Em junho do ano passado, quando o pagamento por WhatsApp havia sido originalmente anunciado pelo Facebook para entrada em operação no Brasil, o Banco Central apressou-se em suspender a iniciativa, exigindo uma análise prévia para conceder uma autorização especial. À época, o mercado bancário realizava os últimos preparativos para o lançamento do Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo BC, previsto para novembro. Para muitas fontes no mercado, a decisão do órgão regulador de suspender temporariamente o pagamento por WhatsApp teve como objetivo preservar o Pix, que estava em vias de ser lançado. Havia o temor que a chegada do Facebook Pay, nome oficial do pagamento por WhatsApp, atrapalhasse a popularização dos pagamentos instantâneos. Passados cinco meses de operação e mais de 1 bilhão de transações do Pix, o pagamento por WhatsApp finalmente está disponível para os brasileiros, com a devida autorização do BC. Mas qual espaço cada um desses meios de pagamento vai ocupar? O Facebook Pay é uma ameaça ao Pix? É preciso primeiro entender as diferenças entre os dois.
Mobile Time teve a oportunidade de testar o pagamento por WhatsApp e constatar que a experiência é fluida e até mais fácil que a do Pix, simplesmente pelo fato de acontecer dentro do WhatsApp, ambiente que o brasileiro conhece como ninguém. Afinal, é o app mais popular do País, presente em 98% dos smartphones nacionais, de acordo com a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel. Para mandar dinheiro para um amigo ou familiar, é mais fácil fazê-lo pelo WhatsApp, dentro de uma conversa, do que abrir o app do banco com login e senha, procurar a opção do Pix e informar a chave cadastrada pelo destinatário, que não necessariamente é o número celular que temos registrado na agenda, podendo ser seu CPF, email ou mesmo uma chave alfanumérica.
Além disso, o dinheiro enviado pelo WhatsApp cai na conta imediatamente. Dá para dizer que é tão “instantâneo” quanto o Pix, e também funciona 24/7.
Só que o pagamento por WhatsApp tem uma série de restrições, algumas delas temporárias, e que vão impactar na velocidade da sua adoção pelo consumidor final e por comerciantes. Enquanto o Pix está disponível para qualquer pessoa com uma conta corrente ou de pagamento das 750 instituições participantes do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI), o pagamento por WhatsApp está limitado a quem possui um cartão de débito, pré-pago ou combo da Visa ou Mastercard emitido por um dos nove emissores participantes neste momento: Banco do Brasil, Bradesco, Inter, Itaú, Mercado Pago, Next, Nubank, Sicredi e Woop Sicredi.
Além disso, o Facebook Pay está limitado a R$ 1 mil por transação; R$ 5 mil por mês, e 20 transações por dia. No Pix o BC permite até 30 transações gratuitas por pessoa física por mês. Acima desse limite, pode ser cobrado.
O Pix hoje pode ser usado para pagamentos a empresas, enquanto o Facebook Pay está temporariamente restrito a transações entre pessoas físicas. Quando for liberado para compras, e para uso com cartão de crédito, haverá cobrança ao comerciante de uma taxa pela rede de adquirência. Um ano atrás havia sido divulgada a taxa de 3,99%, que é considerada alta. Em contrapartida, alguns bancos têm oferecido o Pix de graça para pessoas jurídicas ou cobrado uma taxa fixa, em torno de R$ 10, em um modelo similar ao aplicado para TEDs e DOCs.
No fim das contas, depois que for liberado para a maioria dos emissores, o pagamento por WhatsApp tem potencial para tomar boa parte das transações de baixo valor entre pessoas físicas. Para compras, seu sucesso vai depender da atração dos lojistas, que vão comparar o custo da transação com a quantidade de novas vendas que o WhatsApp pode lhe proporcionar. O Pix, por sua vez, continuará sendo mais vantajoso para transações de maior valor, tanto entre pessoas físicas quanto para compras. Além disso, o Pix é uma alternativa mais prática e mais barata que o boleto bancário. E pode ser usado entre empresas e para pagamentos de e para governos.
Por fim, vale lembrar que essa relação entre Pix e pagamento por WhatsApp, que parece uma disputa no presente, pode acabar em casamento no futuro. Diversas fontes, incluindo o próprio Facebook, já declararam que o pagamento por WhatsApp poderá ser integrado ao Pix mais à frente. Só que isso significa uma mudança no funcionamento do Facebook Pay e no seu modelo de negócios, pois o Pix não requer cartões e, a rigor, pode dispensar também a rede de adquirência.
Veja na tabela abaixo a comparação simplificada entre os dois meios de pagamento:
Pix | Pagamento no WhatsApp (Facebook Pay) | |
Entrada em operação | 16 de novembro de 2020 | 4 de maio de 2021 |
Público potencial | Qualquer pessoa com conta corrente ou de pagamento em uma das 750 instituições financeiras participantes do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI) | Qualquer pessoa que tenha o WhatsApp instalado e que tenha um cartão de débito, pré-pago ou combo de um dos nove emissores participantes: Banco do Brasil, Bradesco, Inter, Itaú, Mercado Pago, Next, Nubank, Sicredi e Woop Sicredi. O WhatsApp está instalado em 98% dos smartphones brasileiros. |
Adesão até o momento | 75 milhões de pessoas físicas e 5 milhões de empresas cadastradas (Fonte: BC). 73% dos brasileiros com smartphone já fizeram um Pix (Fonte: pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre m-payment e m-commerce) | Sem dados por enquanto: acabou de ser lançado e está sendo disponibilizado gradualmente para a base de usuários do WhatsApp |
Disponibilidade | 24/7 | 24/7 |
Velocidade | “Instantâneo” | “Instantâneo” |
Permissão para P2P (transações entre pessoas físicas) | Sim | Sim |
Preço para o consumidor final | Gratuito até 30 transações por mês | Gratuito (mas limitado a 20 transações por mês) |
Limites nas transações | Cada banco define limites de acordo com o perfil do cliente | Até R$ 1 mil por transação; até R$ 5 mil por mês; até 20 transações por dia |
Permissão para P2M (compras) | Sim | Ainda não |
Preço para comerciante | Cada banco define seu preço. Alguns estão oferecendo de graça, outros cobram uma tarifa fixa em torno de R$ 10, como feito em TEDs e DOCs | Ainda não divulgado, mas será um percentual sobre o valor da transação. Um ano atrás foi divulgado 3,99%, mas esse percentual não foi reconfirmado ainda |