O mercado de smartphones no Brasil pode sofrer um eventual aumento de preços além do esperado para 2020. Isso acontecerá pelos efeitos da doença que matou mais de 500 pessoas na China, o novo Coronavírus.

Em conversa com a imprensa nesta quarta-feira, 5, os analistas da IDC reconheceram a possibilidade de aumento se os fabricantes de smartphones não conseguirem suprir rapidamente a demanda por peças e insumos de celulares que são produzidos na província de Hubei, região que abriga o principal foco da contaminação, em especial na cidade de Wuhan.

“Estamos fazendo um esforço global na IDC para entender os impactos. Na economia latino-americana, vemos que não será positivo. A região de Wuhan representa 25% da produção de peças para smartphones no mundo”, disse Pietro Delai, gerente de pesquisa em software e hardware da IDC na América Latina. “Tem que ver como se comportará o mercado”.

Importante dizer: com a operação parada na região de Hubei, as empresas precisam levar suas produções para outras localidades, como Índia e Vietnã. Mas, como explicou Delai, não é um processo simples mover a operação de um país para outro.

Quando questionados se um eventual atraso na cadeia produtiva pode trazer aumento ao usuário final, Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da IDC Brasil para dispositivos de consumidor e comércio, lembrou que em tragédias anteriores o preço aumentou, mas a cadeia de players da indústria – ou seja, fabricantes, fornecedores, distribuidores e varejistas – absorveu o custo mais alto para não respingar no cliente. Dessa vez, ele acredita que será diferente.

“Toda tragédia que acontecia na região fazia o preço dos dispositivos subir. Mas o canal sempre absorvia de alguma forma. Em 2019 todos os players espremeram os preços ao máximo (reduzindo especificações de smartphones, por exemplo). Ou seja, se acontecer um problema na cadeia de suprimentos, pode ter aumento. Mas ainda não sabemos de quanto”, afirmou Sakis.

Impacto

Corroborando com o momento de apreensão do mercado, a Associação Brasileira da Indústria de Elétrica e Eletrônica (Abinee) ouviu representantes de 50 empresas e descobriu que metade delas (52%) enfrentam problemas para aquisição de insumos da China, em decorrência do Novo Coronavírus. As dificuldades em obter os equipamentos está concentrada principalmente entre os fabricantes de produtos de tecnologias, como celulares e PCs.

Além disso, um quarto das empresas (22%) consideram parar nas próximas semanas se a situação se agravar. Segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee, as empresas que não foram afetadas acreditam que sofrerão impactos, se a situação não se normalizar nos últimos 20 dias.

Ainda de acordo com a associação, a China é a principal fornecedora de componentes de eletrônicos para o Brasil. Em 2019, os chineses foram responsáveis por 42% do total de importações de equipamentos, algo que soma US$ 7,5 bilhões no ano.

Custo

Sakis, da IDC, foi um dos primeiros analistas a prever que haveria smartphones que passariam dos R$ 10 mil de preço sugerido em 2019. Agora, após o lançamento do dobrável Samsung Galaxy Fold (de R$ 12.999 no Brasil), o especialista prefere não prever quão mais caro ficarão os handsets.

“Fica difícil traçar um limite de preço. Hoje eu digo que esses smartphones mais caros são similares a um notebook. A diferença do Yoga Lenovo, Microsoft Surface e o Galaxy Fold é só o tamanho de tela. A capacidade de processamento, memória, armazenamento é a mesma nos três”, disse. “Veremos mais opções e alternativas em games, também. Essas são maneiras de as empresas tentarem mudar algo, pois o mercado está flat – sem crescimento”.

Para 2020, o gerente da IDC prevê que a estimativa é de “redução de crescimento” de receita. Explicou que nos últimos seis anos, o Brasil vendeu mais de 40 milhões de celulares por ano. Mas agora a tendência é de substituição de handsets, um processo lento, pois apenas um quarto da base troca de celular todo ano.

Novas frentes

Por outro lado, Sakis acredita que há outras vertentes em dispositivos para o consumidor que podem crescer neste ano.

Uma delas é a de dispositivos conectados para o consumidor final. A IDC acredita que a receita com wearables crescerá 62% em volume e 73% em valor (US$ 480 milhões) na comparação com 2019. Em smart speaker a previsão de aumento está acima de 50% em unidades e mais de 40% em valor (US$ 60 milhões).

Em smart home a estimativa é que o fique crescimento fique abaixo de 55% em volume e 40% em valor (US$ 60 milhões) ante 2019. Nesta área, a expectativa é de uso desses dispositivos em setores corporativos, de segurança e de vigilância.

DaaS

Outra frente vista com potencial avanço de receita no País é a de Device As a Service (DaaS). Um segmento que oferece aluguel de dispositivos móveis e PCs com serviços para empresas.

De acordo com Sakis, o segmento de dispositivos B2B terá R$ 2 bilhões de receita em 2020, o que representa um crescimento de 12% se comparado com o ano anterior. O mais importante é o fato de o ecossistema em questão responder por 12% do valor das vendas de dispositivos (handsets, tablets, notebooks, PCs de mesa) para empresas no Brasil ao final de 2020. Esse incremento será puxado principalmente pelo DaaS.

“As empresas buscam alternativas para redução de custos, com isso, é claro de imaginar esse desenvolvimento para devices – alugar no lugar de comprar. Hoje, 10% do mercado de celulares no Brasil é B2B. No mercado maduro, é o dobro”, comparou. “Teremos um crescimento – para 12% – com o consumo fora dos grandes centros, por empresas médias e pequenas. Quem faz isso é um terceiro, um provedor ou revendedor. Mas tem espaço para todo mundo: revendedor, MDM e ISPs. Pode alcançar pessoa jurídica e até pessoa física. Por isso, é um potencial muito grande, pois todos podem agregar funções e atingir mais mercados, como acontece no exterior”.