O Roda Vida da noite de 5 de agosto levou para o centro das atenções os ninja-jornalistas Bruno Torturra e Pablo Capilé para uma sabatina, que logo no início mostrou seus objetivos: por em xeque a qualificação e a capacidade dos dois jovens e de todos os participantes – ou seriam militantes? – da Mídia Ninja, para as "funções jornalísticas" exercidas durante as transmissões em tempo real das manifestações populares, a partir do epicentro da convulsão social que se viu nas semanas de junho e julho.

Logo no início, os ninja-jornalistas foram questionados sobre suas fontes de renda e de onde vêm os recursos para o sustento deles mesmos e também de qualquer outro participante do movimento Narrativas INdependentes Jornalismo e Ação.

Uma ressalva: Caio Tulio Costa, um dos entrevistadores, hoje atuando como especialista em mídia digital, ao formular uma questão, nos dá o teor ideológico do que seria toda a entrevista daquela noite. Ao perguntar aos jovens sobre as suas fontes de financiamento, Tulio Costa formula a seguinte pergunta: '(…)  é possível praticar o jornalismo que é praticado pela Mídia Ninja, feito no calor do momento, com transmissões com muita tecnologia e se aproveitando das redes, que ai estão, que são privadas, inclusive….(….)". Pausa, porque aqui começa o nosso comentário, na verdade.
Esta ressalva do especialista em mídia digital nos remete a um antigo debate sobre a quem pertencem, de fato, as redes de radiofrequência no Brasil a que se referiu Tulio Costa como "redes privadas". Sem citar esta nomenclatura "radiofrequência", é disto que se trata a sua ressalva. As torres e equipamentos são privados, sim, mas operam em uma radiofrequência pública, no formato de concessão. Assim como as emissoras de rádio e TV, que são emissoras privadas operando sob concessão pública.

Sem entrar nos detalhes regulatórios de telecomunicações no Brasil, é importante lembrar – e até mesmo alertar aos desavisados – que as redes de transmissão das telecomunicações são operadas comercialmente após obterem a autorização para isso.

Podemos questionar se essas concessões são legítimas, mas, em oposição à ressalva do especialista em mídia digital Tulio Costa, as tais redes privadas são, na verdade, públicas, ou pelo menos é pública a radiofrequência que utilizam.

A Mídia Ninja, portanto, usa redes construídas, sim, com investimento privado, mas sobre um espectro público, por ora licenciado aos grupos que operam no Brasil. E os ninjas pagam por essa utilização, pois para transmitir qualquer imagem via dispositivos móveis – como ocorreu nas transmissões daqueles eventos -, os ninja-jornalistas tiveram que obter o acesso à Internet, que no Brasil, aliás, é um dos mais caros do mundo.