Se a comparação entre digital e analógico não existe mais para os bancos, como disse Sérgio Rial, presidente do Santander, em junho deste ano, para as operações de telefonia o momento é de arregaçar as mangas e começar a trabalhar em sua transformação digital. Pelo menos este é o consenso entre teles, fornecedoras de infraestrutura e a agência reguladora.  

“A fase das apresentações dos painéis de transformação digital acabou. Isto tem que acontecer agora. Temos que parar de falar e começar a fazer”, enfatizou Stefano De Angelis, CEO da TIM. “O ponto principal é que a experiência do cliente digital não pode ser apenas lá fora, precisa estar dentro da operadora também”.

Durante o painel dos presidentes de empresas no terceiro dia do Futurecom, nesta quarta-feira, 4, De Angelis disse que a transformação dará uma oportunidade para a retomada do crescimento no setor e que espera fazer isso logo, uma vez que os processos digitais atuais estão em cima de uma estrutura antiga, com sistemas legados.

O presidente da América Móvil, José Felix, apontou em sua visão que as teles estão no começo do processo de mudança, pois as corporações terão redução de custos com processos de vendas e atendimentos que poderão ser digitalizados e hoje custam bilhões. Mas enfatizou que é difícil no atual cenário, mais pelos legados: “O difícil é fazer (a transformação digital). Pois nós carregamos um legado muito grande de milhões de assinantes de vários produtos, TV, internet fixa e internet móvel”, disse Felix.

Por sua vez, Marcos Schroeder, presidente da Oi, acredita que o setor está atrasado na inovação digital e culpa em parte a legislação do setor, que estaria defasada e colaborando para retardar o crescimento nos últimos anos, além da questão tributária que pesa nas contas das telcos e precisa ser discutida antes de as companhias investirem mais em transformação.

Em contrapartida, Leonardo Euler, conselheiro da Anatel, afirmou que o problema da falta de desenvolvimento por parte das operadoras não é regulatório e que, embora as margens Ebitda das operadoras tenham caído, elas poderiam explorar setores que demandam conectividade, como a agricultura, que responde por 22% do PIB brasileiro. Ainda assim, Euler concordou com Schroeder que o atual modelo regulatório precisa ser renovado e que os impostos são danosos ao ecossistema. Lembrou do ICMS cobrado para as operadoras que varia entre 25% e 35% dependendo da localidade. 

Pelo lado das fornecedoras de tecnologia para as teles, Eduardo Ricotta, CEO da Ericsson no Brasil, afirmou que a digitalização acontece na indústria inteira. O discurso foi amplificado por Daniel Gustavo Mirabile, CEO da NEC, que completou dizendo que eles também tiveram que mudar para atender as demandas digitais. Já Ricardo Distler, diretor executivo da Accenture, frisou a necessidade de política públicas e um novo marco regulatório para o segmento no País.