Preocupações relacionadas à segurança nacional, à segurança pública e à defesa da concorrência devem levar governos ao redor do mundo a criarem leis que impactem o mercado de mensageria móvel, a longo prazo. Esta é uma das previsões do especialista no tema, membro do IEEE e CEO da Questera Consultoria, Raul Colcher. Ele conversou com Mobile Time por email sobre tendências no mercado de mensageria e a segurança dos seus principais apps.

Mobile Time – Como o IEEE imagina o futuro dos apps de mensageria móvel? Quais as tendências que projeta para esse segmento?

Raul Colcher, membro do IEEE e CEO da Questera Consultoria

Raul Colcher – A tendência atual é de intensificação e diversificação de uso de aplicativos de mensageria móvel. A maturação dos smartphones como plataformas de uso múltiplo, envolvendo, dentre outros, comunicação de voz, texto e dados, cooperação e relacionamento social e de negócios, acesso a informação, acionamento e controle de dispositivos, cria oportunidades para o aprofundamento do emprego dos sistemas de mensagens instantâneas, como mecanismos mais convenientes e mais baratos do que o e-mail e a telefonia móvel convencional. Por outro lado, emergem novos e importantes aplicações para essas plataformas, como, por exemplo, seu emprego como mecanismos de pagamento e transferência direta de recursos entre usuários, com ou sem intermediação bancária.

 O que precisa ser melhorado na segurança dos serviços de mensageria móvel?

Os sistemas comerciais de mensageria móvel convencionais não atendem a requisitos de segurança associados a processos ou aplicações sensíveis, governamentais ou corporativas, mas possuem características de segurança apropriadas para aplicações típicas, sem grande criticalidade. A criptografia fim a fim, empregada no WhatsApp e em outros apps similares, protege razoavelmente contra invasões e/ou intrusões menos sofisticadas, e se compara favoravelmente às técnicas de “criptografia em trânsito”, também largamente empregadas. Por outro lado, cria algumas dificuldades no relacionamento entre operadores internacionais desses aplicativos e governos, em contextos nos quais alegadamente a segurança dessas mensagens tem sido aproveitada para proteger terroristas, traficantes e outros criminosos e contraventores em geral.

O que acha da utilização de blockchain para serviços de mensageria descentralizados? É viável? Por quê? Quais as vantagens?

Estritamente de um ponto de vista técnico é certamente viável. Existem numerosas iniciativas de sistemas de mensagens instantâneas comerciais recentes que incorporam soluções de blockchain (por exemplo, as plataformas DUST, CRYPTVISER e ECHO) e todas elas afirmam oferecer um grau de proteção à privacidade superior àquela dos players tradicionais do segmento e apregoam níveis de segurança aproximados dos característicos de sistemas militares e governamentais sensíveis. Nesse momento, não está claro se chegarão a competir eficazmente, atingindo fatias de mercado significativas ou se serão, no máximo, algumas delas, soluções de nicho, especializadas para determinados setores, áreas de negócios ou aplicações.

Como acredita que o IEEE pode contribuir para a melhora dos apps de mensageria?

A contribuição do IEEE tem se dado e provavelmente continuará a se dar de diversas formas: como instituição que congrega profissionais em grupos de trabalho, discussão, facilitação de projetos cooperativos etc; como produtor de standards (normas técnicas) que interage e coopera com instituições normativas domésticas e internacionais (como a UIT, a ISO e a IEC, por exemplo); como grande publicador de pesquisas e artigos técnico-científicos, um dos maiores em todos os setores em que atua; como indutor e produtor de conhecimento para educação profissional e técnico-científica. Existem trabalhos do IEEE em andamento, relevantes para o progresso dos apps de mensageria, em áreas tão diversificadas quanto redes de acesso à internet, com e sem fio, computação na nuvem, blockchain, IoT, engenharia de software, ciência de dados, inteligência artificial, segurança computacional e muitos outros.

Hoje o mercado mundial de mensageria móvel é dividido entre cinco ou seis players, cada um dominando determinados mercados (WhatsApp, Facebook Messenger, WeChat, Line, Kakao, Viber etc). Essa fragmentação tende a aumentar ou a diminuir a médio prazo? Por quê?

É difícil prever, a médio e longo prazos, o comportamento do mercado em área tão dinâmica quanto a da comunicação interpessoal mediada por plataformas móveis. A curto prazo, os apps mais representativos parecem estar abocanhando uma boa parte. Por exemplo, segundo o próprio portal Mobile Time, o WhatsApp superou 1 bilhão de usuários ativos mensais e o WeChat se aproxima rapidamente dessa marca. Em prazos maiores, provavelmente o ambiente será influenciado por questões regulatórias, em áreas complexas e diversificadas, tais como, por exemplo, o empenho dos sistemas judiciários e agências de contra-inteligência para obter acesso privilegiado aos conteúdos; as legislações nacionais e acordos internacionais relativos à propriedade intelectual e à proteção de dados pessoais; e a atuação de agências governamentais dedicadas à preservação da concorrência, em função da tendência já existente de concentração no setor, com fusões e aquisições de serviços. Por outro lado, o mercado parece destinado a expandir-se aceleradamente, abrindo caminho para serviços de nicho, em função da maturação de grandes oportunidades em aplicações corporativas  e IoT, por exemplo.