundo a confundadora. Clientes da operadora podem adquirir planos especiais, de R$ 4,99 por semana ou R$ 19,99 por mês. Com a iniciativa, a CEO espera que a plataforma alcance 10 milhões de pessoas no segundo semestre de 2022.

Os planos para o futuro incluem o lançamento de um wearable, que deve chegar no final de 2022, como parte do programa de aceleração da Samsung. Trata-se de um eletroencefalograma vestível, uma faixa colocada na cabeça para monitoramento mais preciso do sono, medindo sinais cerebrais.

A empresa também se prepara para levar o app a outros países da América Latina e Europa, além dos Estados Unidos. Uma parceria com a Algar Telecom, ainda em 2022, deve ajudar a aumentar a base de usuários.