O mercado brasileiro de Internet das Coisas (IoT) começa a se movimentar mais em torno dos municípios. Através deles e de seus gestores, as companhias começam a apresentar soluções conectadas, sendo que a iluminação pública é vista como destaque para o segmento crescer no Brasil.

“Quando afirmamos que a iluminação pública é a plataforma de cidades inteligentes, nós não estamos exagerando. Basta olhar o caso de Barcelona”, disse Victor Antunes, CEO da Spin, uma empresa especializada no desenvolvimento de Parcerias Públicos Privadas (PPPs).

PPPs para que te quero

As PPPs são vistas como a forma ideal de financiamento da iluminação pública. Will Gibson, CCO e fundador da Telensa, deu como exemplo projetos feitos no Reino Unido em um formato bem similar, as PFIs (Private Finance Initiative ou “Iniciativa de Financiamento Privado” na tradução para o português). Gibson relatou que 1/5 das cidades britânicas passaram pelas PFIs, e, essas regiões já reduziram em 10% os gastos com eletricidade.

“Existem muitos desafios à frente, como os custos de implementação”, disse o executivo inglês para a plateia repleta de gestores públicos. “Mas agora vocês têm a PPP. É um bom começo investir em iluminação pública com PPP, principalmente em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo”.

“A PPP de iluminação pública é a melhor integração que existe entre smart cities e PPPs. Ela permite usar a rede de iluminação pública do município. E tem uma contribuição significante, a Cosip”, completou André Oliveira, gerente executivo da Caixa Econômica Federal, se referindo à Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública.

Oliveira, Antunes e Gibson participaram de palestra no congresso Smart City Business América, em São Paulo, nesta segunda-feira, 16.

Exemplo dos pequenos

Embora pareça uma solução interessante para grandes cidades, como São Paulo, que está com seu modelo de iluminação pública definido, é importante olhar para cidades que não estão nos grandes centros brasileiros. A primeira delas a começar seu projeto de iluminação pública inteligente é Juazeiro do Norte, cidade a 495 km de Fortaleza.

A cidade da região do Cariri começou a desenvolver o projeto em iluminação pública no final de 2017. No entanto, Antunes, da Spin, explicou que o projeto é multisserviços. Desse modo, o serviço de iluminação torna-se um “hub” para adicionar outras soluções, como câmeras, app de turismo, Wi-Fi público e semáforos inteligentes.

No momento, o projeto passará por audiência pública, consulta pública e a abertura de licitação deverá acontecer até julho deste ano. Em outubro, é aguardada a assinatura do contrato, para, em dezembro começarem as instalações. De acordo com o secretário de desenvolvimento econômico e inovação de Juazeiro do Norte, Michel Alves, a ideia é que “até 2020 o sistema multisserviços esteja funcionando na maior parte da cidade”.

‘Financio, mas quero qualidade’

Apesar de tudo aparentar simples e eficiente, André Oliveira, gerente da Caixa e coordenador do grupo de trabalho de PPPs, lembrou que as administrações municipais pecam por apresentarem projetos de baixa qualidade. Ele recordou que, mesmo com o dinheiro disponível através de fundos da Caixa (serão R$ 180 milhões no segundo semestre por meio do Fundo de Estruturação de Projeto) e do Banco Mundial, os governos locais falham, pois falta pessoal especializado para definir detalhes técnicos, econômicos e jurídicos dos projetos, que acabam sendo recusados.

“Para a PPP dar certo, é preciso comprometimento do município e de seu governante.  Os últimos dados demonstram que menos de 10% das PPPs chegam realmente a contratos”, disse Oliveira. A Caixa não fará projetos. Ela dará o caminho. Vai indicar parceiros para os municípios, pessoas que podem ajudar a desenvolver as PPPs.”

Em conversa com Mobile Time, Oliveira relatou ainda que 300 municípios já procuraram a Caixa para conseguir financiamento. Ao todo, mais de 1 mil projetos que são abarcados pelo FEP foram apresentados ao banco estatal, sendo a maioria de iluminação pública. O fundo abrange ainda saneamento básico, resíduos sólidos (lixo e aterro) e mobilidade urbana.