O campeonato de automobilismo com carros autônomos, o Roborace Season Alpha, terá sua estreia em maio de 2019. A novidade foi apresentada pelo piloto brasileiro da Fórmula E, Lucas Di Grassi, criador da nova categoria por meio de sua startup de direção autônoma, a Roborace.

“Tenho esta ambição que é trazer veículos autônomos para o automobilismo. Estamos criando o primeiro esporte do mundo que terá a interação do humano com a inteligência artificial”, disse o piloto. “Será uma combinação de homem e máquina. A ideia é ser mais uma competição de tecnologia do que de Motorsport. Queremos trazer o público que gosta de tecnologia”.

Na categoria que começou em 2015, os pilotos vão dirigir os carros Devbots, um veículo com direção autônoma, chassi padrão e dois motores elétricos. As equipes serão compostas por empresas de tecnologia, automobilísticas e universidades.

Os carros serão iguais e correrão em condições iguais: o único trabalho a ser feito será no algoritmo. Os pilotos, por sua vez, terão o auxílio da direção autônoma para melhorar os tempos nas pistas. Por exemplo, o sistema pode mostrar um melhor traçado para o piloto dirigir mais rápido, ou o contrário, por meio da inteligência artificial.

Entre os desafios imaginados para os pilotos da Roborace, estão direções com obstáculos virtuais, que poderão ser vistos por realidade aumentada pelos espectadores. Os locais e as etapas da categoria serão revelados em breve.

Questionado se isso pode acabar com o modelo atual do automobilismo, o campeão da Fórmula E na temporada 2016-2017 acredita que não. Ele comparou a criação da categoria autônoma a outros desenvolvimentos com inteligência artificial, como a disputa do Deep Blue, da IBM, contra o enxadrista Garry Kasparov em 1997.
“O Deep Blue derrotou o Kasparov. E isso tem mais de 20 anos. Nem por isso deixamos de jogar xadrez entre nós (humanos)”, completou.

Desenvolvimento

Com 60 pessoas em sua equipe, a Roborace já produziu seis carros por meio de suas sedes em Oxford, Londres, e Los Angeles, EUA. Atualmente, seis modelos do DevBot já foram criados. Além dele, a companhia desenvolveu outro automóvel, o Robocar, 100% autônomo, que sequer tem espaço para piloto, e é capaz de chegar a 320 km/h.

Os dois carros já foram testados em pistas de corrida na Inglaterra. “O carro autônomo está 12% mais lento que o humano, mas estamos chegando lá. No começo do ano era 20% mais lento”, explicou o piloto, que divide sua atividade na Roborace com o cockpit de seu Audi na Fórmula E.

Das pistas às ruas

Di Grassi explicou que a ideia da categoria é ajudar a acelerar a criação da tecnologia dos carros autônomo nas ruas. Assim como a Fórmula 1 colaborou para a indústria automobilística com o desenvolvimento de freios ABS, suspensão inteligente e telemetria.

“Queremos incentivar o processo de automação de veículos em pista. Se a gente conseguir, vamos acelerar a adoção dos carros autônomos e reduzir os acidentes”, afirmou o empreendedor ao lembrar que 93% dos acidentes de trânsito acontecem por erro humano.

Embora tenha criado a nova competição do zero, o empreendedor explicou para Mobile Time que a Roborace pretende ser apenas o provedor da tecnologia e o organizador do evento. Lembra ainda que o custo de uma equipe na categoria é 10 vezes menor que a F1 – apenas a Ferrari gasta US$ 570 milhões por ano, segundo a Forbes.

Barreiras

Entre os desafios, o piloto brasileiro vê a padronização na direção autônoma. Mesmo disponibilizando o seu sistema, Driver Twin, como código-aberto, ele frisou que cada fabricante está trabalhando com um padrão diferente, o que dificulta a criação e a adoção mais ampla da solução. Outra questão a ser definida até o lançamento da Roborace Season Alpha é o modo de transmissão. Ele e sua equipe desejam adicionar realidade aumentada para os espectadores de forma mais interativa para a nova categoria.