O governo do Uruguai apresentou os avanços do país na indústria criativa para investidores latino-americanos do setor privado e público nesta quinta-feira, 7, em São Paulo, com o objetivo de trazer investimentos e mais parceiros para o país. A missão comercial organizada pela Embrasur – ao qual o Mobile Time foi convidado com exclusividade – teve a apresentação de casos de sucesso de dois estúdios de jogos, RubberDuck e Ironhide, ambos disputando prêmios no BIG Festival 2022, inclusive na categoria mobile. Com os cases, a cônsul geral do Uruguai no Brasil, Marta Echartes, espera que esta seja uma porta de entrada para mostrar o potencial da indústria criativa de seu país.
“Para nós, Uruguai, Consulado e Câmara, é importante ter um reconhecimento em games. Sempre trabalhamos ativamente para produtos e serviços uruguaios. O objetivo é juntar as empresas uruguaias com as empresas paulistas, por exemplo”, disse. “Não somos só produtores de carne e soja, somos um país inovador. Uruguai é um grande produtor de serviços e software, e os games fazem parte desse setor inovador. As apostas que fizemos é para sermos um país mais inovador e tecnológico. A prova disso é que competimos entre os melhores jogos da América Latina”, disse o cônsul responsável pelo departamento comercial, Facundo Fernández.
Uruguai criativo
Omaira Rodriguez, especialista da indústria criativa e de promoção de exportação para o governo do Uruguai, explicou que um dos atrativos do país é que o setor “representa um potencial cada vez maior” na sociedade uruguaia. Deu como exemplo o avanço no audiovisual com uma receita de exportação que saltou de US$ 34 milhões para US$ 85 milhões entre 2020 e 2021, um movimento puxado por incentivos fiscais, programa dedicado, fundos de fomento e por ser o primeiro país latino-americano a retornar para as atividades presenciais.
“Como fomos o primeiro (país) a voltar ao presencial na pandemia, muitas produções que estavam espalhadas na América Latina vieram para o Uruguai. Temos empresas como Amazon e Netflix fazendo produções conosco hoje”, explicou a especialista, ao lembrar que 75% do país está imunizado contra a Covid-19.
Rodriguez explica ainda que o Uruguai está posicionado “como um hub para empresas de tecnologia”, ou seja, aberta para o setor, em especial para os games. Como atrativo para essas empresas, a executiva lembrou que o Uruguai:
– Lidera o índice de desenvolvimento TIC na América Latina, segundo a UIT;
– Tem 95% de sua energia elétrica produzida com fontes renováveis;
– Posição geográfica de destaque.
Fernández recordou ainda que o país também tem como vantagem uma lei de investimento com reembolso de 20% a 100% do montante investido, zonas francas de 100% (inclusive para tecnologia) com usuários 100% isentos de impostos e sistema tributário único para todo o território. Especificamente nos games, o Uruguai tem um fundo que custeia os estúdios de jogos para irem aos eventos internacionais para fazer negócios, como a GDC.
“Empresas como Globant, etermax, Jam City e Nimble Giant já estão instaladas nas zonas francas do Uruguai”, exemplificou Rodríguez.
Desenvolvedores
Como seu cartão de visita nos games, os uruguaios apresentaram dois perfis diferentes, mas com qualidade de produção bem similares: a IronHide é uma empresa com 12 anos de existência e um vasto portfólio de propriedades intelectuais de sucesso global, como Junkworld e Legends of King Rush; e a RubberDuck, que está em seus primeiros passos com o RPG Evil Wizard.
Leonardo Clavijo, gerente de projetos da Ironhide, explicou que o Legends of Kings Rush (que disputa prêmios no BIG) é um jogo pago que entrou com exclusividade na Apple Arcade. Com versões em 14 idiomas, o game faz sucesso nos Estados Unidos, China, Rússia e Brasil, com milhões de usuários.
Atualmente com uma equipe com 60 funcionários e autossustentável (sem investimento externo), Clavijo explicou que um dos diferencias para crescer é a efervescência da indústria criativa no país, mas sem perder a “essência indie”: “No Uruguai, nós temos uma boa interação de desenvolvimento. E este é um setor muito jovem, mas muito capacitado. Gente de 20 a 25 anos que são criativos e falam inglês. Trabalhamos com desenvolvedores, produtores de música, efeitos sonoros, tradutores e dubladores. Inclusive temos carreiras de jogos em três grandes faculdades”, disse.
Por sua vez, a RubberDuck está criando o seu primeiro jogo, o Evil Wizard, que concorre no Big Festival. Gonzalo Martínez, game designer e produtor na empresa, afirmou que o jogo está sendo financiado pela E-Home Entertainment, subsidiária de games da Microsoft na China.
A expectativa é que o jogo seja lançado neste ano para PC e consoles e no próximo para mobile na China – com intuito de distribuir posteriormente ao resto mundo. Martínez explicou ainda que começou a negociar com a Microsoft para o game entrar no seu serviço de assinaturas, o Game Pass.
Investidores
Durante o evento, os interessados em investir nessas empresas questionaram os produtores sobre modelos de negócios, preços de desenvolvimento e possíveis parcerias. Em relação ao business model, Martínez, que também preside a Câmara de Videogame do Uruguai, que tem 20 associados, afirmou que atuam em modelos freemium, com publicidade e compras in-app. Clavijo explicou que trabalham com jogos pagos, mas também desenvolvem jogos encomendados para empresas estrangeiras, como Cartoon Network.
Sobre preço, o gerente da Ironhide explicou que, em média, um projeto de quatro anos custa US$ 100 mil. Mas os custos podem ser menores dependendo de diversos fatores, como traduzir para poucos idiomas e uma distribuição com público-alvo reduzido.