Dentro de dez anos, haverá entre 300 e 400 aparelhos conectados dentro de uma casa de classe média, prevê presidente da F-Secure, Christian Fredrikson. Para protegê-los, será preciso instalar softwares de segurança no roteador Wi-Fi. Durante o Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, o executivo conversou com MOBILE TIME sobre o futuro da Internet das Coisas (IoT), o modelo de negócios do setor de segurança digital e a questão da privacidade dos dados em dispositivos móveis.

MOBILE TIME – Diversos relatórios indicam um rápido crescimento no número de ameaças para dispositivos móveis, especialmente aqueles com sistema operacional Android. Porém, é sabido que o percentual de smartphones protegidos por antivírus é mínimo. Qual é o tamanho desse problema? Há muito aparelho infectado sem que o dono saiba?

Christian Fredrikson – O impacto é pequeno até agora. Os criminosos fizeram muito dinheiro no mundo de PCs e não investiam em mobile porque a maior parte das transações financeiras ainda acontecem pela Internet fixa. O crescimento de ameaças em Android reflete o fato de as pessoas estarem começando a usar seus smartphones para pagamento e para navegar na Internet. Mas os PCs ainda são predominantes. Talvez por isso o impacto seja pequeno por enquanto. Pouca gente conhece alguém que tenha tido o smartphone infectado, ao contrário do que acontece em PCs. Agora os criminosos estão se interessando um pouco mais pelo mobile porque os bancos começaram a usar autenticação dupla, via SMS. Isso está servindo de incentivo para os criminosos entrarem no mobile.

O mundo está avançando rapidamente na direção de uma era da Internet das Coisas. Teremos no futuro antivírus para carros e residências? A F-Secure está desenvolvendo algo nesse sentido?

Sim, estamos olhando em como proteger as casas. Expandimos de PCs para celulares e agora vamos para as casas. Dentro de dez anos, haverá de 300 a 400 aparelhos conectados dentro de casa. Serão relógios, eletrodomésticos, roupas, geladeiras, TVs, câmeras de vigilância… Tudo estará conectado, quer você queira ou não. E não será possível trabalhar separadamente com a segurança de cada aparelho, será uma proteção para a casa inteira, provavelmente no roteador Wi-Fi. Será cada vez mais comum ataques de hackers a TVs e câmeras de vigilância. Por causa da mineração de bitcoin, torna-se interessante para hackers terem centenas de milhões de botnets minerando para si, ou seja, usando apenas a capacidade de processamento dos aparelhos infectados. O usuário pode nem notar. Já identificamos alguns casos desse tipo. O único efeito é que a sua conta de luz sairá mais cara porque todas as suas máquinas estarão trabalhando ao mesmo tempo.

A privacidade é uma questão importante para os usuários móveis hoje em dia, já que nossas vidas estão inteiras dentro dos telefones. Quem é a maior ameaça à privacidade das pessoas nos celulares: hackers ou publicitários?

Claro que criminosos são piores porque querem roubar o seu dinheiro. Quanto aos publicitários, depende de quem os controla e como usam os dados coletados. Um pouco de personalização melhora a sua experiência na web. Não há almoço gratuito. Se você baixa um app grátis, você deixa de ser um consumidor e passa a ser o produto. É preciso entender isso e aceitar. Mas nem tudo o que você faz precisa ser rastreado. Temos um app chamado Freedome (Android, iOS) que mantém o anonimato do usuário enquanto ele navega na web, encriptando seus dados, mesmo em redes Wi-Fi e mesmo se estas estiverem hackeadas.

Quantos usuários há no Freedome hoje?

Temos 2 milhões no mundo até agora. Os EUA são o maior mercado. Está disponível para Android, iOS e PC. Em breve chegará ao Mac.

Alguns dos seus competidores adotaram um modelo de oferta gratuita de serviços de segurança, sendo remunerados de outra maneira, como através da instalação de apps recomendados de terceiros. É o caso da Baidu e da PSafe. Há quem diga que segurança será um commodity no futuro e os antivírus serão de graça. Qual a sua opinião sobre isso?

No fim das contas nada é de graça. Ou vão te vender outra coisa ou vão vender você, seus cliques e seus dados. De alguma maneira vão fazer dinheiro com você. Haverá muitos modelos de negócio em segurança… Pense no ponto de vista de uma grande corporação: você vai querer uma ferramenta de graça de segurança? Dizer que determinado serviço é "gratuito" não é a melhor palavra, porque o dinheiro apenas mudou de lugar. Bom, até tem empresa que oferece serviços de graça, mas seu objetivo é construir uma base de usuários para depois vender a companhia para quem puder fazer dinheiro com ela. Discordo que segurança será commodity. Se analisados os ataques, estão ficando cada vez mais complexos. O combate requer habilidade cada vez maior e também mais investimento. Veja o que aconteceu com a Sony Pictures… Depois disso, todas as empresas estão investindo mais (em segurança digital).