A Ford tem 100 mil carros conectados na América do Sul, a maioria deles no Brasil e Argentina. Em conversa com Mobile Time durante a última semana, Luciano Driemeier, gerente global de novos negócios conectados da montadora, explicou que a companhia oferece conectividade gratuita aos donos dos veículos por meio de acordo com Vodafone e AT&T, que, por sua vez, fazem parceria com outras operadoras locais, como a brasileira Claro.

Uma das principais funções da plataforma é a atualização de serviços over-the-air (OTA), algo que pode consumir até 30 GB por veículo. Para esse modelo funcionar, a companhia tem um data lake com as operadoras para fazer as atualizações e oferecer soluções conectadas aos consumidores, a maioria delas em 4G.

Como serviços e produtos conectados que servem ao consumidor, Driemeier citou a troca de óleo que passa a ter um alerta por uso e não por quilômetro consumido. Outra solução é a monitoração da vida útil da bateria.

Também há exemplos criados a partir do uso e dados anonimizados, como a troca da função de aumentar ou diminuir o ar-condicionado do veículo da tela touchscreen (em movimento de sobe e desce) para um botão do painel, uma vez que o uso da tela era mais complicado para o motorista.

Nova estrutura

Exemplo de veículo conectado, a nova Ford Ranger tem um formato baseado em ‘rede de sensores’ voltada ao modem LTE que permite informar ao motorista e à montadora sobre o status do veículo (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

A estratégia da Ford em conectividade é baseada em três mudanças que a companhia tem feito ao longo dos últimos anos:

  • A transformação da engenharia, ao utilizar inteligência artificial para atuar de forma rápida e preventiva, o que engloba o uso da conectividade e da nuvem com os veículos. Vale dizer que o Google é o parceiro de cloud e IA da Ford;
  • A transformação na relação com o cliente, uma vez que os carros da montadora passam a ter sistemas integrados, como a nova Ford Ranger, que possui 36 módulos;
  • A transformação do modelo de negócios, do formato transacional tradicional (fabricação e venda de carro) para ‘always-on’, uma relação baseada em oferta de produtos digitais com atualização constante e foco em redução de desperdício e otimização do produto, sendo que esses produtos podem ser para motoristas comuns, frotistas ou uso interno da Ford.

“Os negócios hoje estão no limite de venda e margem, pois está todo o mundo saturado. O próprio bolso do consumidor não consegue absorver (o valor dos veículos). Mas tem um monte de desperdício que podemos reverter a partir da experiência de conectividade”, afirmou Driemeier.

Software x Hardware

Ford Command Center, espaço da montadora que analisa os dados dos 100 mil veículos conectados (divulgação: Ford)

Com IA a Ford acompanha atualmente 90 milhões de linhas de dados, algo que o executivo explica que demoraria pelo menos dois dias de trabalho para um engenheiro. Por meio de opt-int dos motoristas, a companhia coleta, filtra e prioriza informações de mais de 100 mil veículos por meio do seu centro de comando, o Ford Command Center – feito em parceria com bolsistas do Instituto de Educação de Londrina (IEL).

Por meio dessa coleta de dados, a montadora faz a correlação de informações que podem gerar um produto ou serviço, como foi o caso da monitoração da vida útil da bateria do carro para o consumidor, telemetria para o frotista e uso de geolocalização para movimentações internas da Ford.

“No passado era só o carro. Hoje, nós temos uma estrutura no carro e outra no software e em produtos digitais. Olho para a linha de produtos e vejo que temos uma esteira de lançamentos além da produção do carro”, explicou. “As nossas decisões são tomadas em torno do consumidor. Podemos errar e ajustar, mas a decisão é com o consumidor no centro”, completou.

Questionado se a Ford é hoje uma empresa de software ou hardware (carros), o gerente de conectividade ressaltou que a maior parcela da receita ainda é em veículos, mas a receita de software cresce rapidamente.

Imagem principal: Luciano Driemeier, gerente de conectividade da Ford (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)