Norsul

Leonardo Brum é engenheiro naval e gerente executivo operacional da Norsul. Foto: Ari Versiani/divulgação

As incrustações são formadas por sais calcários e podem ser inorgânicas, formadas principalmente pelo depósito de sais em ambientes marinhos, ou biológicas, onde se forma uma película bacteriana que serve de base para que espécies maiores se fixem nessas estruturas. Essas formações podem ser vistas num píer, por exemplo, mas também nos cascos dos navios. Elas são responsáveis por desacelerar a embarcação e, também fazer com que gaste mais combustível para percorrer o mesmo trajeto. Para monitorar esses elementos não desejáveis e realizar vistorias mais precisas nos navios, a Companhia de Navegação Norsul e a parceira Geosaker, startup de logística, desenvolveram uma metodologia completa para inspeção de embarcações não só da parte “seca” do navio, como a molhada, com o uso de drones, veículos submarinos remotos (ROVs, na sigla em inglês), dispositivos móveis, plataformas de streaming e óculos de realidade virtual e mista. Como resultado do novo sistema, os navios gastam menos combustível, possuem melhor performance, estão mais velozes e, consequentemente, estimam a redução de 20% o tempo de seus trajetos.

Norsul; drone

Drone que vai na água. Foto: divulgação

O veículo submarino remoto (ou drone submarino) está conectado com um cabo de fibra ótica de 20 a 30 metros e que, por sua vez, está ligado ao controle remoto. Mas para os outros profissionais que precisam acompanhar a inspeção e assessorar o piloto, são usados smartphones ou tablets. As imagens são transmitidas via streaming – com a possibilidade de comunicação entre os participantes e o piloto – e o drone transmite em tempo real as imagens. É possível também tirar fotos.

Os profissionais que acompanham a vistoria também podem participar por meio de óculos de realidade virtual e mista. No caso, a solução oferece imagens e permite ao usuário a visão do entorno durante a transmissões ao vivo.

O drone submarino também faz o trabalho inicial do mergulhador que, antes, fazia essa inspeção, voltava à superfície e depois mergulhava novamente para fazer os reparos necessários. Ou seja, o equipamento poupa ao menos uma ida ao mar do profissional, que corre menos riscos e é mais assertivo em sua descida para fazer os possíveis consertos ou limpeza do casco.

Com o monitoramento, os profissionais não apenas retiram a incrustação como retocam a pintura do navio, importante para que o calcário não adira no casco.

Leonardo Brum, engenheiro e gerente executivo operacional da Norsul, explicou em conversa com Mobile Time que uma embarcação que transporta celulose do porto de Belmonte (BA) para o Portocel (ES) costumava levar 24 horas, em média, para realizar o trajeto. Com o novo sistema de análise das embarcações e a pintura dos cascos atualizada, a navegação leva, atualmente, pouco mais de 19 horas. “O novo sistema aumentou a velocidade do navio e reduziu o consumo de combustível”, explica o engenheiro. “Para retirar a calcificação é preciso um martelo. E, muitas vezes, a incrustação pode chegar a 20 centímetros. As incrustações entram em contato com o aço do casco e criam pequenos poros até aparecer um furo. Com o casco liso, a água passa melhor e navega mais rápido. A incrustação cria um freio mecânico”, completa o engenheiro.

Norsul

Visor do drone pela realidade virtual. Imagem de divulgação

O novo sistema de monitoramento dos navios com os drones submarinos trouxe alguns benefícios à Norsul. O primeiro deles é a segurança. O mergulhador é poupado e já sabe as condições que vai enfrentar quando descer e o que terá que fazer. “Minimizamos os riscos e o planejamento é mais eficiente”, completa Brum.

Outro benefício é o ganho de mais agilidade no processo. O drone vence correntes marítimas (não muito severas) com mais facilidade, mantendo a estabilidade da câmera. Com o mergulhador, é preciso equipá-lo, testar os equipamentos, fazer todos os procedimentos de segurança, o que leva tempo. Além disso, o profissional tem um limite de tempo debaixo d’água e são necessários quatro deles para fazer o serviço. O drone submarino tem bateria de 10 horas. Brum calcula que houve uma economia de 20% de tempo.

De cima

De cima, drones aéreos são responsáveis pela captação de imagens, que podem ser tanto destinadas a inspeções com finalidade regulatória ou de rotina.

Para o caso de monitoramento de rotina, há ainda a possibilidade da instalação de câmeras na estrutura da embarcação para gestão constante de ativos e outros tipos de monitoramento, como o de uso de EPI’s e detecção de comportamentos de risco por parte de colaboradores às operações, ao meio ambiente, à população etc.

As informações captadas pelas inspeções são reunidas, armazenadas e processadas pelo app Geosaker, que elabora análises e relatórios. O app atua ainda na emissão de alertas imediatos à tripulação em casos de não conformidades e do não cumprimento de normas e regulamentos a bordo.

Dados

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À esquerda, no fundo, profissional acompanha monitoramento feito pelo drone por meio de óculos de realidade virtual. Foto: divulgação

Os drones submarinos e aéreos fazem um percurso normatizado para que os dados sejam padronizados. A ideia da Norsul é coletar esses dados para que a inteligência artificial – que estão desenvolvendo – transforme esse material bruto em informações relevantes para a empresa.

Os dados serão cruzados com outros sistemas da empresa, como telemetria, de consumo de combustível da embarcação, da potência do motor, velocidade da embarcação, de modo a sempre otimizar a performance do navio. “Se tivermos uma embarcação menos eficiente, temos menos produtividade”, afirma.

Parcerias em estudo

A Norsul estuda a possibilidade de fazer uma parceria com uma empresa de telecomunicações para a implementação de antenas nos navios, mas também nos portos. Com isso, o sinal nas embarcações ficaria melhor e a transmissão desses dados, mais ágil. “As chapas de aço de 16 milímetros de espessura entre os quartos são uma dificuldade e estamos em alto mar, o que dificulta. Uma solução poderia ser a comunicação via satélite. Já temos a bordo, para emergências, mas ela é cara. E, em determinados locais, como na Amazônia, nem ela funciona. Queremos espalhar antenas pelas embarcações de modo que o drone possa usar a rede Wi-Fi”, explica.