Com o intuito de agilizar o trabalho dos agentes de saúde de seis Unidades Básicas de Saúde (UBS) da zona Oeste da cidade de São Paulo — e, assim, contribuir para otimizar a saúde pública — surgiu o projeto de m-health desenvolvido com a união dos esforços do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (LARC), da Universidade de São Paulo (USP), Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor) e a Ericsson.

Antes do projeto, o agente de saúde preenchia o formulário em papel, digitava, salvava e depois enviava a informação para o Sistema Nacional de Saúde, em um processo que levava em torno de 45 dias, chegando até a 60, para ser concluído, e que incluía constantes perdas de dados pelo caminho. “Só que em 45 dias, se tinha algum incidente de alguma peste, alguma doença, já foi”, explica a professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e coordenadora geral do projeto, Tereza Cristina Carvalho.

Com o projeto, as equipes das seis UBS trocaram o papel e a caneta por smartphones para registrar os perfis de saúde de cada casa visitada. Os aparelhos têm um aplicativo que carrega uma ficha médica eletrônica. Por meio da rede 3G, os agentes de saúde enviam, em tempo real, as fichas dos moradores para os computadores da Faculdade de Medicina da USP, onde o banco de dados do projeto pode ser acessado. “É questão de segundos para os dados chegarem ao sistema”, explica Tereza.

A medida, portanto, auxilia no mapeamento das localidades atingidas por alguns tipos específicos de doenças, como dengue, para assim agir de forma mais eficiente e rápida contra a doença. Além disso, o sistema criado pode ser integrado ao banco de dados do Ministério da Saúde. “Na verdade, esse é um projeto de pesquisa, para analisarmos como usar tecnologia aplicada para melhorar a qualidade da saúde”, resume Tereza.

Atualmente, são 60 mil pessoas cadastradas no sistema, em torno de 15 mil famílias sendo visitadas por 180 agentes de saúde que utilizam recursos móveis, o equivalente a quase 100% da população da área de atuação do projeto (zona oeste da cidade).

O projeto foi iniciado em janeiro, mas seu funcionamento começou a ser aplicado com mais intensidade a partir de agosto desse ano, como informa o coordenador técnico do LARC, Marcos Simplicio.

A produção

A coordenação geral do projeto Saúde Móvel é do LARC, que conta com a parceria do InCor e o financiamento da Ericsson. “O projeto é totalmente baseado em tecnologia móvel e tem a segurança desenvolvida pelo LARC”, explica Tereza, ao relatar o papel do laboratório.

Ela comenta que, como o projeto é especificamente de saúde, havia a necessidade de um parceiro dessa área. O LARC já tinha parceria com o InCor e, por esse motivo, foi simples a escolha.
Tomando como premissa que, conforme explica Tereza, a Secretaria Municipal de São Paulo destina aos grandes hospitais da cidade a responsabilidade de gerenciar certa quantidade de Unidades Básicas de Saúde, o projeto acontece com as seis UBS tuteladas pelo InCor.

O LARC, reforça Tereza, auxilia no desenvolvimento do software para os dispositivos móveis, da comunicação desse software com o servidor e do sistema de segurança, item relevante tendo em vista a confidencialidade dos dados do paciente. “Quando os dados trafegam na rede, precisam estar protegidos”, diz.

“Mas o aplicativo que roda no servidor, essa parte mais específica da medicina, quem fez foi a equipe técnica do InCor”, detalha Tereza. “Eles cuidam principalmente da definição do que precisa ser feito, como vão ser os formulários para a coleta de dados, e os médicos que definem o formato”, acrescenta Marcos Simplicio.

Além disso, “esses dados que chegam no servidor precisam ser tratados, compilados e, depois, mandados para o Sistema de Saúde Nacional”, comenta Tereza. Essa função também é realizada pelo InCor.

Para viabilizar a ação, a Ericsson auxilia com o patrocínio, algo que já beira R$ 1 milhão, de acordo com a coordenadora do projeto.

Retorno qualitativo

Segundo Simplicio, o retorno do investimento se dá em termos de qualidade de saúde. “Retorno financeiro mesmo é difícil medir”, explica. Segundo ele, processos como o tratamento de dados do paciente, que demandavam 45 dias, hoje são concluídos em um dia. “O próprio sistema também consegue detectar doenças”, destaca.

Para o futuro, Tereza conta que a intenção é otimizar a produtividade da saúde, atender mais famílias e agilizar o índice de identificação de doenças. “As seis UBS gerenciadas pelo Incor devem ser vitrine para as demais unidades no Estado”, acrescenta Simplício.

 

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