A audiência de Sundar Pichai, CEO da Alphabet, ao Comitê do Judiciário do Congresso dos EUA foi outro episódio vexatório aos políticos norte-americanos. Em pouco mais de três horas e meia transmitidas em rede nacional dos EUA e pelas redes sociais, os legisladores fizeram perguntas triviais sobre a plataforma de busca e um congressista chegou a perguntar sobre privacidade no iPhone, feito pela concorrente Apple.

As aguardadas questões sobre comportamento anticompetitivo, criação de rótulos e perfis, uso do algoritmo de busca, relação com a China, fake news e privacidade, perderam espaço para momentos que vão virar anedotas. Por um lado, os republicanos tentavam acusar o Google de coletar dados e manipular as buscas em prol de uma ação anticonservadora; por outro, democratas refutavam as acusações e perguntavam sobre ações técnicas, porém superficiais.

O congressista republicano Steve King, de Iowa, perguntou a Pichai o porquê de sua sobrinha de 7 anos de idade ver uma foto inapropriada sua, durante a propaganda em um jogo dentro de seu iPhone. O executivo do Google respondeu que o “iPhone é feito por uma companhia diferente (do Google)”. A resposta trouxe risadas dos espectadores que estavam na sala. Outro legislador, Ted Poe, do Texas, perguntou se o Google poderia rastrear seu smartphone dentro da sala de audiência do Congresso, Pichai respondeu que “não saberia dizer sem testar”.

Em outro caso, a congressista democrata deu a chance para Pichai explicar se havia manipulação de pesquisa, mas o fez ao lembrar que a palavra ‘idiota’ (idiot, em inglês) traz a imagem do presidente Donald Trump. O CEO do Google afirmou que o resultado é baseado em mais de 200 variáveis (palavra-chave, relevância, popularidade etc.) e, a partir dessas pesquisas, o motor de busca tenta entregar os melhores resultados. Ele lembra ainda que, em 2017, 3 bilhões de buscas foram feitas; diariamente, 15% delas são feitas pela primeira vez; e que não há interferência humana do Google em seu motor de busca.

Ainda sobre as pesquisas, o congressista republicano Steve Chabot, da Califórnia, reclamou que as buscas sobre as tentativas de eliminar o Obamacare (programa de saúde pelo ex-presidente Barack Obama) e do corte de impostos da administração de Trump eram negativas. Por sua vez, Pichai, da Alphabet, disse que o motor de busca do Google “usa uma tecnologia robusta” para refletir sobre o que está sendo dito sobre um tópico na web.

Um momento tenso foi quando o republicano Jim Jordan questionou Pichai sobre um suposto memorando interno do Google para ajudar a mudar votos de latinos em estados-chave para a eleições, algo que caracterizaria criação de rótulos políticos, proibido por lei. No entanto, o presidente da Alphabet disse que não havia evidência que o Google fizera isso, mas que não pode impedir seus funcionários de fazer.

Sobre a possível entrada do Google na China com uma versão adaptada ao censor local, Sundar Pichai disse à congressista democrata Jackson Lee, do Texas, que não há nenhum projeto em desenvolvimento no momento, assim como não há conversas com o governo de Pequim. Contudo, revelou que 100 engenheiros da companhia já trabalharam em uma possível solução para um país com censura de Internet, como a China.

Pichai ainda foi questionado sobre conspirações de pedofilia no YouTube e sobre os recentes casos de assédio sexual na companhia. Ele disse que endereçaria esforços ao tema, mas não discorreu mais sobre o assunto. Sobre o evento da Rússia nas eleições de 2016, disse que teve movimentações nas buscas, mas não eram relevantes.