Depois de muitos sinais e declarações da Comissão Europeia de que as tarifas de roaming têm sido uma barreira para os consumidores que viajam dentro da União Europeia; depois de uma sequência de preços máximos estabelecidos ao longo dos últimos anos; da redução das tarifas do roaming para voz, mensagens de texto e acesso a dados; após a implementação de mecanismos de prevenção de Bill Shock; depois de regulamentos para introduzir novos players para roaming (prestadores alternativos de roaming); depois de tudo isso, foi declarada a decisão final: as tarifas de roaming serão abolidas em todos os 28 países da UE em dezembro de 2015. A medida foi anunciada pelo Parlamento Europeu, após uma votação retumbante em favor da reforma: 534 favoráveis e 25 contra!
O movimento inclui alterações fundamentais para a neutralidade da Internet, que garante que todo o tráfego seja tratado igualmente – o que significa, essencialmente, que as operadoras não podem potencializar os seus serviços através do bloqueio ou forçar uma velocidade diferente para provedores que trabalham em cima de sua rede. Exemplos desses serviços são Skype, Facebook e muitos outros.
Sendo razoável, esta medida não é mais uma surpresa. Ações recentes e comentários de legisladores da UE tornaram fácil de prevê-la, e a proximidade das eleições europeias atuou como um acelerador. As operadoras com certeza já estavam esperando por isso. Na verdade, já vimos algumas delas com ofertas "roam like home".
Do ponto de vista do consumidor, esta é uma mudança bem-vinda. Os usuários certamente vão se sentir mais confortáveis usando seus telefones celulares enquanto viajam pela Europa, particularmente quando se trata da utilização de dados. Vendo esta mudança juntamente com a crescente mobilidade das pessoas no interior da UE, e a evolução exponencial da qualidade de serviço para acesso a dados com as redes 3G e 4G, a indústria está esperando um aumento considerável no tráfego de roaming.
Do ponto de vista das operadoras, significa uma pressão adicional para as margens de lucro já apertadas após as mudanças da regulação do roaming. Durante as discussões com os reguladores, as operadoras alertaram que abolir as tarifas de roaming por completo poderia levar ao aumento dos preços globais, diminuição na qualidade do serviço (devido ao investimento reduzido) e poderia, em última instância, funcionar como uma barreira para a evolução do setor.
Mas, ao voltar para o comportamento do consumidor, percebemos que hoje em dia é muito comum ver usuários bloqueando o roaming de dados antes de viajar para outro país, ou comprando um cartão SIM local ou mesmo procurando um local de conexão Wi-Fi, a fim de evitar a cobrança de roaming. Esses fatos aliados ao aumento exponencial da demanda dos consumidores por acesso a dados por meio de smartphones e tablets, contribui para uma perda de receita considerável para os operadores de origem. Apesar disso, parece haver uma certa relutância de algumas operadoras em enfrentar esses problemas.
O comportamento do consumidor certamente irá mudar à medida que os usuários comecem a usar os seus dispositivos móveis da mesma forma como usam em seus países de origem. E é aqui que reside a oportunidade para as operadoras definirem uma estratégia forte e inovadora para explorar os novos desafios e garantir que esse tráfego permaneça em suas redes de roaming. As operadoras necessitarão monitorar o comportamento do usuário e a qualidade do serviço prestado a fim de evitar o churn; adotar mecanismos fortes para evitar perda de receita e combate à fraudes, que com o aumento do tráfego se tornarão mais frequentes; implementar uma estratégia combinada para atacado, varejo e interligação para minimizar os custos e maximizar as receitas; focar em acordos com parceiros para potencializar visitantes na rede doméstica e os melhores preços de roaming ao visitar redes de parceiros; e explorar novos serviços baseados em redes LTE (4G).
Há também o "fator disseminador". Apesar de ser improvável uma regulamentação global para eliminar as tarifas de roaming, algumas dessas medidas tenderão a ser adotadas através de acordos bilaterais com os players fora da UE. Este fator também pode se tornar um forte mecanismo de marketing, com benefícios em termos de resultados de roaming. Neste caso, os acordos de grupo ou em alianças devem ser um fator chave para o sucesso.
Embora ainda haja alguns passos a percorrer até que os planos propostos para erradicar as tarifas de roaming na UE sejam efetivos, e espaço para mudanças nas regras, uma reforma das telecomunicações europeias está acontecendo, e os consumidores estão esperando ansiosamente por ela. O desafio para as operadoras é saber usá-la como uma oportunidade para fazer renascer o negócio de roaming. E os primeiros a fazê-lo certamente terão uma vantagem considerável nessa competição.