A HST, uma techfin com mais de 30 anos de atuação no mercado financeiro, aposta em três frentes que devem crescer na América Latina em 2025. Em conversa exclusiva com Mobile Time, Marcelo Rodrigues, sócio e vice-presidente da empresa aponta três principais avanços:

  1. Diversificação de terminais e novos modelos de caixas eletrônicos, com o começo da chegada dos chineses;
  2. Utilização do passkey, uma tecnologia de pagamento que usa biometria do usuário para confirmar uma compra;
  3. A diversificação das carteiras de pagamentos com os bancos.

Carteiras

Rodrigues explica que há uma demanda latente por parte dos clientes para criar carteiras baseadas nas APIs de Apple Pay e Google Pay. Diz ainda que sua companhia fazia isso com Android desde 2014 e que a abertura de mercado da Apple e a recente tomada de subsídios do Banco Central têm colaborado para o avanço do tema.

Porém, o VP da HST conta que ainda falta a Apple liberar uma parte das APIs para acesso à antena NFC para realizar a transação de pagamento. “Hoje, podemos fazer tag e NFC. Isso já é um passo. Mas não é possível fazer aplicações de pagamento ainda. Falta uma chamadinha lá que ele precisa abrir. É uma chamada bem técnica: seleção da aplicação do cartão”, explica.

O especialista acredita que para liberar, a Apple ainda precisa definir como será a cobrança por transação, algo que ainda não tem, e isso poderá refletir na estratégia do emissor. Mas quando isso for liberado, assim como aconteceu no Android, a HST tem um kit de desenvolvedor (SDK) que vai dentro do app móvel do banco e fará a chamada para as APIs da Apple.

Na visão de Rodrigues, o principal atrativo da carteira para os bancos será a busca pela principalidade: “Hoje é fácil e cômodo usar as carteiras de Google e Apple, mas o banco perde a identidade. Quando o banco internaliza a tokenização com a sua carteira, ele consegue a principalidade”, diz.

Em 2024, 60 clientes latino-americanos foram apoiados em projetos de pagamentos contactless na região. Por sua vez, as transações em carteiras com segurança da HST mais que dobraram, 102%, na comparação ano a ano.

Caixas eletrônicos

Atuando desde 1991 neste segmento, Rodrigues conta que o mercado de fintechs na América Latina começa a pulverizar. Se antes eram apenas grandes redes e grandes bancos que atuavam neste setor, agora, o setor começa a ter fintechs, cooperativas de crédito e redes particulares.

“As redes particulares são de um modelo similar daquilo que acontece nos Estados Unidos. Por exemplo, uma empresa tem 10 ATMs. Ele compra a máquina, instala em um supermercado ou farmácia que está plugado em uma rede”, explica o executivo.

Paralelamente a esse movimento, o VP da HST aposta na entrada dos chineses para disputar com os players tradicionais que são dos EUA e Europa. O principal atrativo dos entrantes é o seu preço “mais em conta” que permite o avanço dessas pequenas redes de caixas eletrônicos.

Ajuda ainda neste cenário o fato que muitos equipamentos estão avançando para serem recicladoras, ou seja, o dinheiro que ali é depositado é reutilizado em saques. Todos esses fatores mudam o cenário dos ATMs na região latino-americana para 2025. Especificamente ao Brasil, Rodrigues estima que deve acontecer em 2026.

Atualmente, a companhia tem negócios de soluções de segurança para ATMs que registraram aumento de 13% em terminais na América Latina entre 2023 e 2024.

Aposta da HST: passkey

Vendo com uma evolução do Click to Pay, um movimento que está em curso e que ajuda a aumentar a utilização de 3DS 3.0 e a tokenização na região, Rodrigues aposta no Passkey como o próximo mandate (obrigação de uso para o ecossistema de pagamentos) e deverá ser usado com mais força no e-commerce.

Esse movimento começa com o Click to Pay, a opção de pagamento rápida de pagamento online com o cliente preenchendo seus dados apenas da primeira vez. O VP da HST explica que o cartão já nasce com o Click to Pay e, para cada transação, haverá um token, o que traz mais segurança para o consumidor, reduz a possibilidade de fraudes no varejo e aumenta a conversão das compras com a queda do abandono nos carrinhos de compra por excessos de fricções no ato de pagar.

O Passkey da HST já está incorporado junto à sua solução de Click to Pay, ou seja, tem a opção de captura de biometria facial ou digital. Para Rodrigues, este é um movimento que está mais forte fora do Brasil, mas deve ganhar tração neste ano. Em 2024, a companhia observou um crescimento de 26% no número de autenticações de compras por meio de sua solução HCT ACS, um serviço que funciona validando transações de cartão no comércio eletrônico com o 3DS em qualquer bandeira.

Vale lembrar, o movimento de Click to Pay e PassKey a partir de biometria, 3DS e tokenização fazem parte de uma estratégia de bandeiras como a Mastercard, que colocou uma meta para terminar com o uso de senhas únicas, estáticas e cartão manual até o final de 2030. Na visão da bandeira isso acontecerá justamente pela combinação de tokenização, biometria e checkout sem barreiras.

Tokenização

Outro tema da conversa de Rodrigues com esta publicação foi o avanço da tokenização na América Latina. O executivo explica que a tecnologia é mais avançada em países da América Central e Caribe que são mais factíveis a seguir os mandantes das bandeiras.

Em alguns casos, o VP da tech conta que possui clientes nesses países pequenos que emitem mais de 1 mil cartões por mês. Isso acontece principalmente por dois motivos: a redução de custos com a substituição do cartão plástico por um digitalizado e os desafios para a logística de entrega, com questões que vão desde a geografia à falta de informações, como ausência de CEP.

A HST registrou em 2024 um total de 232 milhões de transações por meio de suas plataformas na América Latina. Em cartões tokenizados, a companhia teve um aumento de 89% ante 2023.

Pix tokenizado

O fato de ter o avanço da tokenização na América Central também possibilita outras frentes de negócios, como a tokenização de conta. Atualmente, a HST tem essa solução com um cliente na Guatemala e outros dois países que devem lançar em breve. Isso permite ao banco tokenizar agência e conta, não apenas o número do cartão.

“Eu não preciso ser portador do cartão. Eu posso ser um portador de conta”, explica Rodrigues. “A conta e a agência viram um número identificado, como se fosse um cartão”, completou, ao explicar que isso permitiu tokenizar o sistema de pagamento instantâneo para o banco guatemalteco.

“Na Guatemala existe um regulador, como o BC. Por isso, o sistema de pagamento instantâneo lá é igualzinho ao Pix. Mas também ele segue a trilha parecida a do cartão, como o jeito de autenticar a pessoa, de pagar e de autorizar”, detalha ao dizer que isso abre possibilidades, inclusive para o Pix no Brasil.

“Posso tokenizar a chave e-pix. E como as duas chaves e-pix, independentemente, se ela é aleatória, agência e conta, e-mail. A chave única CPF vira um número, parecido com a trilha do cartão. E evita mudar um monte de POS”, conta. “Posso criar um Pix Card”, afirma.

Atualmente, a HST tem uma startup que atua com soluções de Pix, como Saque Pix. A mais recente delas é o Pix Offshore, uma alternativa que está em uso no Chile com a Concha y Toro e, em breve, estará no Uruguai e na Europa com outro cliente, que permitirá ao consumidor brasileiro comprar do comerciante no exterior com Pix no POS.

Imagem principal: Ilustração produzida por Mobile Time com IA

 

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