A inteligência artificial começa a entrar nos equipamentos culturais brasileiros. De acordo com a 5ª edição da pesquisa TIC Cultura 2024, realizada pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), do Nic.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) e apresentada pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), dois a cada dez Arquivos usam a IA e 16% dos Cinemas declararam que utilizam a tecnologia. E se a IA começa engatinhar, mesmo que tímida, em contrapartida, todos os espaços avaliados no estudo têm presença massiva na internet – sejam em sites ou redes sociais – e avançam no uso do WhatsApp como canal de comunicação e informação.
Com relação à IA, ao responder a pergunta: “Nos últimos 12 meses, a instituição utilizou tecnologias de inteligência artificial como chatbots ou assistentes virtuais, sistemas de reconhecimento facial ou de imagem ou ferramentas de predição e análise de dados a partir de aprendizagem de máquina?”, 9% dos Pontos de Cultura responderam que sim, enquanto 4% Bens Tombados, Museus e Teatros também disseram que usam a IA. E somente 2% das Bibliotecas usam.
Vale dizer que somente os equipamentos culturais com departamento de TI responderam a esse questionamento específico.
É a primeira vez que o estudo faz uma pergunta sobre uso de inteligência artificial. Por isso, a pergunta foi ampla. “Ela não buscou entender se a IA está sendo utilizada em alguma atividade específica do setor cultural”, explicou Manuella Maia Ribeiro, corresponsável pela TIC Cultura. Por isso, a resposta engloba usos internos e usos nas atividades cotidianas dessas organizações.
“Os resultados dessa primeira medição da IA em equipamentos culturais demonstraram que ainda é uma adoção incipiente com maior presença em Arquivos e Cinemas”, disse. “Por outro lado, nos demais equipamentos nem 10% mencionou o uso de inteligência artificial. Ainda existe um espaço para ampliação e adoção desse tipo de tecnologia.”, avaliou.
A pesquisadora explicou que a TIC Cultura continuará mapeando o uso da IA e acompanhando ao longo do tempo as mudanças e as estabilidades em torno da temática. “A pergunta nos instiga a entender nas próximas edições como as tecnologias estão sendo utilizadas ou por que não estão sendo usadas”, completou.
Metodologia da TIC Cultura

Metodologia do TIC Cultura 2024. Crédito: divulgação
Por equipamentos culturais a pesquisa entende as seguintes instituições: Arquivo, Biblioteca, Bem Tombado, Cinema, Museu, Ponto de Cultura e Teatro.
Ao todo são 17.154 equipamentos culturais espalhados pelo país. Para a TIC Cultura, foram ouvidos 167 Arquivos, 64 Bens Tombados, 418 Bibliotecas, 83 Cinemas, 460 Museus, 356 Pontos de Cultura e 270 Teatros, todos cadastrados oficialmente.
As entrevistas aconteceram por telefone e foram ouvidos 1.818 gestores de equipamentos entre outubro de 2024 e abril de 2025.
Presença online

Equipamentos que possuem perfil em plataforma ou rede social online (2020-2024). Crédito: divulgação
O uso de aplicativos de mensagens como WhatsApp ou Telegram também aumentou, especialmente entre pontos de cultura (de 62% para 72%) e museus (de 24% para 37%).
De acordo com o estudo, a presença dos equipamentos culturais em alguma plataforma digital ou rede social alcançou 94% dos pontos de cultura, incremento de 5 pontos percentuais na comparação com 2022, quando chegou a 89%. Outro que cresceu significativamente foram os bens tombados, que passaram de 63% em 2022 para 80% em 2024. Arquivo chegou a 71% em 2024, incremento de 8 p.p. e nos cinemas, o aumento foi menor, mas seu patamar já era alto: atingiu 88% em 2024, incremento de 3 p.p.
No caso de Museu, Teatro e Biblioteca, esses equipamentos também registraram aumento, mas seus patamares estão mais modestos. Biblioteca foi de 37% para 49%; Museu passou de 63% para 67%; e Teatro de 53% para 59%.
Em relação aos tipos de redes e plataformas utilizadas, as mais mencionadas pelos gestores dos equipamentos culturais foram Facebook, Instagram, TikTok, Flickr, YouTube ou Vimeo, além de WhatsApp e Telegram.
A partir desse recorte, a pesquisa TIC Cultura aponta que as organizações com maior presença no segmento Instagram, TikTok ou Flickr são os Pontos de Cultura (87%), seguidos pelos espaços de Cinema (84%) e pelos Bens Tombados (78%). Em seguida, aparecem os Arquivos (59%), os Museus (56%) e os Teatros (50%). As Bibliotecas registram a menor presença nessas redes, com apenas 33%.
Vale destacar que Bem Tombado registrou aumento de 28 p.p. em comparação com 2022, Ponto de Cultura teve incremento de 14 p.p. e Biblioteca, 10 p.p..
Outro ponto de destaque da pesquisa foi o aumento da presença nas plataformas de mensagens instantâneas – WhatsApp e Telegram – em Biblioteca (25%) e Museu (37%), ambos com aumento de 13 p.p. em comparação com 2022; Teatro (35%), com incremento de 11 p.p.; e Ponto de Cultura (72%), aumento de 10 p.p..

Gráfico sobre presença online dos equipamentos culturais. Crédito: divulgação
A pesquisa detectou uma presença maior em plataformas e redes sociais do que em websites. “A gente vem debatendo a importância de estar presente em diferentes formas na internet. Especialmente porque o website pode ter um maior controle sobre conteúdo, características, mas o público está nas redes sociais e é um caminho importante para a divulgação das atividades dos equipamentos culturais. Mas essas entidades dependem das regras dessas plataformas e de suas características. Uma possibilidade é garantir que os equipamentos estejam em diferentes tipos de meios digitais”, resumiu.
Internet e Wi-Fi
A proporção de equipamentos culturais que oferecem acesso gratuito à internet via Wi-Fi para o público aumentou em relação aos indicadores de 2022. O crescimento foi mais expressivo nas bibliotecas (de 54% para 65%), nos Pontos de Cultura (de 53% para 64%) e nos museus (de 40% para 51%). Já a oferta de computadores de uso público permaneceu estável, sendo mais comum em arquivos (55%) e bibliotecas (41%).
Vale dizer ainda que o estudo mostra que o acesso à internet está universalizado entre arquivos e cinemas (100%) e é alto nos pontos de cultura (96%). A TIC Cultura também registrou um crescimento da conexão à rede entre os bens tombados, que saltou de 74% em 2022 para 92% em 2024.
Computador e Celular
No caso do uso de dispositivos, a pesquisa aponta que esses estabelecimentos culturais tiveram um aumento no número de equipamentos próprios, pertencentes às organizações. Houve aumento no uso de tablets em arquivos (de 14% em 2022 para 32% em 2024) e teatros (de 17% para 27%), de notebooks em bens tombados (de 36% para 65%) e de celulares em Pontos de Cultura (de 28% para 39%).