Na última sexta-feira, 8, a primeira transação com 3DS 2.0 foi realizada no Brasil. Assim como aconteceu no passado com a mudança das tarjetas magnéticas para os chips nos cartões, essa alteração promete transformar o mercado de pagamentos, principalmente no comércio eletrônico, que passaria a ter mais segurança nas compras, uma vez que o novo padrão tem mais inputs para confirmar que a identidade do consumidor em tempo real. Mas, na prática, o que muda com a entrada do 3DS 2.0?

Mobile Time conversou com especialistas da indústria de pagamentos nos meses que antecederam a entrada do 3DS 2.0 para entender como está a segurança na indústria financeira; qual a diferença para o 3DS 1.0 e por que  ele não engrenou; o que muda para o consumidor final com o novo padrão; e se o setor está pronto para aderir a essa solução, além de outras que estão vindo, como o NFC em cartões.

Thaís Fishberg, gerente geral da Worldline na América Latina, explicou ao Mobile Time que a primeira versão do 3DS não foi bem-sucedida e não saiu dos campos de testes porque nenhum dos envolvidos na cadeia (bancos, bandeiras, emissores, adquirentes, comerciantes e consumidores) o adotou. Um dos motivos era o forte abandono dos consumidores dos carrinhos na hora de concretizar a compra, uma vez que o padrão tinha diversas barreiras. Agora, a especialista ressalta que o 3DS 2.0 vem com características diferentes, em especial com menos barreiras para o consumidor

Para Jean Christian Mies, vice-presidente da Adyen na América Latina, o 3DS 2.0 é uma otimização da primeira versão em prol da demanda dos consumidores e das empresas por mais segurança e facilidade em transações eletrônicas principalmente no mobile. Como uma das primeiras empresas a aderir ao novo padrão junto com a Mastercard, a Adyen adotou a solução em outubro de 2018 por meio de um kit de desenvolvedor.

“As bandeiras viram a necessidade de otimizar esse fluxo por causa do aumento de transações online, que pedem mais segurança para o lojista e o consumidor. Ele otimiza o fluxo tradicional do 3DS. Cada lojista coleta as informações adicionais do comprador. São mais de 100 informações, como o endereço, dados sobre o meio de pagamento e dispositivo”, afirmou Mies. “O emissor recebe essas informações e tem uma base de segurança para confirmar que o comprador é real. Se o banco ou emissor tiver dúvidas, pode pedir uma autenticação adicional (de dois fatores) via biometria ou sms. Ela só é pedida se tiver dúvida. A Mastercard estima que 90% serão apenas no passivo, e 10% no adicional (dois fatores)”.

Por sua vez, o diretor executivo de produtos da Visa, Alessandro Rabelo, lembra que o X da questão em transações é a usabilidade no 3DS 2.0. Como um dos responsáveis pela implementação e pela primeira transação ao lado de Caixa, Cybersource e Peixe Urbano, o executivo da bandeira de cartões acredita que até o final do ano os principais players da cadeia de pagamentos no Brasil devem adotar o padrão.

Rival da Visa, mas parceiro na iniciativa pela adoção do 3DS 2.0, Miltonleise Filho, vice-presidente sênior da Mastercard Brasil, frisou durante encontro recente com Mobile Time que a entrada do novo padrão “é gradativa”, mas possui parceria com Adyen e também com Cielo. Além disso, conversa com outras empresas para adotarem o padrão.

Débito x Crédito

Ainda não está claro se o 3DS 2.0 será adotado para compras a crédito ou de débito. Para Mies, da Adyen,o foco inicial é apenas nas compras em crédito, com poucos avanços nas compras eletrônicas em débito.

“No meu entendimento o 3DS 2.0 é para transações para cartão de crédito. O cartão de débito é feito em autenticação, como acontece hoje. O comportamento é diferente. Por exemplo, o consumidor usa dois dias no débito e 30 dias no crédito, e ainda existe a possibilidade de fraude”, explicou o VP do gateway focado em transações O2O. “É natural que as bandeiras tenham uma certa preocupação com o roll-out do débito. Tem clientes que viram essa oportunidade, como a Uber. O potencial do débito é enorme. Mas é totalmente natural que emissores e bandeiras tenham cautela”.

Fischberg, da Worldline, destaca a importância das compras em débito. Com parceria recente com o Spotify e emissores para aceitar pagamento em débito eletrônico, a executiva ressalta que o débito é importante para uma grande parcela do e-commerce diminuir as fricções nos pagamentos e atrair mais consumidores. Citando como exemplo o caso do Spotify, ela recorda que o serviço de streaming teve que negociar o pagamento banco a banco, algo que não seria necessário com o novo padrão: “O 3DS 2.0 é o segundo pilar mais importante para trazer o débito ao dia a dia. Eu quero trazer o débito para todos os clientes”.

Segurança

Considerando que o 3DS 2.0 traz mais segurança para as compras, Fischberg lembra que é natural que os fraudadores também evoluam. Questionada sobre o recente caso do Deep Fake, o uso de inteligência artificial para enganar mecanismos de verificação, como aconteceu em um discurso falso de Barack Obama veiculado pelo Buzzfeed, a executiva ressalta que esse é um dos problemas que a indústria precisa endereçar, e que possibilidades de ataque como Deep Fake trazem a necessidade da indústria como um todo ficar mais atualizada e trazer mais profissionais capacitados para combater esses problemas.

Rabelo, da Visa, ressaltou que, para o atual momento, o back-office da bandeira de cartões está preparado. Para ele, a questão está mais na integração dos comércios que precisam estruturar suas operações para o novo padrão. Já Mies, da Adyen, entende que essas empresas devem adotar em breve a solução, pois o fato de trazer mais segurança ajudará a incrementar as vendas do e-commerce.

“O interesse maior dele (comerciante) é vender os produtos. É uma coisa até ambígua: você quer vender mais, mas não quer tomar prejuízo. Conveniência e simplicidade na compra é o que as empresas mais buscam. O objetivo é gerar uma compra sem o usuário sequer tirar o celular do bolso”, comenta o VP da Adyen.