Foi durante um evento com open bar na área VIP que o empreendedor André Barreto teve a ideia de criar uma solução de pagamento com reconhecimento facial. Ele se deu conta que as pessoas que estavam na área VIP haviam pago uma entrada caríssima não para consumir todo o valor em bebida e comida liberadas, mas para terem a experiência do “open bar”, ou seja, de chegar no balcão, fazer um pedido e recebê-lo sem precisar tirar a carteira do bolso. 

Barreto é ex-diretor da Serasa Experian e já havia liderado projetos envolvendo biometria digital quando decidiu fundar a Unike, um ano e meio atrás. A startup desenvolveu uma solução própria que combina reconhecimento facial e localização por Wi-Fi, com precisão de até 20 centímetros. O objetivo é garantir maior assertividade sem gerar fricção na experiência do usuário. Um dos grandes diferenciais é o fato de a pessoa ser reconhecida sem precisar olhar para a câmera de um smartphone ou de qualquer outro dispositivo. A identificação é feita por uma câmera de circuito fechado de TV, sem que a pessoa se dê conta do processo, o que é chamado de “biometria passiva”. Vale destacar que a solução foi construída desde o princípio respeitando as determinações da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), afirma Barreto.

André Barreto, CEO e fundador da Unike

Duas empresas já estão adotando essa solução para pagamentos, batizada como Unike.pay: um parque aquático e uma cafeteria. Por restrição contratual os nomes não podem ser revelados. No parque aquático, os visitantes cadastram previamente seus rostos e os associam a um cartão pré-pago com créditos para consumo dentro do local. Quando se aproximam do balcão da lanchonete, por exemplo, a câmera da CFTV posicionada na parede à frente captura sua imagem e envia para a solução da Unike, que cruza com os dados biométricos dos rostos cadastrados. A câmera tem um ângulo aberto e a solução consegue identificar até 12 rostos simultaneamente. Em um tablet, debaixo do balcão, o atendente verifica se o cliente foi efetivamente reconhecido pelo sistema. A identificação por biometria facial é cruzada com a tecnologia de posicionamento indoor, a partir de dados do sinal do Wi-Fi do smartphone do cliente, como um segundo fator de autenticação. O tablet apresenta ao atendente o percentual de probabilidade de ter acertado a identificação. Se quiser conferir se a pessoa é a mesma que foi reconhecida, o funcionário pode ainda perguntar seu nome, pois este aparece na tela, o que, na prática, funciona como um terceiro fator de autenticação. Em seguida, com um clique, o atendente associa aquele cliente ao pedido feito, que é inserido no sistema de frente de caixa. Assim, o valor é debitado do cartão associado àquela pessoa. Tudo acontece em poucos segundos, sem fricção.

Um próximo passo na experiência do parque poderá ser o uso da solução com cartão de crédito. Barreto também pensa em implementá-la na entrada dos brinquedos, pois é possível pela imagem da câmera estimar peso e altura dos visitantes em tempo real, verificando se estão dentro dos limites previstos para cada atração.

A cafeteria, por sua vez, procurou a Unike porque desejava facilitar a vida de seus frequentadores mais assíduos. Esses clientes foram convidados a cadastrarem seus rostos pelo app da loja e associar um cartão de crédito à sua conta. Depois disso, não precisaram mais pegar fila. A câmera do estabelecimento reconhece a entrada delas e apresenta seus nomes e rostos em um tablet para os atendentes, que só inserem os pedidos para cobrança posterior. Os próprios clientes também podem pegar produtos diretamente das prateleiras e escanear o código de barras pelo app da cafeteria para pagar sem precisar informar aos atendentes. Uma evolução será o uso de visão computacional para reconhecimento dos produtos comprados sem que o cliente precise escanear o código de barras, diz Barreto.

“A pandemia nos ajudou muito porque qualquer coisa com biometria ou reconhecimento sem contato estourou nesse período, por causa da necessidade do distanciamento”, relata o executivo.

Tela do tablet usado pelos atendentes em pagamento com Unike.pay

Outras verticais

A solução da Unike se presta a várias outras verticais e aplicações, não apenas para pagamentos. Pode servir, por exemplo, para controle de acesso a eventos, condomínios e escritórios. Um terceiro cliente é um centro de distribuição onde trabalham 2 mil pessoas. Os funcionários perdiam cerca de 1 hora por dia na fila de entrada e saída do local, durante o processo de identificação para bater ponto. Agora, com a solução de reconhecimento facial da Unike o tempo foi encurtado em 28 minutos.

Modelo de negócio

A Unike costuma cobrar uma assinatura com valor fixo, que dá direito a uma quantidade de transações por mês. Se o limite for ultrapassado, é cobrada uma tarifa extra por transação. Para soluções em locais onde não são executados pagamentos, mas apenas o reconhecimento das pessoas, a Unike cobra pela quantidade de câmeras ligadas ao seu sistema.