Durante toda a história da humanidade, o ato de viajar, sob qualquer que fosse o pretexto, consistia em uma oportunidade, prazerosa ou não, de distanciar-se de casa, da família e dos amigos. A precariedade da comunicação era uma desculpa perfeita para quem queria se isolar ou uma tormenta irremediável para quem estava saudoso de sua cidade natal. Houve um tempo que se enviavam postais, quando as viagens eram mais longas – se curtas, havia o risco de o remetente chegar de volta antes da correspondência. Lembro também de procurar orelhões para fazer chamadas de longa distância a cobrar para casa: uma na chegada e outra na partida, apenas para dizer que estava tudo bem. A raridade dos contatos transformava cada telefonema em um acontecimento.

Há alguns anos os smartphones e seus apps de comunicação via IP fazem parte da bagagem de muita gente, mas as altas tarifas de roaming internacional limitam sua utilização às ilhas com conexão Wi-Fi que os turistas encontram pelo caminho, como hotéis, cafés e aeroportos. Este ano, durante a cobertura do Mobile World Congress (MWC) em Barcelona, tive a oportunidade de vivenciar como é ser um turista conectado 24 horas por dia, graças à gentileza de duas operadoras nacionais que me ofertaram chips para uso temporariamente ilimitado durante aquela semana no exterior.

Pude constatar na prática as vantagens de ter um smartphone plenamente funcional como companheiro de viagem. O Google Maps, por exemplo, substitui os velhos mapas impressos da cidade e do metrô. Ponho o destino, escolho o meio de transporte (a pé, de carro ou transporte público) e ele me informa passo a passo como chegar onde eu quero e o tempo estimado. A certeza de que nunca mais se ficará perdido gera uma tranquilidade indescritível.

Quando não sabia onde comer, recorria ao Foursquare em busca de recomendações nas cercanias. Graças a esse app, descobri alguns deliciosos restaurantes de tapas em Barcelona recomendados por locais. Poderia ter usado também o Open Table para reservas de mesas ou o Hotel Asap, se precisasse de um quarto em outro local, mas não foi necessário.

Merece destaque durante a viagem o Google Now e seus cartões inteligentes, que me deixavam informado sobre a previsão do tempo, a taxa de câmbio do euro a cada dia e algumas sugestões de programas culturais por perto, inclusive a próxima partida do Barça no campeonato espanhol: tudo sem eu precisar pedir ou clicar em nada. Usei também o Google Goggles, para leitura de rótulos de cervejas locais, aprendendo mais sobre a história de cada uma. E no museu de Dalí, em Figueres, o Goggles serviu como um guia interativo, identificando por reconhecimento de imagem os quadros que eu fotografava e me passando informações que complementavam aquelas disponibilizadas pelo museu.

Na sexta-feira após o evento, planejei uma viagem a La Molina, uma estação de esqui a duas horas e meia de trem de Barcelona. Na Google Play, encontrei o app da Renfe, companhia de trens da Espanha, e pesquisei os preços e horários da viagem. Baixei também o app da própria estação, sabendo de antemão que pistas estavam abertas, as condições climáticas do local e como estava o movimento em cada pista, através de webcams ao vivo. O Rdio, serviço de streaming de música que assino, forneceu a trilha sonora em boa parte da minha viagem de trem, embora a rede de dados no interior da Espanha tenha oscilado bastante, interrompendo o streaming às vezes, cabe dizer.

A organização da viagem em si fiz toda através do TripCase, app inteligente que agrega todos os dados sobre as reservas de voos e de hotéis, eliminando aquele monte de papel impresso. Só senti falta de apps de táxi em Barcelona. As duas opções mais populares na cidade, chamadas MyTaxi e Hailo, só permitiam o download para quem estivesse cadastrado na Google Play espanhola. Ou seja: se esqueceram dos turistas. Fica a dica para os apps de táxi brasileiros não cometerem o mesmo equívoco, ainda mais agora em ano de Copa do Mundo…

É importante fazer, todavia, três ressalvas. A primeira: as taxas de roaming ainda são relativamente caras, embora venham caindo, especialmente depois que as teles começaram a adotar preços fixos por dia de uso, com dados ilimitados. É fundamental pesquisar as condições oferecidas por sua operadora antes de ligar seu smartphone no exterior. A segunda: uma bateria extra é essencial para o viajante conectado. Os smartphones de hoje não aguentam um dia inteiro de uso. Se você depender deles para sua locomoção, garanta uma bateria extra na mochila ou leve o velho mapa impresso como plano B. E por fim: não troque a experiência de tudo o que está à sua volta pela tela do celular. Se for para passar a viagem inteira com os olhos vidrados nesse teletransporte chamado smartphone, checando emails, Facebook, WhatsApp e afins, poderia fazê-lo de qualquer lugar do mundo, inclusive de casa.

O jornalista agradece a gentileza da Vivo, da Claro e da Sony por terem cedido, respectivamente, dois chips e um smartphone para uso temporário durante a referida viagem.