Painel sobre MVNOs no Fórum de Operadoras Alternativas, com José Luiz Pelosini, da America Net; Davi Fraga, da Surf Telecom; Anderson Azevedo, da Vivo; e Alberto Blanco, da Veek (da esquerda para a direita).

O Brasil precisa criar um novo modelo de operadora móvel virtual (MVNO) que se encaixe entre os dois previstos atualmente pela regulamentação, conhecidos como autorizado e credenciado. Esta é a opinião de especialistas que participaram de painel sobre MVNOs durante o Fórum de Operadoras Alternativas, nesta terça-feira, 2, em São Paulo, evento organizado por Mobile Time e Teletime.

O modelo autorizado seria equivalente àquele chamado de “full MVNO” na Europa, onde a operadora móvel virtual precisa investir em todos os sistemas, menos na rede de acesso propriamente dita, e ainda é obrigada a cumprir praticamente as mesmas exigências regulatórias de uma operadora tradicional. Isso é muito caro e acaba só fazendo sentido para empresas que já atuam em telecomunicações e que, portanto, possuem boa parte desses sistemas. É o caso, por exemplo, da America Net, que originalmente é uma operadora de telefonia fixa e banda larga para o mercado corporativo e agora montou uma MVNO autorizada na rede da TIM. Empresas que vêm de fora do setor de telecom e se arriscam a montar uma MVNO autorizada acabam pagando o preço disso. O exemplo mais emblemático foi a Porto Seguro Conecta, que teve que investir pesado em sistemas próprios e ano passado acabou desistindo da operação.

O modelo credenciado, por sua vez, está no outro extremo: a MVNO é uma simples revendedora dos planos da operadora dona da rede e não tem autonomia para modificar a precificação.

A maioria das MVNOs ao redor do mundo adotam um modelo intermediário em comparação com os dois existentes no Brasil, diz Joaquin Molina, consultor da Altome. É um modelo que ele chama de “prestador de serviço”, ou uma espécie de operadora autorizada que investe apenas em alguns poucos sistemas, alugando o restante da operadora parceira dona da rede. Em geral, essas MVNOs investem somente em sistemas de billing, CRM e, às vezes, na plataforma responsável pelo tráfego de dados, para ter a possibilidade de criar ofertas especiais, como zero rating para determinados apps.

Joaquin Molina, consultor da Altome, em palestra no Fórum de Operadoras Alternativas

Pelas contas de Molina, uma autorizada precisa desembolsar entre US$ 10 milhões e US$ 12 milhões somente para montar a infraestrutura necessária para entrar em operação, sem contar marketing e outros custos. Enquanto isso, uma prestadora de serviço gastaria no máximo US$ 2 milhões, dependendo de quais sistemas adotar.

Alberto Blanco, CEO da Veek, concorda que falta um modelo intermediário no Brasil: “Falta um modelo do meio. O modelo da autorizada é uma operadora completa, porém sem frequência. Isso te traz um custo grande para operar em um mercado no qual as margens são pequenas. Por sua vez, o modelo credenciado não traz a flexibilidade necessária”, explicou.

Virtualização

Mas o mercado não precisa esperar a Anatel modificar a regulamentação. Uma das saídas é as operadoras tradicionais oferecerem às MVNOs autorizadas a possibilidade de acesso a parte dos seus sistemas ou mesmo à virtualização dos mesmos. O diretor comercial de atacado da Vivo, Anderson Azevedo, informou que sua empresa está montando essa oferta. “Fizemos uma virtualização de HLR e de elementos de rede. E, adicionalmente, oferecemos plugins, para facilitar a vida do autorizado”, disse.